20 de outubro de 2008

O momento é grave

Reproduzimos manifesto do CPERS-Sindicato, escrito no dia do confronto com a BM, exigindo a saída da Governadora Yeda Crusius.
PORTO ALEGRE SITIADA
Hoje, 16 de outubro, a “Marcha dos Sem”, uma tradicional manifestação unitária dos movimentos sindicais e populares do Rio Grande do Sul, que se repete todos os anos, desde 1995, e que desta vez contava com 5 mil manifestantes, foi reprimida com selvageria por aproximadamente 400 soldados da Brigada Militar, na Praça da Matriz em Porto Alegre, a poucos metros da Catedral Metropolitana e do Palácio Piratini.

Com o objetivo de impedir que o carro de som estacionasse em frente ao Palácio, membros do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar jogaram três bombas sobre a vanguarda da passeata, o suficiente para ferir 17 pessoas, a maioria na cabeça, com queimaduras feitas pela pólvora, o que por si só atesta o alto poder explosivo dos artefatos. Refeitos da surpresa da covarde e revoltante agressão, os manifestantes recompuseram-se e não arredaram pé da Praça da Matriz.

A força da manifestação, assim como a intercessão dos deputados estaduais Raul Carrion (PCdoB), Raul Pont (PT), Dionilso Marcon (PT) e Ronaldo Zulke (PT), que de início também foram agredidos, acabou logrando afastar a barreira da Brigada Militar em alguns metros, o suficiente para que o carro de som pudesse estacionar em frente ao Palácio, instalando o ato público no lugar anteriormente programado, fato que significou uma grande vitória do movimento sindical e popular gaúcho contra a repressão fascista.

Depois de concluída a manifestação, quando a Praça da Matriz estava praticamente esvaziada, um policial militar recolhia dos canteiros alguns pequenos galhos apodrecidos de jacarandá ali caídos e algumas pedras portuguesas soltas da calçada. Depois os policiais mostraram para a reportagem da televisão aquelas “armas” dizendo que haviam sido usadas pelos militantes contra a Brigada Militar. Mentira. Os achados foram feitos exatamente no sítio onde estavam postados os manifestantes, e não no asfalto da rua, onde havia estado antes a tropa de policiais militares, e onde deveriam estar as pedras caso tivessem sido arremessadas contra os soldados.
As agressões da Brigada Militar aos movimentos sindicais e populares tem sido uma constante em Porto Alegre. Eis alguns exemplos:

Em 13/6/2008, uma manifestação da Via Campesina, MST, MTD e MNLM foi barbaramente atacada pela Brigada Militar com balas de borracha e gás lacrimogêneo no Parque da Harmonia, quando se dirigia à Praça da Matriz, causando dezenas de feridos. O carro de som dos manifestantes foi atacado pelos policiais militares, que jogaram ao chão, do alto da estrutura de quatro metros, os militantes que ali estavam. Como o veículo foi seqüestrado pela Brigada, o Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA) emprestou um automóvel com equipamento de som, também atacado a cacetadas, para capturar algumas crianças do MST ali dentro refugiadas. O veículo teve os pneus esvaziados e também foi seqüestrado.
Em 16/9/2008, o choque e a cavalaria da Brigada Militar investiram contra uma manifestação do CPERS-Sindicato, que buscava uma audiência com a governadora, agredindo com violência os trabalhadores em educação e a Diretoria do Sindicato.

O governo Yeda Crusius, identificado com os interesses da grande burguesia gaúcha, passa por uma crise política permanente, desgastado pela corrupção, e com uma rejeição medida pelas pesquisas de opinião, em mais de 60%.

Para se sustentar, em meio à crescente impopularidade, o governo Yeda está transformando o Rio Grande do Sul em um estado policial militar, onde a questão social é tratada como questão de polícia, como era na República Velha.
O Palácio Piratini vai ganhando semelhança com um “bunker”, onde se refugia a Governadora. O responsável pela sua proteção é o Coronel Mendes, comandante da Brigada Militar, uma pessoa com mentalidade de inspiração fascista, que reprime com violência os movimentos sindicais e populares e a juventude, que questionam a política anti-popular do governo. Nas suas declarações à imprensa, o Coronel não faz distinção entre sindicalista e bandido. Para eles todos são “desocupados”.
É preciso reagir contra este autoritarismo, que faz a gente lembrar a Porto Alegre e o Rio Grande do Sul da época das manifestações populares reprimidas pela ditadura militar, cujo instrumento de opressão era a mesma Brigada Militar.

É preciso que todos saiam as ruas, que o conjunto das organizações sindicais e populares, e a juventude, assumam a luta contra a criminalização dos movimentos dos trabalhadores e que a Assembléia Legislativa saia da sua indiferença, fingindo que não vê o que se passa a poucos metros de sua porta.
Atentem na repressão que está sendo desencadeada a partir do Palácio Piratini. Ela já está fora de controle, e representa uma ameaça às liberdades democráticas.

Fora Yeda!

Em 16/10/2008

CLOVIS CARNEIRO DE OLIVEIRA

Secretário Geral do CPERS-Sindicato
Foto: Dialógico

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