O blog Diário Gauche publicou, há dias atrás, uma postagem intitulada "A infância de um homem de bem" com apenas uma ilustração. Isso bastou para provocar um acalorado debate com 16 comentários. Discutiu-se, basicamente, o conceito deste homem que está sintonisado com as "boas causas".
Mas quais são as boas causas, afinal, quando o jornalista Ayrton Centeno nos relata, em artigo publicado no blog RSurgente, que o ativista Henry Saragih foi identificado como uma das 50 pessoas capazes de salvar o planeta? Sim, você entendeu bem leitor/leitora: capaz de salvar o planeta! (Grifo nosso.)
Saragih foi uma das 34 pessoas indiciadas pela polícia gaúcha, quando do episódio da invasão do viveiro da empresa Aracruz, em Barra do Ribeiro, pelas mulheres da Via Campesina. Ali, deu-se um verdadeiro confronto entre as "forças do bem" e os "agentes do mal", entre a "modernidade" e o "atraso dinossáurico". A nossa mídia, porta-voz das "boas causas", como não poderia deixar de ser, tomou o partido dos "homens de bem", visto ser ela própria dirigida também por homens de bem. E que ninguém levante qualquer dúvida em relação a isso!
Agora, novamente, esse confronto se estabelece nas mesmas bases, só que em outro cenário, no assentamento Nova Sarandi (antiga fazenda Anoni), onde ocorria o 24º Encontro Estadual do MST. As forças da lei, ou "do bem", ou vice-versa, munidas dos melhores propósitos, ou pretextos, cercaram o tal encontro na busca de objetos desaparecidos da Fazenda Coqueiros, por ocasião da ocupação simbólica realizada pelo MST dias antes.
Como o que está em disputa não são só objetos desaparecidos, mas também o simbólico, as forças do bem se fizeram presentes com todo o seu aparato, não deixando dúvidas sobre as suas intenções - as fotos que o digam - no que foram completamente respaldadas pela mídia "bombachuda". Vá que os "agentes do mal" lançassem mão de outros objetos encontrados e apreendidos, como "uma foice e alguns pedaços de madeira que poderiam ser usados como arma"? Convém lembrar, que os objetos originalmente buscados não foram encontrados.
Ao que parece, o "mundo" não percebe a luta que os "homens de bem" (e mulheres também, sejamos justos) das terras guascas travam contra os "agentes do mal". Pois, se percebesse, a personalidade, a ser distinguida pela capacidade de salvar o planeta, seria outra! Por que escolher Henry Saragih e deixar de fora, por exemplo, um Nelson Sirotsky, indiscutivelmente o mentor ideológico e articulador de todo esse processo "modernizador" porque passa esse torrão gaúcho? Que critérios foram esses afinal, que não conseguiram distinguir aqueles capazes de "alavancar" o desenvolvimento dentro dos melhores preceitos da modernidade, de um legítimo representante daquele "atraso" que insiste em preservar algum valor que não seja exclusivamente o do "mercado"?
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Para entender o que se passa, imprescindíveis estas leituras: Diário Gauche, La vieja bruja e RSurgente (aqui e aqui). Se quiser continuar não entendendo nada, leia o jornaleco da azenha e seus congêneres.
Um comentário:
Caros Eugênio e Cláudia,
Também não consigo entender essa estranha incapacidade do mundo de não dar a César o que é de César. É absurdo que agentes do mal sejam reconhecidos como lideranças capazes de salvar o planeta e homens de bem da estirpe farrapa sejam simplesmente ignorados nessa tarefa. Isso não faz nenhum sentido. O mundo deve estar errado e o RS certo.
Só para variar.
Um abraço.
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