Com o título "Nairóbi é uma festa!", o Cel3uma faz uma pertinente análise do comportamento de uma certa esquerda desbundada e que é incapaz de produzir contra-medidas à mídia hegemônica, coisa que a gente já vem denunciando há muito tempo.
O texto está aí, reproduzido na íntegra, seguido do comentário do Eugênio.
CIRCO
A esquerda gaúcha não desenvolveu nenhuma estratégia para lidar com a máquina de mastigar diferenças e segue deslumbrada com a possibilidade de se constituir pelos holofotes do monopólio midiático
NAiróbi é uMA fESta!
É tanta merda (desculpem a expressão) publicada pelo house organ mais reacionário do Rio Grande do Sul, que simplesmente é quase impossível acordar de manhã e não perguntar: qual foi a de hoje? O partido mascarado de empresa, mais conhecido como RBS,já não está nem preocupado em produzir informações com qualidade, tampouco esconde o desafeto da empresa, com determinados temas, nem tem mais a objetividade que teoricamente uma empresa que trabalha com comunicação deveria ter. Claro que temos que levar em conta, que o Partido RBS trabalha sua produção de informação como se fosse entreterimento. O problema é que até nisso eles são grosseiros. Como não falta elenco sempre disposto a entrar no picadeiro, o periódico deita e rola. O principal freguês do grupo são as organizações de esquerda, especialmente o Partido dos Trabalhadores e suas ramificações. Mesmo depois de ter esculhambado com o primeiro governo do PT no Rio Grande do Sul, com uma séria de factóides, calúnias e omissões, os petistas não desenvolveram nenhuma estratégia para lidar com a máquina de mastigar diferenças e seguem deslumbrados com a possibilidade de se constituirem pelos holofotes do monopólio midiático. Ainda que entre militantes, sustentem adesivos de Fora RBS, pela democratização dos meios de comunicação ou liberdade às rádios comunitárias, basta um telefonema de um repórter da empresa-partido para que as luzes da ribalta ofusquem o ideário socialista.A matéria (chamada pelo jornal de Reportagem Especial) assinada pela jornalista Iara Lemos, sobre os gaúchos que vão participar do Fórum Social Mundial em Nairóbi, capital do Quênia, é o exemplo do dia. A matéria entrevista um advogado (destaque na foto, com um guia do Quênia, no melhor estilo turístico), sem nenhuma conexão com algum debate relacionado ao Fórum, que declara: "O lado exótico da África me atraí!"Pequenas notas dispostas ao lado do corpo principal da "reportagem" desqualificam o encontro ("De acordo com os organizadores, 150 mil pessoas devem participar do evento. A previsão é pouco exata, já que todos os anos é esperado esse mesmo número de pessoas").
Nenhuma fala sobre o que esses "gaúchos" vão fazer em Nairóbi, que é lembrada no infográfico pela miséria de suas favelas, mostradas no filme "O Jardineiro Fiel". O Acampamento da Juventude, classificado pelo jornal como "palco das festas mais animadas" e que "atraia todas as noites centenas de curiosos durante o Fórum em Porto Alegre, terá sua versão africana..." Mas o melhor a jornalista deixou para o final. A Zero Hora inventou uma explicação para as crianças, em determinadas matérias. Um box com o título "Para o seu filho ler", em que é possível examinar a real interpretação que o jornal quer fazer ver. No presente caso, são perólas como: "O Fórum Social Mundial é o nome de um evento que reúne no início de todos os anos pessoas de vários lugares do mundo". Não diz para fazer o quê, exatamente. E vai melhorando as preciosidades: "O Fórum também é famoso por ser um evento que é contra a globalização." Como se fosse possível ser contra um fenômeno histórico iniciado com as primeiras navegações na antigüidade. E segue explicando para as crianças a sua versão do mundo:"Isso significa que as pessoas que participam do Fórum não gostam que paisés muito ricos, como os Estados Unidos, influenciem países mais pobres, como o Brasil". Mas a cereja do bolo fica para o final, quando o texto completa o raciocínio e o cérebro da suposta criança-leitor já virou geléia:"Por isso elas não gostam do McDonald's, por exemplo, porque o McDonald's foi criado nos Estados Unidos e hoje está espalhado por vários países do mundo."Não sei o que é pior: desinformar ou tratar as crianças como retardados mentais. Nem a micro-entrevista feita com Cândido Grzybowski, integrante do Conselho Internacional do Fórum, esclarece sobre o que as pessoas estão indo fazer numa cidade tão miserável como Nairóbi, em pleno janeiro, deixando de lado, como o advogado, o sossego da praia. Grzybowski responde somente perguntas relativas a organização do Fórum, sem jamais tocar no contéudo ou nas pautas do encontro.Depois não adiante reclamar dos jornalistas, ou encher a boca para dar discurso sobre o monopólio da mídia ou que está ou aquele empresa manipula informações, se na primeira oportunidade, o deslumbramento ou aquele sentimento de emergente que precisa aparecer, ser visto, estar na vitrine, dizer para todo mundo, se sobrepõe a qualquer debate político ou ideológico. Por essas que vivemos mesmo em tempos de degenerescência, em que a coerência com o discurso está em extinção mesmo!
