Nós ficamos chocados, quando soubemos da decisão meteórica do Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Porto Alegre a respeito do monumento em "homenagem" ao soldado Valdeci, morto numa ação de repressão ao MST pela Brigada Militar há 18 anos atrás.
Perguntamo-nos, até que ponto as pessoas se acovardam e cedem à pressão de chefetes de ocasião. O que o Conselho tinha a temer da Brigada? Por que essas pessoas aceitaram essa coação?
Num RS que vive uma crise institucional generalizada, este conselho municipal foi mais uma dessas instituições que não conseguiram desempenhar o seu papel republicano.
As pessoas que fazem parte deste conselho estão ligadas à área da história e das artes e, até por formação, deveriam esboçar alguma resistência mínima frente a esta patranha. Além de covardes, os integrantes desse conselho desconhecem a História e seus processos e repetem situações que já tiveram desfechos trágicos em outros tempos. É um Conselho a que falta, essencialmente, cultura!
A BM está se tornando um ente autônomo, que se dá ao luxo de pressionar outras instâncias do Poder Público num atropelo sem precedentes no convívio entre as instituições no RS.
Não bastasse isso, ainda move uma luta sem trégua contra os movimentos sociais, enquanto a insegurança e a corrupção grassam. Para quem ainda tem dúvida disso, é só ler os jornais da mídia corporativa, que sustentam o Governo Yeda Crusius. Mesmo descontextualizando, sem falar em "crise na segurança" como em outros tempos, nem ela consegue esconder a inoperância das polícias.
Ao senhor Sergius Gonzaga, resta dizer que, ao se envolver com esta espécie de gente (Fogaça, Yeda e similares), deixou-se arrastar na lama e se vincula a um episódio nebuloso da História porto-alegrense e gaúcha.
Diante de tanta omissão e covardia, há que se perguntar, quem será capaz de pôr um freio nisso tudo?
Abaixo, segue o excelente texto de Franz Neumann, copiado do Diário Gauche. Temos o maior respeito pela lucidez deste cidadão octogenário.
E que sirva de modelo a toda a terra!
Num RS que vive uma crise institucional generalizada, este conselho municipal foi mais uma dessas instituições que não conseguiram desempenhar o seu papel republicano.
As pessoas que fazem parte deste conselho estão ligadas à área da história e das artes e, até por formação, deveriam esboçar alguma resistência mínima frente a esta patranha. Além de covardes, os integrantes desse conselho desconhecem a História e seus processos e repetem situações que já tiveram desfechos trágicos em outros tempos. É um Conselho a que falta, essencialmente, cultura!
A BM está se tornando um ente autônomo, que se dá ao luxo de pressionar outras instâncias do Poder Público num atropelo sem precedentes no convívio entre as instituições no RS.
Não bastasse isso, ainda move uma luta sem trégua contra os movimentos sociais, enquanto a insegurança e a corrupção grassam. Para quem ainda tem dúvida disso, é só ler os jornais da mídia corporativa, que sustentam o Governo Yeda Crusius. Mesmo descontextualizando, sem falar em "crise na segurança" como em outros tempos, nem ela consegue esconder a inoperância das polícias.
Ao senhor Sergius Gonzaga, resta dizer que, ao se envolver com esta espécie de gente (Fogaça, Yeda e similares), deixou-se arrastar na lama e se vincula a um episódio nebuloso da História porto-alegrense e gaúcha.
Diante de tanta omissão e covardia, há que se perguntar, quem será capaz de pôr um freio nisso tudo?
Abaixo, segue o excelente texto de Franz Neumann, copiado do Diário Gauche. Temos o maior respeito pela lucidez deste cidadão octogenário.
E que sirva de modelo a toda a terra!
Gefreiter Mendes e a República de Weimar
Afinidades eletivas
A homenagem ao cabo Valdeci, morto em conflito entre soldados da Brigada Militar e o MST na Esquina Democrática, após dezoito anos do fato, é sintoma da persistência de processos de longo curso na história brasileira.
