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2 de novembro de 2010

OS DESAFIOS DE DILMA – O BRASIL E A ORDEM MUNDIAL

Laerte Braga


As perspectivas de derrota eleitoral do Partido Democrata e por extensão do governo do presidente Barack Obama, há dois anos das eleições presidenciais nos EUA, são uma dificuldade de monta para a presidente eleita do Brasil Dilma Roussef. Não que Obama signifique alguma coisa, mas pelo que Republicanos representam numa escala de gradação do terrorismo político, econômico e militar dos EUA.

Se antes dos oito anos de Lula éramos figurantes no contexto da chamada Nova Ordem Mundial, hoje somos protagonistas dessa ordem. E a América Latina é decisiva em todo esse processo.

Mais que nunca vale a frase do ex-presidente Richard Nixon dita em plena ditadura militar, ao buscar encontrar justificativa para as notícias de sistemáticas violações de direitos humanos pelo regime dos generais. “É uma pena, mas o Médice é um bom aliado e para onde inclinar-se o Brasil, inclina-se a América Latina”.

Quer queiramos ou não o atoleiro que George Bush meteu o seu país diz respeito ao Brasil, ao mundo inteiro. A presença de governos independentes de Washington no continente político latino-americanos é um momento histórico de afirmação, mas pode vir a ser de queda.

A economia mundial globalizada faz com que um espirro no pólo norte seja sentido em qualquer canto do mundo, que dirá no Brasil, um país com dimensões continentais e agora, com um caminho aberto para um processo de integração latino-americana numa fase aguda.

Dilma Roussef vai enfrentar de saída duas frentes de combate. Impedir que a crise econômica mundial (ainda forte e viva) afete esses anos Lula de prosperidade e segurança. Os olhos postos do grande irmão do norte sobre o Brasil e a importância, para eles, de domar essa onça que surge com um vigor impressionante.

Uma eventual vitória republicana em 2012 vai significar que à frente de uma situação de declínio a boçalidade suba de tom nos EUA.

Isso sinaliza para mais que a integração latino-americana. Ultrapassa esses limites e se estende a partes outras do mundo numa luta que se ainda não deixou claros esses contornos, é de sobrevivência das nações independentes ou que se pretendem assim.

No aspecto interno Dilma vai sofrer a feroz oposição das forças de extrema-direita (se mostraram com todas as garras nessa campanha eleitoral), aliadas incondicionais desse contexto internacional e subordinadas a interesses de nações que mais e mais vão se tornando grandes conglomerados empresariais. É o caso dos EUA.

É indiscutível que tem estatura para esse desafio, mas não é Lula e vai ter que construir seu próprio caminho, abrir sua picada em mata fechada e afirmar-se como líder desse espaço fundamental para o Brasil e imediatamente a América Latina.

Em todo o processo de destruição levado a cabo pelos EUA nos últimos anos, mesmo no período Clinton, onde a ALCA –ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – era a palavra de ordem para essa parte do mundo, se olharmos o resto do mundo, são poucos os países que conseguiram preservar-se intactos ou escapar incólumes do desvario neoliberal.

A morte de Néstor Kirchnner é outro complicador.  O futuro da Argentina, país essencial para e como o Brasil para a América Latina, é incerto.

As cunhas do neoliberalismo e da estupidez militar dos EUA já estão plantadas por aqui. Colômbia e Chile.

Os desafios das elites econômicas no Brasil, latifundiários, banqueiros e grandes empresários tem um componente complicado. São forças de natureza golpista, agarradas a privilégios, o que significa que reformas são indispensáveis para que se possa mexer na infra-estrutura política e econômica do Pais, abrindo perspectivas para uma independência completa e real, consumando o processo iniciado no governo Lula.

Dilma vai ter que enfrentar essa batalha para além dos caminhos tradicionais da política brasileira.

Vai ter que lutá-la nas ruas ampliando os canais de participação popular e alcançar através dessas forças os objetivos que os brasileiros que a elegeram sonham e desejam.

A própria configuração de sua vitória mostra isso. Perdeu as eleições em estados onde predomina o agro-negócio e onde são fortes as elites de extrema-direita. Tem a seu desfavor a mídia privada que tece loas à liberdade de expressão para garantir o controle do processo que é alienante e o domínio de poucas famílias num modelo em que curiosamente essa liberdade de expressão tem mão única.

As eleições mostraram sem disfarces essa face perversa do modelo.

São desafios que combinam políticas de fortalecimento da integração latino-americana, de ampliação dos mercados brasileiros com nações de outras partes, modelo pacientemente construído pelo governo Lula através do chanceler Celso Amorim – um dos grandes brasileiros de sua geração e da história de nossa diplomacia – com a preservação dos níveis de crescimento econômico e políticas sociais que permitam as reformas necessárias a que essa infra-estrutura perversa que ainda habita entre nós, possa se transformar de fato num governo popular.

Onde o cidadão fale, onde o povo seja o principal ator.

É como matar uma onça por dia. Os adversários são fortes, já mostraram não ter escrúpulos e deixaram claros os seus interesses e objetivos.

De saída a política externa traz desafios que têm largos reflexos na política, na economia e no social. Enfrentar a ação golpista dos EUA via Colômbia e Chile contra Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Paraguai e o esforço que farão para recuperar a Argentina.

Não aceitar as imposições quanto ao Irã, opor-se às políticas terroristas no Afeganistão, no Iraque e na Palestina, ampliar a integração com países de língua portuguesa e buscar formas de relacionamento com países da Comunidade Européia (uma espécie de protetorado dos EUA) que impliquem em equilíbrio político e econômico sem concessões que não resultem de consenso que possam beneficiar a ambos.

Se os governos da maioria dos países da Europa subordinam-se aos EUA, os povos das nações européias começam a perceber a armadilha travestida para além da economia, seja em cerco militar, ou em reformas neoliberais.

Ampliar as relações com a Rússia, estabelecer premissas novas para com a China, enfim, afirmar-se como potência mundial que, a permanecerem os números, em breve terá ultrapassado Itália, França e estará nos calcanhares de um semi falido Reino Unido.

