18 de novembro de 2010
OS “MISERÁVEIS” E O AUTOMÓVEL
12 de outubro de 2010
Onda fascista que assola o mundo
**************************************************
“Não somos cidadãos da Israel fascista”
[texto integral]:
Tradução dos textos: Vila Vudu
11 de setembro de 2010
Imperialismo
26 de agosto de 2010
“COM PEDAÇOS DE PAU E PEDRAS”

O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad disse em discurso na inauguração da usina nuclear de Bushehr, em presença de autoridades russas e de seu país (a usina tem tecnologia russa e se destina à produção de energia) que a defesa da revolução islâmica no caso de um ataque norte-americano ou por parte de Israel, que “nossas opções não terão limites, envolverão todo o planeta”.
Documentos liberados pelo site WikiLeaks e criados pela unidade especial da CIA – CENTRAL INTELIGENCY AGENCY – apontam casos em que cidadãos norte-americanos financiaram atividades terroristas. [1]
Em documentos anteriores o mesmo site, perto de noventa e dois mil documentos sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, mostra que o governo dos Estados Unidos exporta terrorismo na forma de seqüestros, assassinatos seletivos, prisões indiscriminadas em qualquer parte do mundo, práticas acentuadas no governo de George Bush como reação ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center.
Uma das grandes dificuldades do atual presidente dos EUA Barack Obama é desmontar esse aparato repressivo, bárbaro, que, no todo, acaba se vendo presa fácil de quadrilhas de grande porte no tráfico de drogas, de mulheres e agora tráfico de petróleo a partir do México.
As políticas de terceirização de atividades de inteligência e militares postas em curso por Bush geraram distorções de tal ordem que nem a Casa Branca sabe mais a real extensão de todo o conjunto de insensatez do governo anterior.
Essas dificuldades se apresentam visíveis na reação de republicanos comandados agora pelo senador John McCain, derrotado nas eleições presidenciais por Obama e deixam claros os novos contornos do que era uma nação e hoje é um conglomerado de interesses privados de bancos, corporações do petróleo, das armas, com tentáculos capazes de paralisar o Estado e transformar a maior nação do mundo numa grande empresa voltada para o terrorismo.
Obama até agora não conseguiu entrar no salão oval.
A guerra global é uma realidade e pode ser entendida na afirmação feita por Hans Blinx, mês passado, sobre as advertências feitas a Bush que não existiam provas da presença de armas químicas e biológicas no Iraque. Blinx fala que os norte-americanos estavam “em estado de embriaguez pelo poder do arsenal que dispunham”. E continuam a dispor. Blinx foi um dos inspetores da ONU no Iraque à época que precedeu a invasão daquele país pelos EUA, à revelia do Conselho de Segurança da ONU.
Só que agora boa parte do que se convencionou chamar de forças armadas é controlada por empresas privadas e muitas ações pertinentes àquelas forças, são executadas por essas empresas. Generais norte-americanos são fachadas para executivos de companhias que tanto operam contra os Talibãs no Afeganistão, como traficam drogas, mulheres, armas, petróleo, lavam dinheiro, toda a sorte de operações criminosas de grande porte e possíveis.
A união de todas as máfias sonhada e desejada por cada chefe mafioso na história dessas organizações criminosas. Chegaram ao topo. Vendem democracia, drogas, mulheres, lavam dinheiro e têm milhares de ogivas nucleares capazes de destruir o planeta pelo menos cem vezes.
A vala com corpos de cidadãos latino-americanos que foi encontrada no México exibe o estado de caos que permeia aquele país. Ou “ex-país”. Colônia dos EUA desde a assinatura do NAFTA (tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México).
Uma das conseqüências ou exigências para que o conglomerado terrorista formado pelos EUA e por Israel opere é a presença de governantes dóceis e isso se consegue com corrupção. Foi o caso de FHC no Brasil, Menem na Argentina, Uribe na Colômbia e é agora com Calderón no México. Para citar apenas latino-americanos.
O chamado mundo institucional é a face visível em cor laranja dos operadores do terrorismo de estado.
No Brasil trabalham a partir do PSDB, DEM, PPS, mídia privada (GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, RBS, VEJA, ÉPOCA, etc) e corporações de banqueiros, empresas nacionais e multinacionais e latifúndio. Se abrigam simbólica e realmente na sigla FIESP/DASLU.
