Ernesto Germano Parés – 10 de setembro de 2008
Ligo o computador, nesta manhã, e vou ler os jornais. Surpreso, deparo com uma chamada no Jornal do Brasil: “Grupos de direita queimam instalações de canal estatal na Bolívia”. A matéria é bem cheia de detalhes e diz que “Uma multidão de manifestantes de direita contrária ao governo do presidente boliviano, Evo Morales, saqueou e incendiou o escritório regional do canal de televisão estatal na cidade de Santa Cruz (...)” e descreve as ações da seguinte maneira: “Os manifestantes saquearam o escritório, destruíram computadores e móveis e fizeram uma fogueira na porta de entrada do prédio...”.
Pouco adiante, a matéria informa que “Ações semelhantes ocorreram em povoados das regiões de Beni e Tarija, onde grupos civis de oposição a Morales tomaram uma usina petroleira, mas não conseguiram cortar o fornecimento de gás natural para o Brasil.”
Passei por outros jornais – Folha de São Paulo, Estadão, Globo, etc – e cheguei ao Tribuna da Imprensa onde li que “Os manifestantes têm o apoio de cinco dos nove governadores da Bolívia, (...). Outros grupos militantes bloquearam as rodovias no leste da Bolívia, parando caminhões que transportavam gás liquefeito de petróleo e diesel.”
Foram seis jornais consultados, na internet, e uma curiosidade: em qualquer deles vi um só adjetivo que nos levasse a imaginar que as atitudes são ilegais e condenáveis. Em nenhuma das matérias eles são chamados de baderneiros ou
terroristas. Nenhuma das matérias fala em desrespeito à democracia! Aliás, nenhuma fala que o presidente Evo Morales foi eleito democraticamente e que é o legítimo representante boliviano. Também não vemos referência ao recente referendo popular que demonstrou a legitimidade e o apoio ao governo.
Nada! Uma matéria escrita de forma asséptica, sem emoção e sem posição, como penso que deveriam ser sempre as notícias dos jornais.
O jornal Estado de São Paulo chega a colocar que “Oposição boliviana faz bloqueios e ameaça cortar gás para o Brasil”. Atraído pela matéria, busquei atentamente uma só palavra condenando o ato dos manifestantes ou de indignação pela possibilidade de ficarmos sem o gás que compramos. Nada! Apenas a notícia, de forma simples e limpa.
Não vi qualquer comentarista exigindo “respeito aos acordos assumidos”, como aconteceu quando o presidente Evo Morales nacionalizou as riquezas minerais do país. Incrível, desta vez ninguém “sugeriu” que o Brasil deveria invadir a Bolívia para garantir o fornecimento de gás, como aconteceu no caso das nacionalizações.
Agora fico pensando: e se fosse diferente? Sim, se isto estivesse acontecendo, por exemplo, na Colômbia onde o presidente Uribe, apoiado por Bush e pela direita latino-americana, tenta emplacar um terceiro mandato que é
inconstitucional? E se militantes da oposição a Uribe fossem para as ruas denunciar o golpe de Estado para conduzir novamente o canalha ao poder?
Imaginemos um grupo de militantes contrários ao governo Uribe indo para as ruas e impedindo a passagem de caminhões! Sim, um bloqueio das rodovias da Colômbia, como foi feito na Bolívia.
Certamente nossos jornais estariam exigindo a presença das “forças legais” que garantissem o “direito de ir e vir dos cidadãos”. Por certo já estariam adjetivando o movimento como “irresponsáveis”, “baderneiros” e mesmo “terroristas”.
Por fim, como não poderia deixar de ser, vemos a verdadeira face da imprensa e encontramos uma “escorregada” do jornal Estado de São Paulo. A matéria diz que “O objetivo é protestar contra o projeto de uma nova Constituição, aprovado por parlamentares governistas em novembro, que Evo pretende referendar em votação em dezembro.”
Repararam a maldade da matéria? O “jornalista” escreve que a Constituição foi “aprovada por parlamentares governistas”, em flagrante distorção da verdade. A Constituição foi aprovada por ampla maioria do Congresso boliviano e contrariou os interesses de uma minoria de grandes proprietários. Mas o jornalista fajuto não consegue esconder que, apesar de já ter sido votada, o presidente Evo Morales ainda vai submetê-la a aprovação popular.