A vitória de Dilma tem esse sentido, esse significado. E a certa altura com certeza irá passar por um momento de união nacional das forças progressistas em torno dessas questões básicas (vai ser necessária a maturidade dessas forças), sob pena de nada do que foi conquistado valer.

Nossos adversários internos e externos jogam o jogo em estreito acordo e com objetivos bem claros.

Dilma não vai encontrar e nem pode pensar em tratar o governo como um clube de inimigos e amigos cordiais. É só olhar as dificuldades enfrentadas por Lula e perceber que a dimensão de estadista do atual presidente se deveu, entre erros e acertos, à coragem de resistir.

E uma resistência que o Brasil excluído percebeu com clareza tal que elegeu Dilma.

Se os primeiros passos foram dados, os próximos serão em terreno bem mais pantanoso, pois os inimigos do Brasil sabem que um descuido e vamos ao chão.

Abraçar os movimentos populares, reciclar o caráter corporativo de boa parte do movimento sindical, evitar aparelhamentos pelegos, abrir as portas do processo à participação popular.

Trazer ao debate temas como o monopólio da informação (decisivo) e não se deixar encantar pelo canto do jogo institucional montado sobre estruturas que atendem apenas aos interesses dos donos.

Aprofundar a reforma agrária é de tal ordem importante, diz respeito à própria soberania nacional em vários campos. 

Se Dilma tem dimensão para isso? Claro que tem, vai ter que mostrá-la em cada dia de seu governo.

Existem momentos que enfrentar desafios se torna questão de sobrevivência. Esse é um deles. O nível da campanha eleitoral mostrou que é assim. 

30 de setembro de 2010

A TENTATIVA DE GOLPE NO EQUADOR – OU O GOLPE?

Laerte Braga


Polícias com características de militar têm tendência ao autoritarismo, à prepotência, a se imaginarem acima do bem e do mal e acumulam privilégios em relação a outras categorias. No caso do Brasil são escandalosos em relação, por exemplo, à Polícia Civil. Falo dos privilégios.

É um dos motivos dos altos índices de criminalidade. É só olhar o número de atos ilícitos cometidos por policiais militares. A média de expulsão de PMs no Rio de Janeiro é de um por dia. Via de regra ligados ao tráfico.

Todos os servidores públicos do estado de Minas Gerais, o tal do “choque de gestão” Aécio/Anastasia, recebem seus vencimentos no quinto dia útil do mês seguinte. Todos? Não. Policiais militares recebem no último dia útil do mês. É uma pálida amostra de vantagens em relação a todos os outros servidores públicos.

É um quadro que se repete de forma pouco diferenciada em todos os estados brasileiros.

A proposta de unificação das polícias e de acentuar o caráter civil da instituição foi barrada no Congresso Nacional Constituinte com um lobby dos mais impressionantes e caros dentre todos que atuaram à época.

O ex-governador do Pará, Almir Gabriel, quando senador, tinha entre seus assessores policiais militares que mais tarde participaram do massacre de camponeses em Eldorado do Carajás. Aquele que FHC, era o presidente, negou às 17 horas e aceitou correndo às 19 horas, quando soube da condenação expressa por vários governos e instituições européias.

Uma das decisões mais amargas para policiais militares no Brasil foi durante a ditadura militar. O comando dessas corporações seria de um oficial do Exército. À exceção de Minas, a fidelidade era canina, todas as outras PMs do País eram comandadas por militares do exército.

É que na revolução de 1930 e ao longo de todo o processo político até 1964, as polícias militares eram o “exército” dos coronéis/governadores. Foram decisivas no movimento de 30.

A partir de 1964 foram transformadas em pitt bulls prontas a devorarem qualquer manifestação pública contra os de cima. Seja de camponeses, seja de professores paulistas contra as mentiras de Arruda Serra.

A insubordinação de policiais no Equador, a tentativa de seqüestro do presidente Rafael Corrêa não decorre só dos desvios de função do que conhecemos como polícia. Vai mais além.

Militares equatorianos e policiais daquele país foram cúmplices por omissão no bombardeio realizado pela força aérea colombiana contra um acampamento de estudantes que participavam de um congresso latino-americano e onde se encontrava Raúl Reyes, então chanceler das FARCs. Foi em 2008.

São outros quinhentos.

Militares em sua imensa e esmagadora maioria têm ou trazem em si o gene do golpe de estado. A convicção que patriotismo é tomar o poder, arrebentar com os que se lhes opõem, mesmo que isso signifique tortura, morte, toda a sorte de barbaridades. No Brasil chamaram isso de “democracia” e houve um coronel que quis convencer o jurista Sobral Pinto que era “democracia a brasileira”.

Não entendeu nada quando Sobral respondeu que “democracia não é igual a peru, não existe a brasileira, a francesa, ou é democracia, ou não é”.

A situação no Equador ainda está sem controle. A despeito das forças armadas através de seu comandante manifestarem publicamente respeito ao presidente eleito do país, nenhuma atitude concreta foi tomada – até agora quando escrevo – para colocar fim à tentativa de seqüestro de Corrêa, à insubordinação de policiais e a repressão contra civis que se juntam em número cada vez maior para tentar resgatar o presidente no hospital onde foi socorrido depois da agressão sofrida e pratica por golpistas.

A condenação à tentativa de golpe veio até do presidente golpista de Honduras (farsante é um negócio complicado). Do governo espanhol. Dos países integrantes da OEA – Organização dos Estados Americanos -. Vacilante, tíbia, mas pública do governo norte-americano (Corrêa não permitiu que mantivessem a base de Manta em seu país).

Elites econômicas no mundo inteiro estão atemorizadas com a crise do capitalismo que se mostra maior e mais devastadora do que se podia imaginar. Na América Latina, onde ainda procedem como na Idade Média, os ventos dos furacões que destroem a economia norte-americana (mas sustentam a máquina de guerra e terrorismo), assustam empresários, latifundiários e banqueiros controlados por Wall Street.

São sinais para a mídia privada mentir descaradamente ao sabor das conveniências de quem paga.

O Banco Central dos EUA, que é uma instituição privada, anunciou hoje que “a recuperação da economia foi decepcionante nesses últimos anos”. Os anos Obama. Uma espécie de relações públicas, ou boneco negro por fora, branco por dentro, mas que não tem nem o apito para começar ou encerrar o jogo, que dirá marcar falta. Pênalti? Nem pensar.

