8 de junho de 2007

Editorial de O Globo após o golpe militar, 2 de abril de 1964.


O Heitor Reis encaminhou mensagem com a íntegra do editorial do jornal O Globo de 2 de abril de 1964. Um primor! Em tempos de choros, gritos, manipulações e mentiras a favor da RCTV golpista na Venezuela do "ditador" Hugo Chávez (sic), vale a pena visitar o passado da Globo e seus editoriais, verdadeiras odes à "democracia".
A Globo continua no mesmo tranquito de 64 e parece que lá ninguém se dá conta de que hoje não se precisa ir mais a museus e hemerotecas para se pesquisar o passado. Sem levantar da cadeira, apertando um botão, a História vem aos borbotões nos assombrar e as farsas se desfazem por encanto numa tela luminosa. Alguém precisa avisar, aos Marinho, que existe uma coisa chamada computador que se conecta a outra coisa chamada Internet.
RESSURGE A DEMOCRACIA
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo. Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo. As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, "são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei. Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo. A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.
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4 comentários:

Anônimo disse...

Faz sentido a Globo defender os golpistas da RCTV: Ontem eu era você; e amanhã poderei a vir a ser de novo (meio confuso, mas acho que dá pra entender).

Anônimo disse...

Parabéns pela pesquisa publicada. Creio que precisamos iniciar agora um debate sobre a concessão (acho que na verdade trata-se, legalmente, de permissão) da Rede Globo. O momento é excepcional para isso. Nunca na história houve tamanha oportunidade para esse debate, devido aos precedentes da Venezuela.
Eu, inclusive, resolvi fazer um blog para começar o debate. Vamos em frente! Saudações!

Frederico Olímpio disse...

Parabéns pela pesquisa publicada. Creio que precisamos iniciar agora um debate sobre a concessão (acho que na verdade trata-se, legalmente, de permissão) da Rede Globo. O momento é excepcional para isso. Nunca na história houve tamanha oportunidade para esse debate, devido aos precedentes da Venezuela.
Eu, inclusive, resolvi fazer um blog para começar o debate. Vamos em frente! Saudações!

Biruta do Sul disse...

Querida Cláudia, super pertinente a recuperação deste material, principalmente neste ambiente cínico-histérico de apologia ao direito supremo da mídia monopólica sobre o interesse público.
Esta tua publicação me faz lembrar lá pela metade dos anos 70, em pleno período Médici, o Cid Moreira terminando o Jornal Nacional com a confortante interjeição: "Brasileiros, nunca fomos tão felizes!" - tóing!!
É drurys, né?
Um abração,
Jeferson