Por Rogério Simões
Liberdades de imprensa
Durante meu curso de jornalismo na USP, tive a oportunidade de conversar com um antigo professor, que já havia encerrado suas atividades na faculdade havia anos e tinha orgulho de seu conservadorismo. Em uma discussão sobre liberdade de imprensa, ele me disse algo como: "O jornalista acha que liberdade de imprensa dá a ele o direito de escrever o que quiser no jornal onde trabalha. Mas liberdade de imprensa significa apenas que qualquer um tem a liberdade de criar (ou comprar) seu próprio jornal e nele escrever o que quiser." Se seguirmos essa lógica, poucos têm conseguido exercer os direitos estabelecidos por tal liberdade como o empresário Rupert Murdoch (foto acima).
Com a aquisição da Dow Jones, dona do "The Wall Street Journal", Murdoch e seu impressionante grupo News Corporation acrescentam um dos mais prestigiados jornais do mundo à sua coleção de uma centena de outros títulos. Murdoch já era dono da Fox (Fox News, 20th Century Fox, Fox Mulder...), da Sky TV, dos jornais britânicos "The Sun", "News of the World", "The Times" e "The Sunday Times", da editora HarperCollins e do site MySpace, para ficar entre os mais conhecidos. E o que nunca faltou a Murdoch foi o exercício da "liberdade de imprensa" que o antigo professor de jornalismo pregava. O empresário, que nasceu na Austrália, mas obteve cidadania americana e conquistou boa parte do mundo, é conhecido por exercer influência na linha editorial e no conteúdo dos jornais de sua propriedade.
Um ex-editor do Sunday Times, Andrew Neil, disse à BBC que Rupert Murdoch faz questão de deixar sua marca nas suas publicações. "Ele tenta contratar editores que pensam como ele", afirmou. "Quando há algo sobre qual ele tem uma opinião forte ou quando seus interesses comerciais estão em jogo, ele não deixa dúvidas sobre o que ele quer que você faça." Neil parece concordar com o conceito de liberdade de imprensa exposto acima. "Eu acho que, se você é dono do título, você tem o direito de intervir." Mas, se todos os empresários de comunicação pensarem e agirem como, aparentemente, faz Murdoch, como pode o leitor confiar no que dizem esses veículos de comunicação? Será que tudo o que eles publicam está, de alguma forma, sob suspeita?
Uma saída é a transparência. O leitor sabe que empresários têm seus interesses e que estes poderão, em algum momento e de alguma maneira, estar representados no jornal. O que o incomoda, e pode vir a prejudicar a credibilidade da publicação no longo prazo, é qualquer tentativa de um jornal ou revista de esconder tais interesses, dizendo-se imparcial e distanciado quando na verdade tem um interesse direto (comercial ou político) em uma cobertura. Para evitar isso, o veículo deveria revelar sua posição, se tiver alguma. O jornal vai noticiar um negócio que poderá favorecê-lo ou prejudicá-lo? Deixe então isso claro em um editorial ou, se possível, na própria notícia. O leitor agradecerá a honestidade e confiará mais no veículo, mesmo que não concorde com ele.
Vocês perguntariam: e na BBC, como fica? Bem, como eu já disse aqui mais de uma vez, a BBC não tem opinião ou interesses. A BBC é de propriedade da sociedade britânica, e não é possível assumir os interesses de 60 milhões de donos. Portanto não há posições a serem defendidas, e a saída nesse caso é a eterna busca do equilíbrio, da imparcialidade, da neutralidade, custe o que custar. Se não há como ser a favor de todo mundo, a BBC não pode ser a favor de ninguém, o que para a corporação tornou-se um princípio estabelecido por lei. Para o jornalista, a diferença é clara: num jornal de propriedade de um empresário intervencionista, o repórter pode ter de escrever o que o patrão manda, mesmo contra a sua opinião pessoal. Já o jornalista da BBC não pode defender visão alguma, nem a própria.
O pobre do repórter, então, fica sem espaço para expor suas idéias, suas opiniões? Não exatamente. Colunas opinativas sempre fizeram parte da realidade de qualquer jornal, e nelas costumam aparecer idéias contrárias às do dono do veículo. O grau de liberdade vai depender do compromisso do proprietário com o pluralismo, e é muito comum que haja limites internos. A solução para o profissional de imprensa que não aceita nenhum tipo de controle, seja a imposição das idéias do patrão ou a obrigatória imparcialidade da BBC, veio com a internet. Sites pessoais, blogs e espaços independentes de discussão proliferam e atraem um público cada vez mais interessado em jornalismo opinativo. Diante deste admirável mundo novo, o veterano professor ficaria pasmo. Por essa liberdade de imprensa ele não esperava.
