Assim como a mídia corporativa conceitua tudo aquilo que acontece de acordo com o seu poder e o seu interesse, agora, chegou a vez da sociedade, ou parte dela, pelo menos, conceituar a mídia naqueles espaços em que é possível fazer isso.
No caso da blogosfera, o blogueiro Cristóvão Feil faz uma análise muito apropriada da sigla que, ultimamente, anda circulando a mídia alternativa: PIG - Partido da Imprensa Golpista.
PIG é o nome da mídiaAssim como existe um mercado de automóveis, um mercado de terras, um mercado de moedas, etc., existe um mercado de palavras – o mercado lingüístico como se referia Pierre Bourdieu.
As palavras são apropriadas pelas pessoas, pelos grupos sociais, pelos interesses econômicos e assim por diante. Elas servem para dar nome a objetos, situações, estados naturais, sociais e culturais. As palavras são apropriadas, capturadas, como um bem material qualquer, só que constituem um bem simbólico. Cassirer diz que o homem é um animal simbólico. E é.
As palavras são símbolos, representações, de algo concreto ou abstrato que nós usamos para nos expressar na relação social.
Estou lembrando disso, para ressaltar a notável expressividade do nome PIG (Partido da Imprensa Golpista), que teria sido cunhado pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE), mas divulgado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim e a blogosfera de esquerda.
Por que Partido? Porque a mídia oligárquica representa o papel de intelectual orgânico das forças sociais conservadoras do Brasil, mais até do que os próprios Partidos cartoriais tradicionais, porque têm mais capacidade de difusão das idéias e reações dos setores oligárquicos, pensa e propaga politicamente seus interesses e agita a cena pública com dinamismo e capacidade de disputa.
Por que Golpista? Porque todos – em bloco – não hesitaram em apoiar de forma uníssona e sem vacilações o golpe civil-militar de 1964, bem como todos os movimentos autoritários e anti-democráticos havidos no Brasil entre 1930 e 1964, e ainda hoje, depois da redemocratização formal do País, depois de 1985, procuram sempre combater as forças populares e criar situações artificiais de instabilidade política que buscam o abrigo escuro do autoritarismo.
A rigor, o PIG tem nostalgia do seu passado de ouro: as poucas famílias detentoras da propriedade da grande mídia tupinambá (e que pautam por capilaridade todo o resto do sistema midiático brasileiro) não conseguem esquecer o regime escravocrata, as relações sociais da corte e do Império dirigido pela nobre família Bragança. A República, para o PIG, já constitui insolência nauseante, que dirá um governo híbrido como o de Lula, dirigido por castas ignaras e ascensionais que não conhecem o seu devido lugar na hierarquia sociológica do velho mandonismo de classe.
Por isso, o nome PIG é ótimo, expressa com rigor e clareza um conceito de classe para a mídia oligárquica. Para a esquerda blogueira forma um capital lingüístico de grande valor de mercado. É uma fala que comunica com competência e legitimidade de significados. Um capital cultural inestimável e uma apropriação através do discurso que resulta num ato político de imenso simbolismo.
Por isso, e muito mais, PIG é o nome da mídia.
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