O golpe militar em Honduras e a farsa democrática montada com o governo terrorista de Pepe Lobo (mais um jornalista foi assassinado hoje, quinta-feira, dia 26 de agosto, o nono neste ano), não difere de ações na Colômbia a partir do governo central, ou no México, tanto quanto o massacre de palestinos por Israel e as guerras do Iraque e do Afeganistão.
Despejam seus dejetos em containers democráticos no mar da Somália, ou em navios que enviam ao Brasil.
São perto de quinhentas bases militares dos EUA em todo o mundo e uma série de operações em todo o planeta para manter intato o poder dos grupos que controlam a mega empresa EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
Ahmadinejad não disse nada diferente do que acontece na prática, disfarçada de democracia cristã e ocidental. Quis apenas mostrar que seu país está pronto para reagir a esse terrorismo e tem condições militares de fazê-lo.
O Irã detém a terceira maior reserva de petróleo do mundo. Ao transformar-se numa potência coloca em risco os “negócios” das grandes corporações que detêm o controle acionário de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
São assassinatos de civis no México, na Colômbia, em Honduras, no Iraque, no Afeganistão, ou de líderes de movimentos de resistência por agentes de Israel com documentos oficiais, mas nomes falsos, de países controlados pelos EUA (Grã Bretanha, Itália e Alemanha) e tudo isso mostrado ao mundo em forma de torta de maçã com canela pela mídia privada e corrompida.
Ou como disse a um grupo de professores e alunos de uma universidade paulista em visita à redação do JORNAL NACIONAL, o apresentador do dito cujo, sobre determinada notícia. “Esta não, pois contraria os nossos amigos americanos”.
Um dos fatos mais significativos desse estado de terrorismo oficial está no último discurso do presidente Lula ao referir-se ao diretor da FOLHA DE SÃO PAULO como alguém que queria saber se ele falava inglês. Se não fala, como vai governar o País? É que a FOLHA pensa em inglês, e empresta caminhões para que mortos por tortura sejam desovados em pontos de São Paulo. Preconceito puro, estampado em cores vivas na imbecilidade dos subordinados ávidos de poder.
O que tem uma coisa a ver com a outra? O discurso de Lula, o Irã, a guerra global?
Todos os fatos se encadeiam num projeto terrorista gerado em Washington desde o fim da guerra fria, para controle do resto do mundo, o que Fidel Castro chamou de “governo mundial”.
Quem acha que Hitler perdeu está equivocado. Por enquanto, em boa parte do mundo está ganhando e levando. Só mudou de bandeira. Tem as estrelas do Tio Sam e a de Davi.
E de nome.
Quem tiver boa memória vai se lembrar dos momentos que antecederam ao anúncio da invasão do Iraque. O terrorista George Bush apareceu em rede mundial de tevê sendo maquiado. Transformado por pós e cremes em anjo de guarda da democracia. Dias depois, quando ainda era viva a resistência iraquiana à invasão, proclamou que se necessário fosse “para evitar a destruição em massa do planeta, os EUA usarão armas atômicas no Iraque”.
Essa destruição em massa está acontecendo desde que Ronald Reagan assumiu o governo dos EUA. O papel de presidente bonzinho vivido por Jimmy Carter terminou com o próprio.
No filme DOCTOR STRANGELOVE, do extraordinário cineasta Stanley Kulbrick, um general comandante de uma base nuclear norte-americana decide por conta própria atacar a ex-URSS. Afirma que o comunismo está chegando ao seu país “pela água”.
O terrorismo norte-americano/sionista chega por bases militares (a Europa Ocidental hoje é colônia dos EUA), por golpes de estado, pela mídia privada vendendo idéias e factóides montados para transformar o ser humano em mero objeto.
Reduzir o Irã, a Venezuela, a Coréia do Norte, a Bolívia, Cuba, Nicarágua e alguns outros países a classificação de “ditaduras” é parte desse jogo de dominação, é a guerra global em curso.
Assassinar civis latino-americanos e jogá-los em covas rasas (México, Colômbia e Honduras) é apenas construir outras formas de muros para que o genocídio de palestinos se transforme em algo corriqueiro.
E palestinos restamos sendo todos nós.
Comemorar a morte de civis iraquianos com expressões como “matamos os bastardos”, quer dizer apenas que boçais fardados tomaram o petróleo do Iraque. Que os “negócios” vão continuar prosperando.