Comentário do Eugênio em 20/01/07: Parece até, para quem nos lê, que nós blogueiros estamos nos copiando, que não temos imaginação, que repetimos o mesmo discurso. Mas como ter um discurso diferente sobre uma esquerda que não tem vergonha na cara e que rasteja, abanando o rabinho ao primeiro estalo de dedos da mídia hegemônica? Bernard Cassen fez aqui no Fórum em 2003, uma observação que poderá ser colocada na sua lápide. Disse que a esquerda acalenta a fantasia de que pode usar a mídia hegemônica para seus propósitos. Só isso explica esse comportamento bizarro dos nossos altermundistas, que ainda não conseguiram identificar o inimigo estratégico. Não bastaram aquelas matérias imbecis publicadas na Zero Hora e outros pasquins locais sobre o Acampamento da Juventude, como reunião de maconheiros, ou como se vestir para participar do Fórum, ou a manchete que ZH deu no dia da abertura do FSM em 2003: "Fórum vai embora de POA". Talvez os nossos esquerdinhas só consigam entender com quem estão lidando, no dia em que o Lasier subir na mesa, durante o Conversas Cruzadas, arriar as calças e cagar na cabeça de um deles.
7 comentários:
Bravos! Enfim um dedo na consiência. A paulada está ecoando na minha cabeça. Sobre o FSM, acho que o Jaques Wagner vai levá-lo para Salvador. Sabem quando que ele voltará para POA? Pois é...eu também não. Abraço, meus amigos sivuqueiros, e bom findi.
Ops..."consciência"...
O ridículo desta situação é que ao jogar bosta pagamos ingresso e cachê dos micos.Boa Nooooite.
Pelo visto, tem muita gente justificando o estilo "de Bonner para Homer".
Parece que certos estúpidos entram em campanhas como se estivessem fazendo algum tipo de chantagem. É por isso que, de vez em quando, alguém nos acusa de estar apenas com inveja do sucesso de um BBB qualquer.
Outro dia, numa comunidade do Orkut, depois de uma crítica que fiz a uma novela, um jovem disse que eu não estaria fazendo aquela crítica se estivesse trabalhando na emissora que a exibia. É provável que não. É bem provável que ele tenha razão, pois trata-se de um típico caso de quem estaria preservando sua fonte de renda e sobrevivência. É bem diferente da estupidez dessa gente que se rende a qualquer oportunidade de aparecer, a qualquer custo, inclusive isso aí, o ridículo.
Oi, amigos e amiga, estamos um tanto afastados, em ritmo de férias desta que escreve, pois o Eugênio não lida com o Blogger.
Há muita coisa estranha acontecendo e temos a certeza disso, ao lermos um blog com comentários sobre a Série 24h. É estarrecedor por qualquer lado que se tente analisar: cultura popular, política, ética, etc. Vamos de mal a pior, o domínio das mentes é tal, que Hitler teria inveja, se vivo fosse nos dias de hoje...
Também caí das estribeiras quando li esse quadrinho "Para seu filho ler", iniciativa que merecia de cara um troféu "Framboesa", como já existe para os piores do cinema americano. Mas, como jornalista e ex-tiranizada repórter de imprensa diária, afirmo que, embora haja muita estrela de esquerda (e isso não inclui só os do partido da estrela) que transmutem seus valores ao aparecer sob as luzes midiáticas, as matérias sofrem uma edição tenaz nas mãos dos editores. Isso muitas vezes faz uma matéria honesta, até inteligente, ruir e se transformar em um frankenstein para quem a fez, que já nem a reconhece como sua. Não quero com esta observação dar a entender que os jornalistas sejam inteligentes e conscienciosos, pois cada um sabe a máquina da qual faz parte e aceita a mutilação que merece. Mas que há editores que simplesmente reescrevem tudo, e cortam trechos inteiros de entrevista para que certos personagens pareçam fúteis, ah isso tem.
Parabéns pelo blog.
Tens razao, anonimo, naquilo que denuncias. A questao, ai, e ter estomago para continuar trabalhando num ambiente desses. Hoje em dia, nao se pode dar ao luxo de se demitir, quando o editor-chefe altera a materia. Isso deve ser o drama de muita gente. E de-lhe calmante, remedio para pressao, tratamento de ulceras ou outras coisas. Mas eu me pergunto tambem: sera que vale a pena o preco a se pagar? Ha momentos, em que acredito que existem muitos profissionais trabalhando por gosto hoje em dia, tamanha barbaridade encontrada em jornais e revistas de grande circulacao. Abraco, volte sempre!
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