Partícipe ou não da tentativa de golpe no Equador (foi agente direto em Honduras) os EUA se constituem hoje na maior ameaça a democracia em todo o mundo. O que Hans Blinx chama de “embriaguez com o arsenal que têm”, é tão somente a barbárie com requintes de tecnologia de ponta.

E nos dias atuais privatizada. Forças armadas privatizadas.

Esse vento de estupidez e boçalidade acaba soprando por todos os cantos. A guerra é uma necessidade intrínseca a norte-americanos e seus aliados israelenses. É da gênese da “democracia” deles o terrorismo em forma de “operação choque e pavor”. Nome da última ação militar para derrubar Saddam Hussein.

O que torna óbvio que o que acontece no Equador não é um fato isolado. Todo o caráter golpista de militares (policiais militares também) vem à tona nessa banda do mundo, ainda mais quando governos populares são eleitos e começam a trilhar caminhos de mudanças políticas, econômicas e avanços sociais.

O escravagismo dos “donos” reage como reagem os irracionais.

“Dança com famosos” não é necessariamente um quadro do Faustão, tampouco BBB é algo isolado, um simples programa de tevê. É uma opção por alienar, desinformar e vai por aí afora.

Mais ou menos “só dói quando eu mexo”.

O governo brasileiro através do chanceler Celso Amorim manifestou-se contra o golpe, pela legalidade constitucional e o respeito ao mandato, conquistado nas urnas, do presidente Rafael Corrêa.

Amorim é um dos mais brilhantes diplomatas latino-americanos em todos os tempos, sabe o que há por trás de tudo isso e os riscos que esses pequenos, aparentemente pequenos, golpes (Honduras, Equador) representam para a América Latina, o que vem por trás desse tipo de movimento, conhece a História (a FOLHA DE SÃO PAULO, por exemplo, quer apagar ou arrancar essas páginas do livro de História do Brasil) e tem consciência do papel do Brasil, do que representa o nosso País com as suas dimensões continentais e hoje, potência mundial.

É o delírio do império privatizado. E muitas vezes o cordão é rompido pelas elites, ou por esbirros das elites (caso das polícias militares), no afã tanto de manter privilégios, como de mostrar às próprias elites que há um preço a ser pago para cada massacre ou golpe em cada canto latino-americano.

Aliança com bandido dá é nisso. Instituição sem sentido, repleta de privilégios, resulta nisso. O que Corrêa fez foi cortar exatamente privilégios, inclusive o da boçalidade contra a população civil.

É necessário deter o golpe. Atinge a todos nós. 

O jornalista Jean-Guy Allard revela que é “profunda” a presença na polícia do Equador de agentes da CIA. Phillip Agee, ex-agente da agência privatizada no governo Bush, antes de deixar a função e denunciar terrorismo, corrupção e trapaças em vários países do mundo, estava servindo na embaixada dos EUA no Equador.

O artigo pode ser visto em

 
É o jeito de ser dos “libertadores” do mundo. Se antes “libertavam” do “jogo” comunista, hoje “libertam” do “jugo” terrorista. E ficam com o petróleo todo. Tomam conta para iraquianos, sauditas, aqui querem “tomar conta” do da Venezuela, do Equador e do Brasil.  

15 de agosto de 2010

Chomsky: “Os EUA são o maior terrorista do mundo”


Noam Abraham Chomsky, intelectual estadunidense, pai da linguística e polêmico ativista por suas posturas contra o intervencionismo militar dos Estados Unidos, visitou a Colômbia para ser homenageado pelas comunidades indígenas do Departamento de Cauca. Falou com exclusividade para Luis Angel Murcia, do jornal Semana.com, em 21 de Julho de 2010.

O morro El Bosque, um pedaço de vida natural ameaçado pela riqueza aurífera que se esconde em suas entranhas, desde a semana passada tem uma importância de ordem internacional. Essa reserva, localizada no centro da cidade de Cauca, muito próxima ao Maciço colombiano, é o cordão umbilical que hoje mantêm aos indígenas da região conectados com um dos intelectuais e ativistas da esquerda democrática mais prestigiados do planeta.

Noam Abraham Chomsky. Quem o conhece assegura que é o ser humano vivo cujas obras, livros ou reflexões, são as mais lidas depois da Bíblia. Sem duvida, Chomsky, com 81 anos de idade, é uma autoridade em geopolítica e Direitos Humanos.

Sua condição de cidadão estadunidense lhe dá autoridade moral para ser considerado um dos mais recalcitrantes críticos da política expansionista e militar que os EUA aplica no hemisfério. No seu país e na Europa é ouvido e lido com muito respeito, já ganhou todos os prêmios e reconhecimentos como ativista político e suas obras, tanto em linguística como em análise política, foram premiadas.

Sua passagem discreta pela Colômbia não era para proferir as laureadas palestras, mas para receber uma homenagem especial da comunidade indígena que vive no Departamento de Cauca. O morro El Bosque foi rebatizado como Carolina, que é o mesmo nome de sua esposa, a mulher que durante quase toda sua vida o acompanhou. Ela faleceu em dezembro de 2008.

Em sua agenda, coordenada pela CUT e pela Defensoria do Povo do Vale, o Senhor Chomsky dedicou alguns minutos para responder exclusivamente a Semana.com e conversar sobre tudo.

Quê significado tem para o senhor esta homenagem?

Estou muito emocionado; principalmente por ver que pessoas pobres que não possuem riquezas se prestem a fazer esse tipo de elogios, enquanto que pessoas mais ricas não dão atenção para esse tipo de coisa.

Seus três filhos sabem da homenagem?

Todos sabem disso e de El Bosque. Uma filha que trabalha na Colômbia contra as companhias internacionais de mineração também está sabendo.

Nesta etapa da sua vida o que o apaixona mais: a linguística ou seu ativismo político?

Tenho estado completamente esquizofrênico desde que eu era jovem e continuo assim. É por isso que temos dois hemisférios no cérebro.

Por conta desse ativismo teve problemas com alguns governos, um deles e o mais recente foi com Israel, que o impediu de entrar nas terras da palestina para dar uma palestra.