Sustentar governos de fachada como na Colômbia, no México, em Honduras, Costa Rica (“sem a polícia, sem a milícia...” A canção cantada por Milton Nascimento já não tem mais sentido, só saudades, uma base militar dos EUA já está sendo montada em San José), Afeganistão, Iraque, etc, controlar os países europeus, avançar sobre a América Latina, matar a África de fome, isso é a guerra global.
A barbárie capitalista. Tem sede em Washington e em Tel Aviv e filiais em todos os cantos do mundo.
No Brasil a mídia privada vende vinte e quatro horas por dia a idéia que Hollywood é o paraíso.
Se você conseguir pular o muro e escapar dos “grupos organizados de extermínio”.
A não ser que seu nome seja William Bonner, Boris Casoy, ou outros menores como Miriam Leitão, Lúcia Hipólito, Pedro Bial, Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, um monte. E lógico, o tal Frias da FOLHA da ditabranda.
Com sorte, consegue virar ex-BBB e escapar para as cavernas, pois a próxima guerra, a quarta, a terceira está em curso, como dizia Einstein, será travada “com pedaços de pau e pedras”.
O que Ahmadinejad disse foi apenas que seu povo resistirá. E está pronto para isso.
[1] Leia também o Ficha Corrida: VEJA quem defende o terrorismo de estado no Brasil
Usina nuclear de Bushehr: o Irã revida

A secretária de Estado Hillary Clinton disse várias vezes que, na opinião de Washington, Bushehr só poderia começar a operar, se o Irã convencesse o mundo de que não enriqueceria urânio, ou que mudasse de atitude, por efeito das sanções internacionais.
Pelo que se vê, o Irã continua a desafiar essas ‘ordens’. Alaedin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento, disse categoricamente que “as duas questões, do enriquecimento de urânio e de segurança nacional são questões interconectadas”. Em outras palavras, congelar a atividade de enriquecimento de urânio implicaria riscos à segurança nacional do Irã.
“Os russos têm dado sinais de que são confiáveis”, disse Boroujerdi. “Pode estar próxima a hora de reparar nossas relações, para os dois lados, de modo que se possam extrair melhores resultados do potencial que há para atender objetivos das duas nações.” Essas palavras implicam que poderá haver acordo de mais ampla cooperação nuclear entre russos e iranianos, à luz de vários memorandos de entendimento que Teerã e Moscou já assinaram, para outras usinas a serem construídas no Irã.
Agora, dadas as considerações políticas globais e internas na Rússia – onde o primeiro-ministro Vladimir Putin capitalizou os louros por ter apoiado a decisão de construir Bushehr, apesar da resistência do presidente Dmitry Medvedev, mais 'ocidentalizante' –, caberá ao Irã dar sinais de flexibilidade nas negociações nucleares, para diminuir a pressão, sobre a Rússia, que virá das nações ocidentais.
Políticos iranianos, entre os quais Ali Akbar Velayati, conselheiro do Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei, manifestou uma nova disposição dos iranianos para engajarem-se em negociações nucleares com Washington no contexto do Grupo de Viena – EUA, Rússia, França e a Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Authority (IAEA) – e do grupo “Irã-6” (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha).
É muito provável que esse outono seja estação frutífera para a diplomacia nuclear, se o início das operações da usina de Bushehr for o primeiro passo para acordo multilateral com vistas à troca de combustível nuclear para o pequeno reator de pesquisas em Teerã – ou, em outras palavras, dois movimentos para construir confiança e tentar esvaziar uma crise nuclear. No início do mês, Fidel Castro, muito oportunamente, alertou para o risco de a crise nuclear evoluir para guerra nuclear (ver Castro: Nuclear sage or siren, Asia Times Online, 12/8/2010, em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH12Ak01.html).
Do ponto de vista do Irã, alcançar seus dois objetivos-gêmeos – inaugurar a usina de Bushehr e pô-la a funcionar depois de 12 anos de atrasos e adiamentos; e conseguir combustível para o reator de Teerã – é sucesso absoluto, estabelece um novo marco e serve de garantia de pensamento novo, no difícil tema do diálogo com Washington.
