O artigo, abaixo, também recebemos por endereço eletrônico. É, a turma do Talk Radio ficou mal nessa história...
Artigo: Ipanema FM e a Aracruz
Por Daniel Cunha
A rádio Ipanema FM de Porto Alegre convenientemente cultiva uma imagem de "alternativa": é "a rádio que não se vende" - a não ser aos patrocinadores, claro. Se alguém acreditava nessa lorota - para todos os efeitos, mentirosa - a máscara caiu e estatelou-se com o novo patrocínio do progama Talk Radio, apresentado pela jornalista Kátia Suman. Faceira por ter conquistado o novo patrocinador - Aracruz Celulose - a jornalista vestiu a camisa da empresa e militou a favor da sustentabilidade das monoculturas de eucaliptos, da "limpeza" das fábricas, proferindo uma série de bobagens sem o menor conhecimento sobre o que estava falando - o que é natural, pois a própria admitiu que foi a primeira vez em sua vida que entrou em uma fábrica.
A rádio Ipanema foi um dos veículos estratégicos escolhidos pela Aracruz para a sua operação de lavagem verde - a técnica publicitária utilizada por corporações capitalistas que exercem atividades predatórias no planeta e enfrentam (justamente) resistências das populações afetadas, e assim necessitam "reconstruir" sua imagem. O entusiasmo da apresentadora foi tanto com a conquista do novo patrocinador que nem mesmo os limites da ética jornalística foram respeitados: na abertura do programa, Kátia anunciou uma "ecologista xiita" (sic), e para estupefação dos ouvintes com um mínimo de senso crítico, colocou no ar a elogiar as "políticas ambientais" da Aracruz uma funcionária da... Aracruz!!! Seria ela uma testemunha suspeita? Será? Se a entrevista fosse identificada como publicidade, pelo menos seria mais honesta; Kátia preferiu o jornalismo marrom.
É compreensível o entusiasmo de Kátia. Ela sabe perfeitamente que a difusão da imagem de "rádio que não se vende", enquanto arrecada com os patrocinadores, é mentirosa - é a "lavagem alternativa" da rádio, que de alternativa não tem nada, simétrica à "lavagem verde" da Aracruz. Como rádio de baixa audiência que é, a rádio Ipanema deve realmente entusiasmar-se com a conquista de um patrocinador de peso (nos bolsos) como a Aracruz. A Ipanema vendeu-se como sempre o fez, mas dessa vez entusiasticamente, com direito a festejos e lambanças. (Que fique claro: passa longe de qualquer competência de seus profissionais, entretanto, o festejado patrocínio: a rádio teve a "sorte" de ter em seu público ouvinte os segmentos sociais que incluem os contestadores do projeto da celulose no pampa).
De resto, nada disso é novidade. Adorno e Horkheimer já analisaram a indústria cultural nos anos 40, em A dialética do esclarecimento:
"Cada manifestação da indústria cultural reproduz as pessoas tais como as modelou a indústria em seu todo". Ou seja, bons consumidores de mercadorias, entusiastas da metafísica do "progresso" e da manutenção da ordem dominante, que não se deixam seduzir por "bobagens" críticas que emperram o "progresso", como a defesa da biodiversidade ou a preocupação com os limites naturais da exploração do planeta.
"Se em nossa época, a tendência social objetiva se encarna nas escusas intenções subjetivas dos diretores gerais, estas são basicamente os dos setores mais poderosos da indústria: aço, petróleo, eletricidade, química. Comparados a esses, os monopólios culturais são fracos e dependentes. Eles têm que se apressar em dar razão aos verdadeiros donos do poder". Alguma semelhança com a relação Ipanema-Aracruz?
Ao final do programa, Kátia Suman, destila cinismo: "a imagem é tudo". Sim. Os rapinadores do planeta não necessitam deixar de sê-lo, basta construírem outra imagem com uma boa lavagem verde. Por exemplo, patrocinando a rádio Ipanema, a prima pobre da indústria cultural (deve ser bem baratinho), que louca de faceira, se lambuza toda com o inesperado patrocínio. Nem a Aracruz esperava tanto entusiasmo.
Ipanema FM: a rádio que se vende faceira!