É verdade, não pude viajar, apesar de ter sido convidado por uma universidade palestina, mas me deparei com um bloqueio em toda a fronteira. Se a palestra fosse para Israel, teriam me deixado passar.

Essa censura tem a ver com um de seus livros intitulado ‘Guerra ou Paz no Oriente Médio?

É por causa dos meus 60 anos de trabalho pela paz entre Israel e a Palestina. Na verdade, eu vivi em Israel.

Como qualifica o que se passa no Oriente Médio?

Desde 1967, o território palestino foi ocupado e isso fez da Faixa de Gaza a maior prisão ao ar livre do mundo, onde a única coisa que resta a fazer é morrer.

Chegou a se iludir com as novas posturas do presidente Barack Obama?

Eu já tinha escrito que é muito semelhante a George Bush. Ele fez mais do que esperávamos em termos de expansionismo militar. A única coisa que mudou com Obama foi a retórica.

Quando Obama foi galardoado com o prêmio Nobel de Paz, o quê o senhor pensou?

Meia hora após a nomeação, a imprensa norueguesa me perguntou o que eu pensava do assunto e respondi: “Levando em conta o seu recorde, este não foi a pior nomeação”. O Nobel da Paz é uma piada.

Os EUA continuam a repetir seus erros de intervencionismo?

Eles tem tido muito êxito. Por exemplo, a Colômbia tem o pior histórico de violação dos Direitos Humanos desde o intervencionismo militar dos EUA.

Qual é a sua opinião sobre o conceito de guerra preventiva que os Estados Unidos apregoam?

Não existe esse conceito, é simplesmente uma forma de agressão. A guerra no Iraque foi tão agressiva e terrível que se assemelha ao que os nazistas fizeram. Se aplicarmos essa mesma regra, Bush, Blair e Aznar teriam de ser enforcados, mas a força é aplicada aos mais fracos.

O que acontecerá com o Irã?

Hoje existe uma grande força naval e aérea ameaçando o Irã e, somente a Europa e os EUA pensam que isso está certo. O resto do mundo acredita que o Irã tem o direito de enriquecer urânio. No Oriente Médio três países (Israel, Paquistão e Índia) desenvolveram armas nucleares com a ajuda dos EUA e não assinaram nenhum tratado.

O senhor acredita na guerra contra o terrorismo?

Os EUA são os maiores terroristas do mundo. Não consigo pensar em qualquer país que tenha feito mais mal do que eles. Para os EUA, terrorismo é o que você faz contra nós e não o que nós fazemos a você.

Há alguma guerra justa dos Estados Unidos?

A participação na Segunda Guerra Mundial foi legítima, entretanto eles entraram na guerra muito tarde.

Essa guerra por recursos naturais no Oriente Médio pode vir a se repetir na América Latina?

É diferente. O que os EUA tem feito na América Latina é, tradicionalmente, impor brutais ditaduras militares que não são contestados pelo poder da propaganda.

A América Latina é realmente importante para os Estados Unidos?

Nixon afirmou: “Se não podemos controlar a América Latina, como poderemos controlar o mundo”.

A Colômbia tem algum papel nessa geopolítica ianque?

Parte da Colômbia foi roubada por Theodore Roosevelt com o Canal do Panamá. A partir de 1990, este país tem sido o principal destinatário da ajuda militar estadunidense e, desde essa mesma data tem os maiores registros de violação dos Direitos Humanos no hemisfério. Antes o recorde pertencia a El Salvador que, curiosamente também recebia ajuda militar.

O senhor sugere que essas violações têm alguma relação com os Estados Unidos?

No mundo acadêmico, concluiu-se que existe uma correlação entre a ajuda militar dada pelos EUA e violência nos países que a recebem.

Qual é sua opinião sobre as bases militares gringas que há na Colômbia?

Não são nenhuma surpresa. Depois de El Salvador, é o único país da região disposto a permitir a sua instalação. Enquanto a Colômbia continuar fazendo o que os EUA pedir que faça, eles nunca vão derrubar o governo.

Está dizendo que os EUA derruba governos na América Latina?

Nesta década, eles apoiaram dois golpes. No fracassado golpe militar da Venezuela em 2002 e, em 2004, seqüestraram o presidente eleito do Haiti e o enviaram para a África. Mas agora é mais difícil fazê-lo porque o mundo mudou. A Colômbia é o único país latinoamericano que apoiou o golpe em Honduras.

Tem algo a dizer sobre as tensões atuais entre Colômbia, Venezuela e Equador?

A Colômbia invadiu o Equador e não conheço nenhum país que tenha apoiado isso, salvo os EUA. E sobre as relações com a Venezuela, são muito complicadas, mas espero que melhorem.

A América Latina continua sendo uma região de caudilhos?

Tem sido uma tradição muito ruim, mas, nesse sentido, a América Latina progrediu e, pela primeira vez, o cone sul do continente está a avançando rumo a uma integração para superar seus paradoxos, como, por exemplo, ser uma região muito rica, mas com uma grande pobreza.

O narcotráfico é um problema exclusivo da Colômbia?

É um problema dos Estados Unidos. Imagine que a Colômbia decida fumigar a Carolina do Norte e o Kentucky, onde se cultiva tabaco, o qual provoca mais mortes do que a cocaína.

Fonte: Agência de Notícias Nova Colômbia. Original em espanhol.
Imagem: Luis Ángel Murcia, Semana

13 de agosto de 2010

¿Dónde será la guerra?

Venezuela: La ofensiva de EU es total

Frida Modak para ALAI, América Latina en Movimiento

ALAI AMLATINA, 09/08/2010.- En las últimas semanas hemos presenciado una serie de hechos que no son lo que aparentan, sino que forman parte de los preparativos de una acción militar de gran envergadura destinada a ponerle término al gobierno constitucional de Venezuela. Como señalamos la semana pasada, Estados Unidos está aplicando su vieja estrategia del Track 1 y el Track 2, que implica derrocar a un gobierno desestabilizándolo hasta provocar su caída en términos ?constitucionales o derrocarlo por la fuerza si eso no es posible.