“A decisão final nessa questão virá do Supremo Líder Aiatolá Khamenei, o qual já enviou sinais positivos por seus conselheiros, ao ocidente. Se a proposta do ocidente, sobre o diálogo, for proposta séria, o Irã está pronto para dialogar”, disse um professor de ciência política da Universidade de Teerã, conhecido por ser do círculo pessoal de relações do presidente.
Mas permanece o principal desafio que Teerã enfrenta: como alcançar seus objetivos de converter-se em potência nuclear e como sobreviver à pressão das sanções, sem ser obrigado a fazer concessões substantivas?
Afinal, a capacidade para enriquecer urânio já deu ao Irã um status de potência ‘proto-nuclear’, que atende vários dos objetivos de segurança nacional do país, e ganho do qual, portanto, dificilmente o país abrirá mão em troca de algum outro tipo de ganho –, o que não impede que se considerem opções intermediárias. Entre essas opções está a chamada ‘opção de reserva’ e uma inspeção mais rigorosa, pela IAEA, das instalações iranianas. Teerã já negou várias vezes as acusações, por governos ocidentais, de que estaria construindo armas nucleares para aumentar seu poder ofensivo.
Os EUA já disseram que não veem “risco de proliferação” em Bushehr, apesar de Israel ter declarado “inaceitável” o suprimento de urânio enriquecido para combustível do reator nuclear fornecido pelos russos. O canal Fox News citou Yossi Levy, porta-voz do ministro de Negócios Exteriores de Israel, para o qual “A comunidade internacional deve aumentar a pressão para obrigar o Irã a aceitar as decisões internacionais e suspender as atividades de enriquecimento e construção de reatores.”
Isso posto, deve-se considerar também a decisão dos russos, os quais (i) ignoraram a pressão dos EUA para que a inauguração de Bushehr fosse adiada (alegadamente, para que se pudesse analisar melhor o ambiente geoestratégico, que poderia ter consequências também para a segurança da Rússia, se o ocidente decidir manter a estratégia de enfraquecer o Irã) –, (ii) resistiram à expansão da OTAN e (iii) resistiram ao intervencionismo norte-americano.
Em outras palavras, é possível que também se devam considerar, para analisar esse quadro, (i) a razão (geopolítica) pela qual Putin desafiou e derrotou os políticos mais ‘ocidentalizantes’ em Moscou; (ii) as obrigações contratuais que os russos assumiram; e (iii) interesses puramente econômicos.
Quanto a isso, os EUA e a União Europeia (além de Israel) são responsáveis pelas dificuldades geradas pela grandiloquência, pelo radicalismo e pelo exagero de suas posições, seja pela imposição de novas sanções econômicas, que Moscou e Pequim desmoralizaram, seja pelas ameaças excessivas, superdramatizadas, contra o Irã, que criaram cenário inaceitável, do ponto de vista dos interesses de russos e chineses.
Se a situação de ‘confronto’ nuclear não tivesse sido inflada até o ponto em que está hoje, a inauguração de um reator atômico para finalidades de pesquisa e sob total supervisão da IAEA jamais seria objeto de tantos discursos sobre ‘riscos’ e ‘perigos’ e ‘efeitos colaterais’ e respectivas implicações.
Mas, porque os EUA conduziram o processo como o conduziram, a inauguração da usina de Bushehr tem hoje o efeito de torpedo que atingiu em cheio os que defenderam a aplicação de mais sanções – e, isso, apesar de a usina de Bushehr aparecer como exceção nas resoluções da ONU que aplicaram sanções ao Irã.
“A inauguração da usina de Bushehr é prova de que as ameaças que tantos rugem contra o Irã não passam de propaganda e tentativas de intimidar psicologicamente” – disse Kazem Jalali, porta-voz da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento. Mesmo assim, além do efeito psicológico, o bem evidente efeito político da inauguração de Bushehr é sinalizar ao ocidente que nem sanções nem ameaças conseguirão deter o Irã, na marcha para converter-se em potência nuclear.
O Irã exibe sua musculatura militar
Simultaneamente, ante tantas ameaças de ataque externo às suas instalações nucleares, o Irã, nos últimos meses, tem cuidado de exibir melhor musculatura militar: já apresentou um avião-robô, que o presidente Mahmoud Ahmadinejad chamou de “embaixador da morte, contra os inimigos do Irã”. A expressão causou (outra vez!) excessivo ‘escândalo’ no ocidente: avião-robô semelhante ao iraniano, mas norte-americano, chama-se “Predador”, nome que jamais escandalizou alguém.