Ao invés de baderna, por que a “oposição” boliviana não faz campanha contrária para as eleições de dezembro?
Respondo: porque sabem que serão derrotados e que não resta outro caminho para eles senão o golpe, apoiado por Washington.
______________
Mensagem recebida por endereço eletrônico.
Apenas para membros do grupo: http://br.groups.yahoo.com/group/3setor/message/68360
Ligo o computador, nesta manhã, e vou ler os jornais. Surpreso, deparo com uma chamada no Jornal do Brasil: “Grupos de direita queimam instalações de canal estatal na Bolívia”. A matéria é bem cheia de detalhes e diz que “Uma multidão de manifestantes de direita contrária ao governo do presidente boliviano, Evo Morales, saqueou e incendiou o escritório regional do canal de televisão estatal na cidade de Santa Cruz (...)” e descreve as ações da seguinte maneira: “Os manifestantes saquearam o escritório, destruíram computadores e móveis e fizeram uma fogueira na porta de entrada do prédio...”.
Pouco adiante, a matéria informa que “Ações semelhantes ocorreram em povoados das regiões de Beni e Tarija, onde grupos civis de oposição a Morales tomaram uma usina petroleira, mas não conseguiram cortar o fornecimento de gás natural para o Brasil.”
Passei por outros jornais – Folha de São Paulo, Estadão, Globo, etc – e cheguei ao Tribuna da Imprensa onde li que “Os manifestantes têm o apoio de cinco dos nove governadores da Bolívia, (...). Outros grupos militantes bloquearam as rodovias no leste da Bolívia, parando caminhões que transportavam gás liquefeito de petróleo e diesel.”
Foram seis jornais consultados, na internet, e uma curiosidade: em qualquer deles vi um só adjetivo que nos levasse a imaginar que as atitudes são ilegais e condenáveis. Em nenhuma das matérias eles são chamados de baderneiros ou
terroristas. Nenhuma das matérias fala em desrespeito à democracia! Aliás, nenhuma fala que o presidente Evo Morales foi eleito democraticamente e que é o legítimo representante boliviano. Também não vemos referência ao recente referendo popular que demonstrou a legitimidade e o apoio ao governo.
Nada! Uma matéria escrita de forma asséptica, sem emoção e sem posição, como penso que deveriam ser sempre as notícias dos jornais.
O jornal Estado de São Paulo chega a colocar que “Oposição boliviana faz bloqueios e ameaça cortar gás para o Brasil”. Atraído pela matéria, busquei atentamente uma só palavra condenando o ato dos manifestantes ou de indignação pela possibilidade de ficarmos sem o gás que compramos. Nada! Apenas a notícia, de forma simples e limpa.
Não vi qualquer comentarista exigindo “respeito aos acordos assumidos”, como aconteceu quando o presidente Evo Morales nacionalizou as riquezas minerais do país. Incrível, desta vez ninguém “sugeriu” que o Brasil deveria invadir a Bolívia para garantir o fornecimento de gás, como aconteceu no caso das nacionalizações.
Agora fico pensando: e se fosse diferente? Sim, se isto estivesse acontecendo, por exemplo, na Colômbia onde o presidente Uribe, apoiado por Bush e pela direita latino-americana, tenta emplacar um terceiro mandato que é
inconstitucional? E se militantes da oposição a Uribe fossem para as ruas denunciar o golpe de Estado para conduzir novamente o canalha ao poder?
Imaginemos um grupo de militantes contrários ao governo Uribe indo para as ruas e impedindo a passagem de caminhões! Sim, um bloqueio das rodovias da Colômbia, como foi feito na Bolívia.
Certamente nossos jornais estariam exigindo a presença das “forças legais” que garantissem o “direito de ir e vir dos cidadãos”. Por certo já estariam adjetivando o movimento como “irresponsáveis”, “baderneiros” e mesmo “terroristas”.
Por fim, como não poderia deixar de ser, vemos a verdadeira face da imprensa e encontramos uma “escorregada” do jornal Estado de São Paulo. A matéria diz que “O objetivo é protestar contra o projeto de uma nova Constituição, aprovado por parlamentares governistas em novembro, que Evo pretende referendar em votação em dezembro.”