En Venezuela se ha estado aplicando el Track I desde que el presidente Hugo Chávez ganó las elecciones presidenciales en 1998 y al asumir la presidencia de la república en 1999 puso en práctica un programa de gobierno que no le gusta ni conviene a Estados Unidos, que ya el año 2002 logró que un grupo de militares lo secuestrara y anunciara que el mandatario había renunciado.

Mientras tanto, Chávez era llevado a un recinto militar desde el cual lo iban a sacar del país en una avioneta con registro estadunidense que, según se informó, era de propiedad del grupo venezolano Cisneros, dueño entonces de Venevisión y de Ediciones América. Cualquier parecido con lo sucedido en Honduras no es casual y en ambos casos las renuncias de los presidentes nunca existieron.

El próximo 26 de septiembre habrá elecciones parlamentarias en Venezuela y el Pentágono y el Departamento de Estado se están moviendo por toda América Latina para crear las condiciones que justifiquen un golpe de estado si la oposición venezolana vuelve a perder los comicios, así como perdió los comicios y referendos realizados los años 1998, 1999, 2000, 2004, 2005, 2006, 2008 y 2009. El único revés del gobierno venezolano, y relativo, fue el de la reforma constitucional del 2008.

Las encuestas le dan ventaja hasta ahora al gobierno del presidente Chávez para las elecciones parlamentarias de septiembre y Estados Unidos quiere revertir esa situación y, si no puede, hay todo un engranaje militar que sugiere una intervención armada, de lo que es parte lo dicho por el ya ex presidente colombiano Alvaro Uribe sobre la supuesta presencia de guerrilleros de las FARC en Venezuela.

Intervencionismo político latinoamericano

En el intento por lograr que el presidente Chávez pierda esta elección parlamentaria hay sectores políticos latinoamericanos involucrados y dinero estadunidense y europeo. Pero empecemos por la intervención política.

El 26 de junio el diario chileno El Mercurio informó que el lunes 21 de ese mes, habían llegado a ese país 16 dirigentes de la oposición venezolana que pertenecen a la llamada Mesa de Unidad Democrática, para participar en "un programa especial de trabajo", con personeros de la Concertación de Partidos para la Democracia, que gobernó Chile desde la salida de Pinochet hasta el triunfo del actual presidente, cuyo período de inició en marzo de este año.

Los opositores al gobierno venezolano buscaban que los chilenos les dieran "capacitación", por las semejanzas que según ellos habría "entre la realidad venezolana y la de Chile de fines de los años 80", cuando surgió la Concertación, que derrotó al dictador Pinochet en un plebiscito. Los "instructores" fueron altos ex-funcionarios de gobiernos de la Concertación, pertenecientes a los distintos partidos que la integran.

Estuvieron, entre otros, el democristiano Mariano Fernández, último canciller de la presidenta Bachelet y ex-embajador en Estados Unidos; el socialista Enrique Correa, ex Secretario General de Gobierno del ex-presidente Aylwin y Sergio Bitar, dirigente del Partido por la Democracia, quien fue senador, ministro de Educación en el gobierno de Ricardo Lagos y de Obras Públicas en el de Michelle Bachelet. Bitar fue también ministro de Minería del Presidente Allende.

Esto provocó críticas en sectores del partido Socialista en particular, mientras otros concertacionistas se unían a la derecha para cuestionar al presidente venezolano y sus parlamentarios se autodesignaron observadores electorales para septiembre próximo, creando un conflicto que llegó a niveles gubernamentales hasta que el presidente chileno relegó el asunto al parlamento.

El detalle es importante, porque si bien no aparece involucrado José Miguel Insulza, sí lo está su amigo y colaborador en la Secretaría General de la OEA Enrique Correa, al que generalmente designa como observador de ese organismo en las elecciones de la región. Insulza fue responzabilizado por el canciller ecuatoriano de la ruptura de relaciones entre Colombia y Venezuela, por no haber postergado, como se lo pidió, la sesión en la que Colombia formuló sus cargos.

Dinero y preparativos militares

Como es habitual en estos casos, Estados Unidos destina fuertes cantidades de dólares a financiar sus acciones intervencionistas en otros países. Contra el presidente Allende invirtieron muchos millones, como documentó el congreso estadunidense y en Venezuela están haciendo lo mismo, aunque los concertacionistas chilenos no lo quieran recordar

La Fundación Nacional para la Democracia, NED por sus siglas en inglés, fue creada por Ronald Reagan para legalizar lo que antes se hacía sólo bajo el ropaje de la Agencia Central de Inteligencia. El dinero, que se aprueba en el congreso, se reparte a través de las fundaciones republicana y demócrata, y de organismos empresariales y sindicales del país del norte a sus similares de los países a desestabilizar.

En 1999, la NED repartió en Venezuela un millón 273 mil 408 dólares, según se lee en su página de internet. Pero eso no es lo único que se ha enviado, de acuerdo a un informe del instituto FRIDE de España, también se da financiamiento por medio del Movimiento Mundial para la Democracia, creado por la NED.

A esto se agrega lo que se manda por medio de la Agencia Internacional para el Desarrollo, USAID, de Estados Unidos;la Freedom House, la Comision Europea y las fundaciones Konrad Adenauer y Friederich Ebert de Alemania, cada una ha girado alrededor de 500 mil euros anuales a los partidos venezolanos de oposición. La embajada de Estados Unidos en Venezuela usa la valija diplomática para otros envíos y todo se lavaba en el mercado paralelo, lo que determinó que el gobierno venezolano dictara una nueva legislación cambiaria.

Si todo esto que hemos descrito no conduce a una derrota electoral del gobierno del presidente Chávez en Septiembre, todo indica que el plan "B" está en marcha. A Costa Rica, el país ?"in ejército", llegarán este año 43 barcos de guerra estadunidenses artillados. En las calles de Panamá ya se encuentran militares estadunidenses uniformados incluso, lo que no se veia desde que se cerraron las bases de EU el año 2000. Dicen que van a combatir el narcotráfico a través de 15 nuevas instalaciones militares.

En Colombia son 13 las bases estadunidenses autorizadas por Uribe. En Perú se acaban de realizar ejercicios navales con participación de diez países sur y centro americanos encabezados por Estados Unidos. ¿Dónde será la guerra?