É a terceira geração de mísseis fabricados no Irã, parte do projeto estratégico de defesa do país, de preparar-se para uma “guerra de mísseis” contra alvos duros e “soft” em toda a região do Golfo Persa – e além –, no caso de o país ser atacado. O programa inclui produção em massa de minissubmarinos, barcos equipados com torpedos e mísseis, além de um míssil terra-terra, o Qiam 1. Esse míssil é descrito pelos militares iranianos como “de alta velocidade, invisível ao radar” e pode ser “lançado de vários tipos de plataformas”.
Sempre insistindo em que o Irã investe em melhorar sua capacidade militar para fins exclusivamente defensivos, Teerã tenta, ao mesmo tempo, abrir caminho para o mercado global exportador de armamentos. Semana passada, o ministro da Defesa do Irã Ahmad Vahidi anunciou que o Irã já pode exportar armamentos para cerca de 50 países.
Apresentando as novas armas como prova de que o Irã está cada vez mais “autoconfiante” e cada dia “mais acredita em si mesmo”, altos oficiais do exército têm chamado atenção para o quadro regional, que explica a atual orientação, no Irã, para preparar-se para o que se conhece como “guerra assimétrica”.
Essa estratégia exige, dentre outras coisas, veículos táticos de alta mobilidade; produção em massa de mísseis; capacidades para operar minas; além do que se chama “estratégia de contenção expandida” que visa a “expandir o teatro do conflito” – o que significa atingir os interesses do atacante, no Oriente Médio e em todo o planeta. Khamenei disse recentemente que “se o Irã for atacado, o contra-ataque não será só regional e alcançará cenário muito mais amplo”.
Não há como negar, no Irã, que o país tem grandes setores militares ainda extremamente vulneráveis, sobretudo nos sistemas de defesa antiaérea – motivo pelo qual o Irã espera ansiosamente que a Rússia entregue o sistema de defesa S-300, já comprado e pago, cuja entrega Moscou tem adiado por razões políticas, dentre outras, inclusive por pressão da Arábia Saudita. (...)
Seja como for, a verdade é que nem todos estão satisfeitos com a atenção que o Irã dá à própria postura exclusivamente defensiva. Nas comemorações do Dia da Indústria Militar Iraniana, Ahmadinejad disse que “o Irã jamais iniciará um ataque”. É ideia que talvez ajude a aplacar as angústias de alguns vizinhos árabes no Golfo Persa, mas, ao mesmo tempo, rouba do Irã as vantagens do “ataque preventivo”, tão essencialmente crucial na estratégia militar dos poderes ocidentais – EUA, França e Israel, com certeza.
Em outras palavras, há um fosso disfuncional entre os interesses da segurança nacional do Irã e, do outro lado, uma doutrina militar unidimensional, puramente defensiva, que se autolimita, ao excluir categoricamente a possibilidade de ataque preventivo. É fosso perigoso, que pode paralisar os esforços de contraterrorismo, sobretudo no que tenham a ver com as operações nas regiões fronteiriças, com Paquistão e Iraque.
Vários analistas da política iraniana disseram a esse autor que o Irã entra perigosamente fragilizado, na cada vez mais clara corrida armamentista na região, e não deveria atuar “unidimensionalmente” (o que está fazendo hoje, ao declarar-se “exército de defesa” e rejeitar por princípio o “ataque preventivo”). O “ataque preventivo” é instrumento que o Irã deveria manter acessível, no caso de haver informação sobre ameaça real de ataque ao país. A linha que separa “defesa” e “ataque” pode ter sido traçada com excessiva precisão (movimento que pode ter sido resultado da pressão do ocidente) – em detrimento dos interesses da segurança nacional do Irã.
17 de agosto de 2010
Harakiri?

A Comissão Turkel, em Israel (sobre os eventos da Flotilha da Paz)
14/08/2010, Uri Avnery, Gush Shalom [Bloco da Paz], Israel
Traduzido pelo Coletivo de tradutores Vila Vudu para a Rede Castorphoto
Se Deus assim o desejar, vassoura vira espingarda – foi o que escrevi logo depois de constituída a Comissão Turkel[1][1]. Citava um dito popular judeu, na esperança de que, contra todas as possibilidades, alguma coisa resultasse do trabalho daquela comissão.