Em nome de uma paz abstrata reforça-se o espírito de conciliação, caro às elites brasileiras, e se procura criminalizar movimentos sociais, como o MST, cuja pauta de lutas encontra suas raízes mais profundas na questão agrária sempre discutida e irresolvida desde a abolição da escravatura.
Em que pese os modestos resultados conseguidos a muito custo, mais pela compra de terra, do que pela expropriação, a resistência sempre foi feroz. Basta se examinar a lista infindável de assassinatos no campo.
A modernização capitalista no Brasil segue o modelo prussiano de desenvolvimento. Daí as similitudes possíveis com a República de Weimar (1919-1933), proclamada após a derrota alemã na 1ª Guerra, portadora de promessas que ficaram a meio caminho devido a conciliação da social democracia com os interesses econômicos conservadores, a timidez em enfrentar seus representantes encastelados no Judiciário, no Exército e na Polícia. Passado o momento crítico de enfrentamento da ala esquerda (Rosa de Luxemburg, Karl Liebknecht e outros) e algumas aventuras direitistas fracassadas entre as quais a tentativa de sublevação fascista em 1923, a Alemanha, entre 1924 e 1929 atingiu níveis de desenvolvimento (apesar do endividamento da indústria e da política de reparações), similares ao norte-americano. A crise de 1929 quebrou em definitivo as ilusões, propiciando a aproximação entre as elites burguesas e o movimento fascista, em ascensão.
O resultado é sabido. Diga-se, a bem da verdade, que a bolchevização do PC alemão impediu-o de compreender a complexidade da situação.
A história brasileira, nas suas devidas proporções, possui analogias com o processo alemão, a contar da redemocratização brasileira, em meados dos anos oitenta. Euforia econômica cíclica, daí o eterno debate sobre a sustentabilidade, a imensa dificuldade das elites em partilhar o que seja, uma democratização truncada, modestos avanços sociais do atual governo (vistos como uma ameaça populista), uma elite estamental burocrática defendendo sem nenhum pejo privilégios pré-burgueses ( para tanto basta uma leitura das últimas decisões do Supremo na defesa de seus pares de classe), e o que é grave, a compreensão conveniente por parte de setores do Exército (que parecem hegemônicos) de que a anistia incorporaria crimes como tortura, que mesmo no regramento arbitrário da ditadura não era admitida.
Assim, a homenagem ao cabo Valdeci é simplesmente o efeito provinciano de dilemas nacionais irresolvidos, com um agravante: a relativa autonomização de setores policial-repressivos do Estado, algo em esboço no plano nacional, que poderá ou não frutificar na medida do grau de conciliação e do temor de setores burgueses frente a perspectiva de ampliação da cidadania. O estado de exceção constrói-se paulatinamente, mobilizando-se o medo e a insegurança coletiva em nome da paz dos cemitérios.
Mas de que decorre a relativa autonomização? Do silêncio e da pusilanimidade das autoridades.
A homenagem foi resultado da iniciativa do Gefreiter Mendes, da pusilanimidade do Secretário Municipal de Cultura, Sergius Gonzaga, e do Conselho respectivo, que “corajosamente” consentiram a construção do mini-obelisco a trinta metros da Esquina Democrática. Nenhuma palavra balbuciou a governadora tucana, constitucionalmente comandante-em-chefe da Brigada e tão pródiga em palavras na “defesa” de sua honra. E o que esperar do prefeito Fogaça?
Como disse a digna viúva do soldado Valdeci (que não compareceu à dita homenagem) em entrevista: “a homenagem foi para fazer mídia”.
Fica claro que, para se constituir uma sociedade que aceite paulatinamente o fascismo é necessário como primeiro passo degradar e envilecer as almas.
Artigo do professor alemão Franz Neumann, especial para o blog DG.
Foto: Dialógico.
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