- Frida Modak, periodista, fue Secretaria de Prensa del Presidente Salvador Allende.
Imagem: Latuff

7 de março de 2010

Retomando

Ano passado, já haviamos notado que, a cada viagem realizada, deparávamos-nos com um escândalo novo naquele intervalo de tempo. Foi assim em março, maio, junho, agosto, outubro e dezembro de 2009. Yeda e cia. não "frustravam" as expectativas... Este ano, além da dita cuja, temos o assassinato do Secretário de Saúde de Porto Alegre Eliseu Santos e, no plano nacional, a realização do seminário promovido pelo Instituto Millenium.

Acrescentaria mais um, já que não lemos nada a respeito [por enquanto] nos blogues. A visita de Hilary Clinton na Faculdade Zumbi dos Palmares, numa promoção do Depto. de Estado dos EUA e a Rede Globo. Esta associação deixou-nos de cabelos em pé! Como assim? Para nós, pela primeira vez, a Globo assume que tem canal direto com o Depto. Estado, cuja inserção, nos golpes militares da América Latina, foi crucial!

E tal visita da Sra. Clinton acontece dias após ao seminário promovido pelo Instituto Millenium... Realmente, eventos de arrepiarem os cabelos...

Mas, voltando aos acontecimentos locais. As notícias chocantes sempre causaram tristeza. Estava aí uma expectativa que, para o nosso bem, melhor não fossem atendidas. Não gostamos de saber que mais sujeira jorrou pelos bueiros do RS. Constatando-se que a morte do Eliseu Santos foi latrocínio, juntando-se com o tiroteio seguido de morte em plena Redenção, escancara-se a violência explodindo por total falta de política de segurança pública, obra e graça do saudado, pelas elites locais, déficit zero da desgovernadora YRC.

Alguém já disse, certa vez, que notícias boas "não vendem jornal". Mas essa constatação de que o RS sempre fica pior a cada ausência nossa, deixa-nos uma profunda sensação de melancolia. Já foi melhor de viver nestas terras...
Atualizado às 18h27min.

7 de dezembro de 2009

NYT investe contra Evo Morales


O Viomundo publica artigo [traduzido] do New York Times [NYT] sobre as eleições na Bolívia, em que Evo Morales obteve uma vitória consagradora nas urnas nesse domingo [6 de dezembro de 2009].

Azenha, ao inserir ótimos comentários no meio do texto, auxilia na leitura de mais uma "obra" desrespeitosa, mistificadora, preconceituosa e mentirosa, muito bem acolhida pelo NYT, cultuando seu ódio de classe.

E não podemos esquecer, que este jornal divulgou a mentira das armas de destruição em massa no Iraque, bem como artigo de Larry Hoter que chamou o Presidente Lula de bêbado.


New York Times: Evo é Stalin indígena (eleição, qual eleição?)

O texto abaixo serve como exemplo da cobertura tosca, sem pé nem cabeça e cheia de preconceitos que a mídia americana faz da América Latina. Aí eles lá em Washington ficam sem entender porque a grande maioria vota em Evo Morales:

Na Bolívia, uma força pela mudança persiste

por SIMON ROMERO e ANDRES SCHIPANI, no
New York Times

Published: December 6, 2009

LA PAZ, Bolivia — Apesar dos slogans e posters de Che Guevara, não estamos em Havana, 1969 ou Manágua, 1979. Em vez disso, o fervor nos escritórios do vice-ministro de Descolonização só poderiam existir na Bolívia do presidente Evo Morales, que parece navegar para a vitória nas eleições de domingo.

Os escritos em uma parede, literalmente em dois idiomas nativos -- Quechua e Aymara -- oferecem sinais de um movimento político que chacoalhou as instituições dessa nação empobrecida.

“Jisk’a Achasiw Tuq Saykat Taqi Jach’a P’iqincha", diz a mensagem na sala de Monica Rey, que explica que se trata de Aymara para o nome do novo escritório que ela dirige, a Diretoria para a Luta contra o Racismo.

"Estamos no processo de conquistar as mentes de nosso país e, ainda mais desafiador, seus medos", diz Rey, listando uma variedade de projetos, inclusive com a troca dos retratos que aparecem na moeda da Bolívia, tirando os homens brancos que sempre governaram para colocar heróis como Túpac Katari e Bartolina Sida, líderes de um revolta contra os espanhóis no século 18.

[Nota do Viomundo: Aqui o jornal espanta os leitores americanos com referências à -- horror!!! -- troca de homens brancos por índios na moeda boliviana.]

Com uma oposição profundamente enfraquecida e sua conexão visceral com a maioria indígena -- que representa mais de 60% da população -- Morales, 50, é provavelmente o mais forte líder nacional em décadas.

Ele venceu facilmente a reforma constitucional deste ano que deu a Morales o direito de concorrer a um novo mandato de cinco anos. Agora as pesquisas mostram Evo e seus apoiadores bem adiante na eleição de domingo. Está próximo de obter sólidas maiorias legislativas que dariam a ele o poder de moldar a nação como o primeiro presidente indígena.

A votação parecia transcorrer em calma na maior parte da Bolívia domingo, de acordo com entrevistas com eleitores aqui e reportagens de rádio nos centros de votação. "Evo deve ficar para terminar o que começou", disse Juan Carlos Garcia, 24, um vendedor ambulante de El Alto, o bairro pobre que cerca La Paz, antes de votar em uma seção eleitoral na manhã de domingo. "Os que não concordam devem ceder à vontade da maioria", ele acrescentou.

O sr. Morales votou no domingo de manhã na vila 14 de setembro, uma comunidade em Chapare, nas florestas centrais da Bolívia, uma região de plantio de coca que é um bastião de apoio ao presidente. Ele disse que os eleitores tinham o direito de decidir entre "o processo de mudanças ou o neoliberalismo", o termo que ele usa para atacar as políticas econômicas de mercado.

[Índio que tem apoio onde se planta coca!!! Perigo!!!]

Mas o domínio de Morales deu a ele alguns rivais inesperados, além das faces da oposição das elites tradicionais das terras baixas do leste. A crescente influência de Evo também parece opressiva para uma coleção de líderes políticos indígenas que estão tentando emergir da sombra de Evo.