(Por fim: desligue o rádio e vá ler um livro!)
Por Daniel Cunha
A rádio Ipanema FM de Porto Alegre convenientemente cultiva uma imagem de "alternativa": é "a rádio que não se vende" - a não ser aos patrocinadores, claro. Se alguém acreditava nessa lorota - para todos os efeitos, mentirosa - a máscara caiu e estatelou-se com o novo patrocínio do progama Talk Radio, apresentado pela jornalista Kátia Suman. Faceira por ter conquistado o novo patrocinador - Aracruz Celulose - a jornalista vestiu a camisa da empresa e militou a favor da sustentabilidade das monoculturas de eucaliptos, da "limpeza" das fábricas, proferindo uma série de bobagens sem o menor conhecimento sobre o que estava falando - o que é natural, pois a própria admitiu que foi a primeira vez em sua vida que entrou em uma fábrica.
A rádio Ipanema foi um dos veículos estratégicos escolhidos pela Aracruz para a sua operação de lavagem verde - a técnica publicitária utilizada por corporações capitalistas que exercem atividades predatórias no planeta e enfrentam (justamente) resistências das populações afetadas, e assim necessitam "reconstruir" sua imagem. O entusiasmo da apresentadora foi tanto com a conquista do novo patrocinador que nem mesmo os limites da ética jornalística foram respeitados: na abertura do programa, Kátia anunciou uma "ecologista xiita" (sic), e para estupefação dos ouvintes com um mínimo de senso crítico, colocou no ar a elogiar as "políticas ambientais" da Aracruz uma funcionária da... Aracruz!!! Seria ela uma testemunha suspeita? Será? Se a entrevista fosse identificada como publicidade, pelo menos seria mais honesta; Kátia preferiu o jornalismo marrom.
É compreensível o entusiasmo de Kátia. Ela sabe perfeitamente que a difusão da imagem de "rádio que não se vende", enquanto arrecada com os patrocinadores, é mentirosa - é a "lavagem alternativa" da rádio, que de alternativa não tem nada, simétrica à "lavagem verde" da Aracruz. Como rádio de baixa audiência que é, a rádio Ipanema deve realmente entusiasmar-se com a conquista de um patrocinador de peso (nos bolsos) como a Aracruz. A Ipanema vendeu-se como sempre o fez, mas dessa vez entusiasticamente, com direito a festejos e lambanças. (Que fique claro: passa longe de qualquer competência de seus profissionais, entretanto, o festejado patrocínio: a rádio teve a "sorte" de ter em seu público ouvinte os segmentos sociais que incluem os contestadores do projeto da celulose no pampa).
De resto, nada disso é novidade. Adorno e Horkheimer já analisaram a indústria cultural nos anos 40, em A dialética do esclarecimento:
"Cada manifestação da indústria cultural reproduz as pessoas tais como as modelou a indústria em seu todo". Ou seja, bons consumidores de mercadorias, entusiastas da metafísica do "progresso" e da manutenção da ordem dominante, que não se deixam seduzir por "bobagens" críticas que emperram o "progresso", como a defesa da biodiversidade ou a preocupação com os limites naturais da exploração do planeta.
"Se em nossa época, a tendência social objetiva se encarna nas escusas intenções subjetivas dos diretores gerais, estas são basicamente os dos setores mais poderosos da indústria: aço, petróleo, eletricidade, química. Comparados a esses, os monopólios culturais são fracos e dependentes. Eles têm que se apressar em dar razão aos verdadeiros donos do poder". Alguma semelhança com a relação Ipanema-Aracruz?
Ao final do programa, Kátia Suman, destila cinismo: "a imagem é tudo". Sim. Os rapinadores do planeta não necessitam deixar de sê-lo, basta construírem outra imagem com uma boa lavagem verde. Por exemplo, patrocinando a rádio Ipanema, a prima pobre da indústria cultural (deve ser bem baratinho), que louca de faceira, se lambuza toda com o inesperado patrocínio. Nem a Aracruz esperava tanto entusiasmo.
Ipanema FM: a rádio que se vende faceira!
(Por fim: desligue o rádio e vá ler um livro!)
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