A verdade é que a Comissão Turkel foi concebida em pecado. Nenhum dos indicados para constituí-la tinha qualquer interesse em descobrir coisa alguma. O seu único interesse era impedir que se instalasse uma comissão internacional de inquérito ou uma Comissão de Inquérito Oficial do Estado de Israel, para investigar o ataque à Flotilha da Paz e o bloqueio de Gaza. Os "termos de referência" foram impostos à Comissão e são extremamente estreitos. Na versão inicial, a Comissão tinha poderes para convidar, mas não tinha poderes para exigir que as testemunhas convidadas se apresentassem.
Em resumo: uma comissão de investigação constituída para não investigar, vassoura feita para não varrer.
Mas sempre esperei que os membros da comissão não aceitassem tão facilmente dançar pela música do governo Netanyahu. Ainda é cedo para saber, mas parece que a Comissão não rebentará as cadeias que a prendem.
Essa semana, depois dos depoimentos das três testemunhas principais – Binyamin Netanyahu, Ehud Barak e Gabi Ashkenazi – pode-se tirar uma primeira conclusão: a comissão não se deixou limitar pelos termos de referência que lhe foram impostos. Os termos de referência foram ignorados. A comissão praticamente não fez qualquer ligação entre os fatos que lhe cabe investigar e a legislação internacional. Quanto ao resto, houve de tudo.
Não foi difícil, porque as três testemunhas encarregaram-se de ignorar completamente os termos de referência que elas mesmas inventaram. Os três se dedicaram empenhadamente, apenas, a demonstrar que cada um sempre agiu mais acertada e sabiamente que os outros. E, assim, rapidamente, todos esqueceram o objeto real que a Comissão deveria investigar.
Um fato, pelo menos, ficou firmemente estabelecido: a comissão não precisará, nunca mais, limitar-se aos termos de referência. (É possível que os termos de referência voltem a ser lembrados no final, no momento de a Comissão redigir as conclusões.)
Interessante também observar como as três testemunhas ouvidas pela Comissão Turkel foram recebidas pela mídia: praticamente toda a imprensa israelense criticou Binyamin Netanyahu e Ehud Barak, tanto quanto glorificou Gabi Ashkenazi.
Netanyahu foi leviano e superficial até a frivolidade. Atribuiu toda a responsabilidade a Barak e não disse coisa com coisa, sequer sobre os fatos conhecidos. Afinal, estava no exterior naquele momento, e o que vocês queriam que ele soubesse? Barak fez tudo absolutamente sozinho e segundo sua pessoal avaliação de momento.
Depois de ferozmente atacado pelos jornais e televisões, Netanyahu convocou rapidamente uma conferência de imprensa e anunciou, grandiloquente, que, sim, assumia, sozinho, toda a responsabilidade por todos os acontecimentos. Barak nada fez. Ele próprio, Netanyahu, não Barak, fez tudo sozinho.
Barak foi mais esperto. Falou infindavelmente, afogou a comissão num dilúvio de detalhes e, sim, sim, assumiu plenamente toda a responsabilidade. No parágrafo final concluiu que não, não, nada teve a ver com os acontecimentos daquela noite e chutou toda a responsabilidade para os militares. O governo, disse ele, decidiu sobre a missão. Mas os militares executaram a missão. Os responsáveis pelo que possa ter saído errado, pois, são os militares. Também foi duramente criticado pelos jornais e televisões.
Gabi Azkhenazi, chefe do comando do Estado-Maior do exército apontou erros na execução da operação, todos cometidos pelos soldados mais rasos da Marinha e dos serviços de inteligência. Ao final, impressionantemente magnânimo, também assumiu a responsabilidade pelos erros dos soldados e marinheiros e espiões dos escalões mais rasos e, sim, se declarou responsável por tudo. Também fez tudo sozinho.
O depoimento de Azkhenazi foi uma obra prima. Surpreendentemente, se mostrou muito mais astuto que os dois experientes políticos. Enquanto os dois exibiram-se como enguias ensaboadas, ocupados, cada um, só com defender a própria pele, Azkhenazi fez-se de urso simpático, simples, honesto, sem sofisticações, um velho soldado, pleno de integridade, que sempre diz a verdade porque não sabe mentir.