[Evo, a sombra ameaçadora!!!]

"Esse governo existe para gastar dinheiro nas campanhas de Evo às custas do resto de nós", diz Felipe Quispe, 67, um índio Aymara que entrou na política depois de liderar uma insurgência guerrilheira nos anos 80 e de ser preso nos anos 90. "Evo é um índio vestido com roupas chiques, cercado por homens brancos e mestiços".

O icônico Quispe, que lidera um grupo radical com uma pequena porcentagem de eleitores, diz que os Aymaras, que representam um quarto da população da Bolívia de 9,8 milhões, deveriam rejeitar a ideia de a Bolívia formar uma Nação com os povos que falam Aymara do planalto do Peru. "Devemos nos desbolivianizar", ele disse.

[Os autores deixam implícito que Evo Morales seria o autor da ideia de juntar os Aymara da Bolívia e do Peru!!! Índio, cocaleiro e traidor da Pátria!!!]

Ricardo Calla, um antropólogo e ministro para assuntos indígenas em um governo anterior [Ops, que "governo anterior"? O do FHC], disse que assim como o sr. Quispe estava à esquerda do presidente, líderes indígenas emergiram em todo o espectro ideológico, sugerindo uma classe política mais variada do que a apresentada pela mídia estatal daqui.

No centro, por exemplo, está Savina Cuéllar, um governadora de província do sul da Bolívia. À direita está Victor Hugo Cárdenas, um ex-vice-presidente cuja casa foi atacada por uma multidão pró-Morales este ano. Ainda mais à direita está Fernando Untoja, um intelectual Aymara que disputa o Congresso na coalizão de Manfred Reyes Villa, um ex-capitão do Exército que está bem longe de Evo Morales, em segundo lugar na disputa.

[O New York Times acaba de se desmentir. Primeiro o jornal tentou nos convencer de que Evo fazia sombra a outros líderes indígenas. Depois, apresentou líderes indígenas de todos os partidos, nenhum dos quais fantoche de Evo!!! Mas só faz isso para poder culpar a mídia estatal boliviana -- que é minoritária -- de distorcer a realidade!!! Nem Ali Kamel faria melhor]

"O Evo em si", disse o sr. Calla, o antropólogo, "poderia ser considerado de esquerda autoritária". Contribuindo para essa classificação, ele argumentou, está a resistência de Morales em cooperar com outros partidos, ameaças de prender adversários e a celebração de seu governo em publicidade paga. O sr. Calla chamou a exuberante demonstração das conquistas de Morales "um culto à personalidade" em andamento.

[Simon Romero, o Cesinha da Bolívia: o índio cocaleiro e apátrida, insuflador da rebelião indígena, é um novo Stalin!!!]

Cambio, um jornal diário controlado pelo estado como o Granma em Cuba, criado por Morales este ano, oferece um exemplo dessa fanfarra. No principal artigo deste domingo, descreveu Porto Evo Morales, uma acampamento pioneiro no norte do país. Num caderno à parte um gibi contava "Evo: Do Povo e para o Povo", mostrando a ascensão de Evo da pobreza.

[O cara tirou o Granma do arquivo!!!]

Há razões concretas para a popularidade de Morales. [Os dois parágrafos seguintes explicam tudo!!!] O maior pode ser o crescimento sustentado da economia da Bolívia, aplaudido por economistas que estão impressionados com as reservas de mais de 7 bilhões de dólares em moeda forte, apesar do país enfrentar persistentes níveis de extrema pobreza.

Apesar da crise financeira e de uma queda nos ganhos com a exportação de gás, a economia da Bolívia deve crescer até 4% este ano, uma das taxas mais altas da região, ajudada pelo estímulo dos gastos em programas sociais para crianças, muheres grávidas e os mais velhos.

"Até o FMI está feliz com a economia da Bolívia; imagine a ironia disso", afirmou Gonzalo Chávez, um economista educado em Harvard [Isso acalma o leitor americano], se referindo às duras críticas de Morales às instituições multilaterais de Washington, como o Fundo Monetário Internacional.

Ainda assim, as tensas relações diplomáticas de Washington com o sr. Morales podem ser as piores do hemisfério, com exceção de Cuba, mesmo com o novo governo Obama. A Embaixada dos Estados Unidos aqui permanece sem embaixador depois da expulsão no ano passado de Philip S. Goldberg e as operações conjuntas para combater as drogas foram suspensas quando o sr. Morales acusou a Drug Enforcement Administration de espioná-lo.

O sr. Morales passou boa parte de uma entrevista coletiva com jornalistas estrangeiros esta semana criticando o acordo militar do governo Obama com a Colômbia e o apoio dos Estados Unidos às eleições presidenciais em Honduras. E ele parecia cético quanto a uma reconciliação, dizendo que um encontro com o presidente Obama seria "desejável mas não decisivo".

[Alguém já viu um candidato elogiar os Estados Unidos em véspera de eleição???}

A marca do sr. Morales na sociedade é evidente na cidade de Warisala, onde outro experimento, a universidade indígena Túpac Katari, se descortina no planalto da Nação.

[Índio cocaleiro, apátrida e ditador, faz "experimentos"]

O campus, com sua linda vista do pico Illampu coberto de neve, enfatiza a instrução em Aymara e ecoa o sentimento do partido do sr. Morales, o Movimento pelo Socialismo. Colocada em uma porta, uma nota diz que é compulsório para integrantes da equipe acadêmica e administrativa participar de um curso sobre "O Capital", de Karl Marx; correm o risco de serem punidos se não participarem.

[Onde é que já se viu estudar? Índio cocaleiro, apátrida e ditador, quer forçar as pessoas a estudar e ainda mais em um idioma exótico!!! Pelo banimento de Marx, já!]

"O que foi trazido pelos invasores europeus e seu sistema colonial", perguntou David Quispe, 37, que dá um curso sobre a visão de mundo andina.

"A exploração capitalista e racista", um grupo de estudantes responde em coro, tendo nas mãos o livro didático "Tese Indígena", de Fausto Reinaga.

"Aqui jovem indígenas estavam acostumados a ficar em silêncio", o sr. Quispe disse depois da aula. "Agora é hora deles começarem a falar".

