Qual foi o maior fracasso de 2007? O “incremento” do Presidente Bush no Iraque? A queda do valor do dólar norte-americano? As hipotecas subprime? Não. O maior fracasso de 2007 foi a recém-diplomada Câmara Democrata.
A tentativa do povo norte-americano em novembro de 2006 de limitar um governo canalha, que meteu os EUA em aventuras militares enquanto ignorava a Constituição dos EUA, falhou. Substituir Republicanos por Democratas na Câmara e no Senado não fez diferença.
O assalto à Constituição norte-americana pelo Partido Democrata é tão determinado quanto o assalto feito pelos Republicanos. Em 23 de outubro de 2007, a Câmara aprovou um projeto de lei encaminhado pela congressista Jane Harman (Democrata pela Califórnia), presidente de um sub-comitê de Segurança Doméstica, que cassa os direitos garantidos constitucionalmente de livre expressão, associação, e reunião.
O projeto de lei foi aprovado pela Câmara com 404 votos a favor e 6 contra [N.T. 3 democratas e 3 republicanos]. No Senado o projeto é encaminhado por Susan Collins (Republicana pelo Maine) e aparentemente não tem oposição significativa.
O projeto de lei de Harman é chamado de “Ato de Prevenção à Radicalização Violenta e ao Terrorismo Interno” (http://www.govtrack.us/congress/bill.xpd?bill=h110-1955). Quando o projeto de lei HR1955 se transformar em lei, ele criará uma comissão encarregada de identificar pessoas, grupos, e idéias extremistas. A comissão realizará audiências pelo país, tomando depoimentos e compilando uma lista de pessoas e ideários perigosos. A lei irá, em poucas palavras, criar terrorismo em massa nos Estados Unidos. Mas os perpetradores do terrorismo não serão terroristas muçulmanos; serão agentes do governo e cidadãos ‘de bem’ [fellow citizens].
Nós estamos começando a ver quem serão os internos dos centros de detenção que estão sendo construídos nos EUA pela Halliburton sob contrato com o governo. [N.T. uma lista dos mais de 800 centros de detenção – campos de concentração – nos EUA, bem como dos vários decretos (executive orders) que apontam para a concentração de poderes no executivo, está disponível em http://www.sianews.com/modules.php?name=News&file=article&sid=1062.]
Quem estará na lista de “extremistas”? A resposta é: aqueles que lutam pelas liberdades civis, críticos de Israel, céticos do 11 de setembro, críticos das guerras e da política externa do governo, críticos do uso pelo governo de seqüestro, tortura e violações das Convenções e Genebra, e críticos da espionagem dos norte-americanos pela administração. Qualquer um no caminho de um grupo com interesses poderosos – como ambientalistas que se oponham politicamente – é também um candidato para a lista.
A “Comissão de Idéias Extremistas” é o mecanismo para identificar norte-americanos que representam “uma ameaça à segurança doméstica” e uma ameaça de “terrorismo interno” que “não pode ser facilmente prevenido por esforços tradicionais da inteligência federal ou da polícia.”
Esta lei é ótima para pessoas desagradáveis. Aquele FDP [SOB] que roubou sua namorada, aquela lambisgóia [hussy] que roubou seu namorado, o vizinho que tem uma arma – apenas os denuncie para a Segurança Doméstica como ameaças de extremismo. A Segurança Doméstica precisa de suspeitos, logo eles não irão checar. Sob o novo regime, acusação é evidência. Além do mais, “nossos” representantes eleitos jamais admitirão que votaram numa lei e criaram uma “Comissão de Idéias Extremistas” para a qual não haja necessidade ou base constitucional.
Aquele chefe que lhe aporrinha por chegar atrasado ao trabalho – ele é um bom candidato para delação; bem como aquele empregado das minorias [minority employee] que você não pode despedir por qualquer razão normal. Da mesma forma o marido daquela linda mulher que você não conseguiu seduzir. Qualquer tipo de desentendimento e ciúme pode agora ser resolvido com uma ligação para a Segurança Doméstica.
Logo, a Halliburton estará construindo mais centros de detenção.
Os norte-americanos estão de tal forma distantes das raízes de sua liberdade que eles simplesmente não a tem. Muitos norte-americanos não sabem o que é habeas corpus ou porque ele é importante para eles. Mas eles sabem o que querem, e Jane Harman deu a eles uma nova maneira de punir e de atingir seus próprios interesses.
Mesmo liberais educados acreditam que a Constituição dos Estados Unidos é um “documento vivo” que pode ser alterado para expressar qualquer coisa que necessite para acomodar alguma nova causa importante, como o aborto e privilégios legais para minorias e deficientes. Hoje é a “guerra contra o terror” que a Constituição deve acomodar. Amanhã pode ser a guerra contra qualquer um ou qualquer coisa.
Pense sobre isso. Mais de seis anos atrás o World Trade Center e o Pentágono foram atacados. O governo dos EUA acusou a al Qaeda. O Relatório da Comissão do 11/9 foi criticado por um grande número de pessoas qualificadas – incluindo o presidente e o vice-presidente da comissão.
Desde o 11/9 não houve ataques terroristas nos EUA. O FBI tentou orquestrar uns poucos, mas os “planos terroristas” nunca foram mais do que conversas e organizados pelos agentes do FBI. Não há grupos extremistas visíveis além dos neoconservadores que controlam o governo em Washington. Mas alguém no Congresso vê de forma incisiva a necessidade de criar uma comissão para tomar depoimentos e procurar idéias extremistas (fora de Washington, é claro).
Esta busca por idéias extremistas veio depois que o Presidente Bush e o Departamento de Justiça (sic) declararam que o Presidente pode ignorar o habeas corpus, ignorar as Convenções de Genebra, deter pessoas sem evidência, mantê-las presas indefinidamente sem apresentar acusações, torturá-las até que confessem algum crime fabricado, e assumir [take over] o governo ao declarar uma emergência. É claro, nenhuma dessas idéias “patrióticas” é extremista.
A busca por idéias extremistas acompanha também a concessão de contratos para a Halliburton para construir centros de detenção nos EUA. Nenhum membro do Congresso ou do Executivo jamais explicou a necessidade dos centros de detenção ou quem seriam os detentos. É claro, não há nada de extremista em construir centros de detenção nos EUA para detentos secretos.
Claramente os centros de detenção não se destinam a apenas ficar lá vazios. Graças ao maior fracasso de 2007 – a Câmara Democrata – haverá uma “Comissão de Idéias Extremistas” para assegurar internos para os centros de detenção de Bush.
O Presidente Bush nos prometeu que as guerras que ele lançou fariam com que o “indomável fogo da liberdade” chegasse aos “cantos mais escuros de nosso mundo.” Enquanto isso nos Estados Unidos o fogo da liberdade foi não somente domesticado, mas também está sendo extinto.
A luz da liberdade se foi nos Estados Unidos.
*Paul Craig Roberts foi Secretário Assistente do Tesouro na administração Reagan. Foi Editor Associado do editorial do The Wall Street Journal.
O original encontra-se em: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=7734.
Traduzido para o CeCAC por M.H.
27 de janeiro de 2008
"Pensar por você mesmo agora é crime"
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