Ashkenazi é muito mais matreiro do que parece. Sim, o depoimento foi cuidadosamente ensaiado com seus assessores e conselheiros, mas chefe matreiro sabe selecionar assessores e conselheiros matreiros.
Outra vez se comprovou que, em Israel, a imprensa e, de fato, todo o Estado, são controlados pelo Exército. Frases recebidas com risadas e desconfiança, quando ditas por Netanyahu e Barak, mereceram a mais reverente atenção, quando ditas pelo comandante do Exército. Um coro de admiradores elogiou Ashkenazi nas redes de televisão, pelo rádio e nos jornais. Que homem íntegro! Que perfeito soldado! Que comandante responsável e de alto nível! Se havia alguma diferença entre os porta-vozes do Exército, uniformizados, e os jornalistas militares, à paisana, ninguém viu.
A imagem geral que emergiu dos três principais depoimentos é bem clara: não houve qualquer preparação séria para enfrentar o 'evento' da Flotilha da Paz, por mais que todos soubessem com antecedência de meses que algum plano havia. Tudo foi improvisado, como obra de amadores, na famosa tradição da improvisação em Israel: "confie em mim" e "tudo há de dar certo".
Houve eventos anteriores em que navios de ajuda humanitária só transportavam pacifistas não-violentos. Então, todos deram por resolvido que aconteceria o mesmo com o Mavi Marmara. Ninguém deu atenção aos ativistas turcos, imbuídos de outro tipo de ideologia. Mas, afinal, quem se interessa pelo que turcos pensem?! O glorioso Mossad sequer se deu o trabalho de plantar um espião entre as centenas de pacifistas a bordo do navio.
A operação foi planejada sem qualquer atenção, sem inteligência, sem análise de alternativas, sem avaliar a possibilidade de cenários potencialmente perigosos. Fato é que ninguém precisa ser profeta, para saber que ativistas turcos, cheios de fervor religioso, poderiam estar também a bordo – e a bordo de um navio turco! –, e poderiam irritar-se muitíssimo ao ver um barco (turco e carregado de pacifistas e material de ajuda humanitária para Gaza) ser abordado em águas internacionais por soldados israelenses. Que surpresa!
Conclusão? O comandante do Exército concluiu sem hesitar: da próxima vez, o Exército usará atiradores para "conter" quem esteja no convés (ou "os atacantes", na linguagem dos comentaristas militares) e dar cobertura aos soldados que descem dos helicópteros.
Dado que Netanyahu e Barak empurraram toda a responsabilidade para os militares, e Ashkenazi reconheceu os erros de planejamento e execução, resta uma questão de ordem prática: como a Comissão Turkel conseguirá investigar alguma coisa, se a Comissão não tem poderes para convocar o pessoal militar?
Para contornar o problema, o comandante do Exército jogou dois ossos para a Comissão roer: o Advogado Geral do Exército e Giora Eyland poderão falar à Comissão. (Eyland é o general aposentado que dirigiu o inquérito interno do Exército.) Mas nem de longe é suficiente. Para cumprir sua tarefa, a Comissão teria de ouvir também o Comandante da Marinha e seus subordinados diretos. Em resposta à consulta do Bloco da Paz, a Suprema Corte já deixou caminho aberto nessa direção: se a Comissão Turkel exigir esses depoimentos, a Suprema Corte determinará que a Marinha atenda à exigência.
Nenhum dos três que já depuseram sequer se aproximou da questão principal: a própria existência do bloqueio contra Gaza.
Na fatídica reunião do "Septeto" (os principais ministros), ficou bem claro que todos crêem que o bloqueio é necessário, assim como é necessário impedir, pela força, sendo o caso, todas as tentativas de rompê-lo.
Os aspectos legais do caso talvez provoquem muita discussão. Pelo que sei, a legislação internacional não é muito explícita, nem no que tenha a ver com impor bloqueios nem no que tenha a ver com modalidades de bloqueios. A lei não está posta de forma consistente. Há espaço para várias interpretações. Não haverá, portanto resposta única, acordada e clara.
Seja como for, a questão não é legal, mas moral e política: qual o objetivo de Israel ao impor o bloqueio a Gaza?
Até agora, todas as testemunhas ouvidas repetiram o mesmo argumento ensaiado: Israel está em guerra contra a Faixa de Gaza (tenha a Faixa o estatuto legal que tiver, e mesmo que não seja Estado reconhecido), o bloqueio é necessário, para impedir a importação de material bélico. Portanto, o bloqueio seria legal e moral.