[Nota do Viomundo: Antes do climax desse artigo os gestores do site correram para se esconder embaixo da cama. Chamem o general Custer]

Imagens: Evo Morales por Javier Mamani/EFE e George Armstrong Cluster por Mathey Brady.

25 de setembro de 2009

Chargistas amestrados

Foi-se o tempo, em que os chargistas tinham a preocupação de usar o seu trabalho para se manifestarem criticamente sobre os acontecimentos políticos. Uma pesquisa feita no sítio ChargeOnline, no dia 24 de setembro, revela que a maioria deles não tem a menor ideia do que significa o golpe de estado em Honduras.
Ao contrário do que era feito durante a ditadura civil-militar, onde, muitas vezes, a charge era a única voz dissonante na unanimidade da imprensa de então, os chargistas de hoje parecem estar mais interessados em agradar o patrão, do que exercer o seu senso crítico.
Não se encontrou uma charge sequer, entre as que abordaram o tema Honduras e que foi a maioria delas, onde os golpistas fossem denunciados como tal. O que se viu, foi um humor rasteiro emoldurado por um reacionarismo à toda prova.
Zelaya é apresentado como preguiçoso, quando não um fantoche nas mãos de Chávez e Lula. Ou como um problema para o governo brasileiro. Falar da ação golpista das velhas oligarquias e dos EUA nem pensar!
Definitivamente, os chargistas não parecem entender que os acontecimentos em Honduras são um balão de ensaio para toda a América Latina. A consolidação desse golpe atiçará os saudosistas das quarteladas, sempre prontos a impedir avanços políticos nessa parte do mundo.
Como se vê, os golpistas de Honduras "devem" muito aos chargistas brasileiros pela manutenção do seu projeto de classe no poder. Certamente, esses lacaios da mídia corporativa serão reconhecidos, através da criação de alguma comenda a ser distribuída pelos "bons serviços prestados".
Seguem as charges postadas no dia 24/09, pois elas não ficaram armazenadas na página. Hoje, aguardemos a nova leva com igual teor.

Tacho

Sponholz

Sinfronio

Simon

Recchia

Pelicano

Paixão

Myrria

M. Borges

Ique

Glauco

Frank

Elvis

Aroeira

24 de setembro de 2009

Declaração sobre democracia é aprovada no Rio por aclamação

Ministro da Justiça Tarso Genro

Brasília, 18/09/09 (MJ) - Na cidade do Rio de Janeiro, de 17 a 18 de setembro de 2009, realizou-se o Seminário Internacional Democracias em Mudança na América Latina, reunindo o Ministro de Estado da Justiça do Brasil, Tarso Genro, o Ministro de Governo da República da Bolívia, Alfredo Rada, o Ministro do Interior do Paraguai, Rafael Filizzola e o Ministro da Justiça, Segurança e Direitos Humanos da República Argentina, Júlio César Alak, além de representantes da sociedade civil, membros do governo, da academia, universitários e demais interessados no tema que,

RECONHECENDO:

- que a democracia traduz-se em patrimônio dos povos latino-americanos;

- que o desenvolvimento das nações, por meio de transformações sociais, com transições lentas, por vezes dolorosas, legitima o processo democrático ainda em curso em vários países, inclusive nos da América Latina;

- que tais países vivenciam os efeitos da transição de Estados de fato, outrora vigentes;

- que é inegável que os períodos de ditadura produziram um passivo negativo caracterizado por um legado de dividas jurídicas, éticas, políticas, sociais e culturais a seus povos, inclusive regionalmente;

- que os Estados devem, permanentemente, reprimir as práticas de tortura, sob todas as formas de que pode se revestir o fenômeno;

- que os mecanismos e iniciativas voltados à reparação do legado de violação a direitos humanos devem ser combinados com políticas públicas para a memória e a educação, sem perder de vista a necessidade de feitura de justiça para a plena consolidação do Estado de Direito;

- o valor da dignidade da pessoa humana como sustentáculo das democracias e que estas não se efetivarão plenamente enquanto não forem supridas as necessidades básicas dos cidadãos, sejam alimentares, de saúde, educacionais, ambientais e de segurança;

- que as políticas sociais preventivas de segurança, aliadas às legitimas políticas repressivas do Estado, garantem o direito social fundamental à segurança e o aperfeiçoamento da cultura democrática, com desenvolvimento social;

- por fim, que os debates e reflexões realizados no seminário em questão, certamente direcionarão o necessário processo de materialização efetiva de Estados Sociais Democráticos de Direito,

DECLARAM:

- Repúdio às novas formas de subversão, inclusive terroristas, que atentam contra os valores democráticos e soberanos na América Latina;

- O crime organizado transnacional e o poder de corrupção que lhe dá vida constituem ameaça ao desenvolvimento das nações;

- Sejam reconhecidos os avanços sociais e de enfrentamento à criminalidade, com foco no desenvolvimento sustentável, por meio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Brasil, e outras experiências regionais exitosas, referências de boas práticas a serem seguidas pelos países da América Latina;

- Seja reconhecida a necessidade de articulação e trabalho conjunto dos entes nacionais, sob a concepção inovadora de gabinetes de gestão integrada;

- Seja estabelecida a concepção de que as fronteiras entre os países são elementos de integração e reforço da soberania;

- A necessidade de permanente e integrada efetivação de políticas transicionais no Continente;

- A criminalidade organizada, que não reconhece fronteiras, somente será enfrentada com o somatório de esforços nacionais, regionais e internacionais, especialmente dirigidos ao tráfico de drogas, de armas, de pessoas e à lavagem de dinheiro;

- Repudiar a politização do crime organizado, desestabilizadora dos regimes democráticos e atentatória à soberania dos países e da America Latina;

ENCAMINHAM:

- Que haja continuidade do diálogo firmado na área da segurança, inclusive pública;

- Que são necessários novos encontros e, por sugestão do Excelentíssimo Senhor Júlio César Alak, Ministro da Justiça, Segurança e Direitos Humanos da República Argentina, que o Segundo Seminário Internacional “Democracias em Mudança na América Latina” seja sediado naquele País.


Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2009.

Imagem: Issac Amorim