Repararam a maldade da matéria? O “jornalista” escreve que a Constituição foi “aprovada por parlamentares governistas”, em flagrante distorção da verdade. A Constituição foi aprovada por ampla maioria do Congresso boliviano e contrariou os interesses de uma minoria de grandes proprietários. Mas o jornalista fajuto não consegue esconder que, apesar de já ter sido votada, o presidente Evo Morales ainda vai submetê-la a aprovação popular.
Ao invés de baderna, por que a “oposição” boliviana não faz campanha contrária para as eleições de dezembro?
Respondo: porque sabem que serão derrotados e que não resta outro caminho para eles senão o golpe, apoiado por Washington.
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Mensagem recebida por endereço eletrônico.
Apenas para membros do grupo: http://br.groups.yahoo.com/group/3setor/message/68360
4 comentários:
Sabino Verdureiro, estás redondamente enganado, se pensas que comentários racistas, preconceituosos e fascistas serão permitidos no nosso blog.
Como lês apenas o que te interessa, segue extrato do artigo do diplomata Samuel Pinheiro Guimarães sobre populismo:
61. Todavia, a academia, os organismos internacionais, a imprensa e os governos dos países altamente desenvolvidos permanecem convictos de que, para os países da periferia, o nacionalismo, que é o oposto do cosmopolitismo globalizador, e o populismo, que é o oposto do liberalismo radical, são dois males gêmeos a serem atacados e erradicados a qualquer preço. Para esses países subdesenvolvidos o melhor, para o seu bem (ou mal) seria se entregarem aos caprichos das vagas violentas da globalização radical e selvagem, cujos méritos são louvados dia e noite apesar das crises econômicas decorrentes da desregulamentação, da especulação dos mercados financeiros, do crescente hiato econômico e social entre o centro e a periferia do sistema e do renascer nos países centrais do nacionalismo econômico e do nacionalismo xenófobo contra os imigrantes da periferia. Periferia sempre vista como inferior por ser negra, índia ou amarela, bárbara, infiel e turbulenta.
Engraçado eu sou faço uma crítica e vc remove meu comentário sem replicar, novamente apela pra citações vazias. Eu não sabia que discordar era considerado fascismo.
Como sempre, é bem mais fácil chamar alguém de fascista do que discutir racionalmente.
Mas não preciso me preocupar com isso já que vc provavelmente vai apagar este comentário da mesma forma que apagou o outro não é mesmo?
Procuro entender as opiniões com as quais eu não concordo (afinal, sempre podemos perder um ponto de vista), por isso leio o seu blog e vários outros.
Vc no entanto, me parece mais ideológico do que racional, se importa mais em parecer certo para os seus leitores do que fazer sentido no que escreve.
O que só fortalece meu argumento contra fanatismos ideológicos. Não acho que vc se importe, mas acaba de perder um leitor ;-)
Sabino, na nossa casa, só entra quem a gente gosta e quem tem afinidade conosco, correto?
Toda a pessoa que vier nos visitar e nos afrontar com expressões grosseiras, difamatórias - no caso, você se referiu ao Pres. Evo Morales como "muquirana" - das pessoas, dos povos, dos movimentos sociais contra-hegemômicos, injustiçados, depauperados, enfim, daqueles que lutam contra o neoliberalismo, bandeiras que nós do Dialógico defendemos, e que o senhor tem a cara de pau de chamar de fanatismo (como se a sua opinião também não fosse "fanática" ou ideológica) serão convidados a se retirarem sem dó, nem piedade.
Uma coisa é crítica à direita (coisa difícil de encontrar, porque a direita não argumenta, e sim, agride), outra coisa, é ofensa. O senhor veio aqui ofender, portanto, não venha se fazer de vítima.
Dizer que o Evo "colheu o que plantou" por não respeitar as instituições, foi dose também. Nacionalizar a riqueza e chamar uma assembléia constituinte, cujo resultado ainda irá para referendo, para o senhor, significa isso!
E se poupe também. O senhor não gosta do que lê aqui. Faça como nós fazemos: a gente se recusa a entrar em determinados blogues por total falta de afinidade ideológica! Ganhe o seu tempo com os seus e aprenda a ser educado com os seus contrários. Assim, fique na sua e engrosse a fileira daqueles que pensam como o senhor.
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