Mentiras e mais mentiras.
É muito simples controlar o movimento de cargas transportadas por mar. O que se faz nesses casos é deter o barco, inspecionar a carga, confiscar o material transportado que não esteja regular e liberar o barco para que prossiga viagem. Em todos os casos, a carga pode ser inspecionada no porto de partida.
Nada disso foi feito, no caso da Flotilha da Paz, porque toda essa conversa sobre material bélico não passa de pretexto. Israel impôs o bloqueio de Gaza pelo motivo exatamente oposto: para evitar que cheguem materiais não-bélicos, os mesmos materiais que também não chegam a Gaza pelos postos de passagem em terra: vários tipos de alimentos e remédios, matéria prima para a indústria da Faixa de Gaza, materiais de construção, peças de reposição para máquinas e carros e vários outros itens, de cadernos escolares a equipamento de purificação de água.
O pouco que torna a vida ainda possível chega à Faixa pelos túneis, com preços estratosféricos, muito acima da capacidade de compra da maioria dos habitantes.
Desde o início, o objetivo do bloqueio foi tornar impossível a vida normal na Faixa de Gaza, para levar a população ao desespero e induzi-la a levantar-se e derrubar o governo do Hamás. Esse objetivo sempre foi evidentemente apoiado pelo governo dos EUA e seus Estados-satélites no mundo árabe e talvez também, como muitos crêem, pela Autoridade Palestina em Ramallah.
Netanyahu disse, em seu depoimento, que "não há crise humanitária na Faixa de Gaza". Tudo depende de como se interpretem as palavras.
É verdade, não há gente morrendo de fome e doenças pelas ruas. Não é o gueto de Varsóvia. Mas a subnutrição cresce entre as crianças, há pobreza e miséria. O bloqueio gerou desemprego em alta escala, porque praticamente toda a produção agrícola e industrial está paralisada. Não há importação de matérias primas, nenhuma exportação de qualquer tipo, falta combustível. Os produtos de Gaza não conseguem chegar à Cisjordânia, a Israel ou à Europa, como antes. Tudo isso é verdade ainda hoje, apesar de a Flotilha da Paz ter sido parcialmente bem sucedida, porque obrigou Israel a permitir a entrada de vários itens que, antes, estavam bloqueados.
O fechamento do porto de Gaza também contribui para aumentar a crise humanitária. Há dezessete anos, Shimon Peres escreveu: “O porto de Gaza tem grande potencial de crescimento. Os produtos e cargas que partirão daqui a caminho de importadores israelenses, palestinos, jordanianos, sauditas e até iraquianos serão demonstração da revolução econômica que beneficiará toda a região.” Talvez fosse o caso de convocar Shimon Peres para depor à Comissão Turkel.
A palavra chave dos depoimentos foi "responsabilidade". Todos os ouvidos pela Comissão primeiro assumiram a "responsabilidade" e em seguida passaram-na adiante, como jogador de futebol americano que recebe a bola e imediatamente a joga para o mais longe que possa.
O que significa responsabilidade? Noutros tempos, quando um líder japonês assumia a responsabilidade por grandes fracassos, metia a espada na própria barriga; "harakiri" significa exatamente "cortar a barriga". Essas práticas bárbaras não existem no ocidente. Mas, pelo menos no Japão, e ainda em vários países ocidentais, líder responsável japor grandes fracassos sempre pode renunciar.
Em Israel, não. Não, pelo menos, nos tempos que correm. Na Israel de Netanyahu, quem anuncia que "assume a responsabilidade" passa a merecer reverência. Que coragem! Quanta nobreza! "Ele assumiu a responsabilidade!" E fica tudo por isso mesmo.
Nota de Tradução
[1] A Comissão Turkel é a comissão formada para investigar o ataque israelense à Flotilha da Paz e o bloqueio de Gaza. Leva o nome do juiz aposentado da Suprema Corte encarregado de presidi-la, Jacob Turkel. A investigação deve ser acompanhada por dois observadores internacionais: o ex-primeiro ministro da Irlanda do Norte William Trimble e pelo ex-juiz militar Ken Watkin. Foi instalada dia 17/6/2010 (mais em: Turkel Commitee).
O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Harakiri?