Com a aquisição da Dow Jones, dona do "The Wall Street Journal", Murdoch e seu impressionante grupo News Corporation acrescentam um dos mais prestigiados jornais do mundo à sua coleção de uma centena de outros títulos. Murdoch já era dono da Fox (Fox News, 20th Century Fox, Fox Mulder...), da Sky TV, dos jornais britânicos "The Sun", "News of the World", "The Times" e "The Sunday Times", da editora HarperCollins e do site MySpace, para ficar entre os mais conhecidos. E o que nunca faltou a Murdoch foi o exercício da "liberdade de imprensa" que o antigo professor de jornalismo pregava. O empresário, que nasceu na Austrália, mas obteve cidadania americana e conquistou boa parte do mundo, é conhecido por exercer influência na linha editorial e no conteúdo dos jornais de sua propriedade.
Um ex-editor do Sunday Times, Andrew Neil, disse à BBC que Rupert Murdoch faz questão de deixar sua marca nas suas publicações. "Ele tenta contratar editores que pensam como ele", afirmou. "Quando há algo sobre qual ele tem uma opinião forte ou quando seus interesses comerciais estão em jogo, ele não deixa dúvidas sobre o que ele quer que você faça." Neil parece concordar com o conceito de liberdade de imprensa exposto acima. "Eu acho que, se você é dono do título, você tem o direito de intervir." Mas, se todos os empresários de comunicação pensarem e agirem como, aparentemente, faz Murdoch, como pode o leitor confiar no que dizem esses veículos de comunicação? Será que tudo o que eles publicam está, de alguma forma, sob suspeita?
Uma saída é a transparência. O leitor sabe que empresários têm seus interesses e que estes poderão, em algum momento e de alguma maneira, estar representados no jornal. O que o incomoda, e pode vir a prejudicar a credibilidade da publicação no longo prazo, é qualquer tentativa de um jornal ou revista de esconder tais interesses, dizendo-se imparcial e distanciado quando na verdade tem um interesse direto (comercial ou político) em uma cobertura. Para evitar isso, o veículo deveria revelar sua posição, se tiver alguma. O jornal vai noticiar um negócio que poderá favorecê-lo ou prejudicá-lo? Deixe então isso claro em um editorial ou, se possível, na própria notícia. O leitor agradecerá a honestidade e confiará mais no veículo, mesmo que não concorde com ele.
Vocês perguntariam: e na BBC, como fica? Bem, como eu já disse aqui mais de uma vez, a BBC não tem opinião ou interesses. A BBC é de propriedade da sociedade britânica, e não é possível assumir os interesses de 60 milhões de donos. Portanto não há posições a serem defendidas, e a saída nesse caso é a eterna busca do equilíbrio, da imparcialidade, da neutralidade, custe o que custar. Se não há como ser a favor de todo mundo, a BBC não pode ser a favor de ninguém, o que para a corporação tornou-se um princípio estabelecido por lei. Para o jornalista, a diferença é clara: num jornal de propriedade de um empresário intervencionista, o repórter pode ter de escrever o que o patrão manda, mesmo contra a sua opinião pessoal. Já o jornalista da BBC não pode defender visão alguma, nem a própria.
O pobre do repórter, então, fica sem espaço para expor suas idéias, suas opiniões? Não exatamente. Colunas opinativas sempre fizeram parte da realidade de qualquer jornal, e nelas costumam aparecer idéias contrárias às do dono do veículo. O grau de liberdade vai depender do compromisso do proprietário com o pluralismo, e é muito comum que haja limites internos. A solução para o profissional de imprensa que não aceita nenhum tipo de controle, seja a imposição das idéias do patrão ou a obrigatória imparcialidade da BBC, veio com a internet. Sites pessoais, blogs e espaços independentes de discussão proliferam e atraem um público cada vez mais interessado em jornalismo opinativo. Diante deste admirável mundo novo, o veterano professor ficaria pasmo. Por essa liberdade de imprensa ele não esperava.
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