Confira a entrevista de Bernardo Corro Barrientos, publicada no livro BOLÍVIA jakaskiwa, a respeito das razões do separatismo das elites de Santa Cruz. Selecionamos alguns trechos:
Naquela parte de Bolívia, que é mais da metade do território, havia apenas pequenos povoados dispersos e sem nenhuma expressão. Então, além de intentarem um princípio de desenvolvimento econômico, trataram de levar para o território a presença do Estado Nacional, alguns serviços públicos, investimentos e estradas, que não existiam. Santa Cruz vivia de costas para a Bolívia, ou a Bolívia vivia de costas para Santa Cruz.
Dessas condições brutais de trabalho ao racismo, e à elaboração de um sistema de idéias que justificasse a condição de exploração e de inferioridade, é um passo. O sistema vem desde os tempos dos espanhóis, que instalaram modelos de trabalho agrário substituindo os antigos senhores incas, que também tinham grandes propriedades. Se bem que existiam as terras indígenas comunitárias, na forma de ayllus, também houve propriedades particulares.
Mas os investimentos dirigidos à Santa Cruz também padeciam dos mesmos problemas, isto é, corrupção e ineficiência. Latifundiários e produtores rurais recebiam empréstimos, mas raramente pagavam suas dívidas, e essa é uma das origens das grandes fortunas da província de Santa Cruz de la Sierra. As terras eram concessões do Estado, ou pura e simplesmente usurpadas das comunidades indígenas, que já viviam desde muito tempo na zona. Foi esse o começo da classe dominante de Santa Cruz.
A partir de 1980, mais ou menos, impera na Bolívia, como na maioria das nações latino-americanas, e também no Brasil, o nefasto consenso de washington.
Tudo o que se disse até agora sobre sua riqueza e modernidade é ficção. Na realidade, o que há na região de Santa Cruz é um modelo produtivo atrasado, semifeudal e nada competitivo, internacionalmente.
Os latifundiários de Santa Cruz também não são tão empresários quanto se auto-denominam. A maioria deles nada produz, e vive do aluguel de partes dos latifúndios, sobretudo a pequenos e medianos agricultores brasileiros e argentinos. Ou seja, a maior parte dos latifundiários cruzenhos é de empresários rentistas que vive na ociosidade e do aluguel de terras.
Querem separar-se, e não apenas uma autonomia administrativa regional, porque desta forma legitimam e preservam os latifúndios que estão sendo questionados pelo governo central, além desfrutar, mais tarde, de subsídios gerados pela exportação de gás e petróleo.
Quem é que vai se beneficiar com as riquezas produzidas pelo petróleo e pelo gás da Bolívia? Serão umas cem famílias de Santa Cruz, alguns banqueiros e ninguém mais. Isso é Santa Cruz de la Sierra: cem famílias de latifundiários e pecuaristas, sendo que vários ainda empregam mão de obra servil. Não pagam salários aos trabalhadores. É por isso que impedem que funcionários do governo investiguem suas fazendas.
Hoje se diz que metade dos latifundiários de Santa Cruz é formada de brasileiros, argentinos, alemães, croatas e sérvios da ex-Iugoslávia, um país que também foi desmembrado, da mesma forma como pensam fazer com o leste da Bolívia. É gente que não tem pátria, e nada impede que pensem em criar uma.
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