8 de agosto de 2007

Crônica de uma guerra anunciada

Eugênio Neves
Via Blogoleone:
Informe que não sai na imprensa conservadora*
Prestem atenção. Nas próximas semanas vão se intensificar na grande mídia matérias sobre o "perigo iraniano". O país dos aiatolás voltará a ser considerado uma nova "Alemanha nazista" e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, o novo Hitler.
Tais estereótipos vão aparecer com mais freqüência e a questão da bomba atômica será mais uma vez apresentada como o perigo a ser enfrentado. Dirigentes israelenses de todas as matizes, do presidente Shimon Peres ao extremista de direita Binyamin Netanyahu, serão convocados para alertar Washington sobre o projeto nuclear iraniano. Vão insistir na tese que Ahmadinejad prepara um "novo holocausto" contra o Estado de Israel.
Em suma: tudo será feito no sentido de convencer o governo Bush sobre a necessidade de uma ação imediata e preparar a opinião pública para aceitar uma eventual intervenção militar contra o Irã.
Só que esta mesma mídia que criminaliza o regime iraniano e apóia incondicionalmente o governo israelense não informará a esta mesma opinião pública sobre como vive no Irã a comunidade judaica composta por 25 mil pessoas, por sinal a maior e mais antiga do Oriente Médio. Judeus iranianos estão lá instalados há cerca de três mil anos.
Jonathan Cook, um jornalista britânico baseado em Nazareth, Israel, e autor do livro Sangue e Religião: O desmascaramento do Estado democrático judeu, ainda não traduzido para o português, dá algumas dicas sobre como vivem pacificamente os 25 mil judeus iranianos, que não aceitam o sionismo como bandeira política. Ele faz até uma comparação entre como vivem os judeus iranianos e os palestinos nos territórios ocupados por Israel. Se a opinião pública for informada corretamente poderá concluir por si só sobre este tópico, sem manipulação do noticiário.
Cook informa, e a mídia conservadora omite, que em Teerã existem seis açougues que vendem carne kosher, uma carne especial que segue os preceitos recomendados pela religião judaica. Na capital iraniana funcionam regulamente 30 sinagogas. O Parlamento iraniano tem representantes judeus eleitos. Apesar da intensa propaganda no sentido de os judeus iranianos emigrarem para Israel, de outubro de 2005 a setembro de 2006, apenas 152 dos 25 mil deixaram o país, emigração feita por razões econômicas e não políticas, revela o jornalista Cook.
Recentemente, o "anti-semita", na concepção sionista, presidente Ahmadinejad fez doações financeiras para um hospital judaico de Teerã. Cook não revelou o valor da doação. Os judeus iranianos podem não ter muita influência na esfera governamental ou militar iraniana, mas desfrutam de liberdades que os palestinos, tanto os que vivem em Israel como nos territórios ocupados, não têm.
Vale a pena conhecer o pensamento de Ciamak Moresadegh, um líder da comunidade judaica iraniana, sobre algumas questões relevantes. É ele quem diz que "se você pensa que o judaísmo e o sionismo são a mesma coisa, é o mesmo que imaginar que o islã e o talibã são uma coisa só".
Mas, como estas informações são praticamente ignoradas pela mídia ocidental, o regime iraniano e Ahmadinejad continuarão sendo apresentados como perigosos e em preparativos para "riscar Israel do mapa". Enquanto isso, George W. Bush, Condoleezza Rice, Shimon Peres e Ehud Olmert serão apresentados pelo esquema do barão midiático Rupert Murdoch como os defensores do Ocidente.

*Mário Augusto Jakobskind

Um comentário:

Anônimo disse...

O problema é que mesmo que a mídia não conseguir sensibilizar a opinião publica, os EUA invadirão o Irã de qualquer forma.

Abs.