Publico partes de dois artigos de Elaine Tavares (jornalista, professora da UFSC), residente em Florianópolis, que tratam do transporte coletivo na cidade e da enchente em Santa Catarina. Dedico este post às pessoas eleitoras do Fogaça e dessa catrefa de vereadores portaleiros (antigos e os que estão por assumir, caso se transfira qualquer decisão para 2009).
E, principalmente, às pessoas que lutam pela qualidade de vida em Porto Alegre, uma luta que deve ser cada vez mais intensificada em tempos de Portais da Cidade, Projeto Pontal do Estaleiro, Espigão da Lima e Silva e mudança do Plano Diretor.
Um passeio pelo inferno (4/11/2007):
Chove a cântaros em Florianópolis. São seis e 15 da tarde e saio do trabalho como um bagaço. Foi um longo dia. A sombrinha comprada no camelô vaza água por cima e molha toda a minha cabeça. [...] Preparo-me para o calvário que me espera. Em Florianópolis ninguém fica menos de meia hora numa parada de ônibus.[...] Passam 35 minutos e eu ali, gelada e com ódio. [...] O Volta ao Morro enfim passa e lá vou eu até o final da Carvoeira para pegar mais um ônibus - na famosa “integração” inventada por Ângela Amin - rumo ao Rio Tavares. [...] Na parada do Rio Tavares se repete o martírio. São 50 minutos de espera sob a chuva. [...] Lá vem ele, enfim. Está lotado até a boca.[...] Não entro. [...] Já são oito horas da noite. E, pensar que da universidade onde trabalho até minha casa são apenas 20 minutos de carro.[...] Às oito horas e trinta e cinco minutos aponta um outro Rio Tavares. [...] São nove e quinze da noite quando chegamos ao terminal do Rio Tavares e só haverá ônibus para o Castanheira às nove e meia. [...] São quase dez horas quando chego em casa. Insanidade. Quatro horas no inferno. [...]
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As chuvas em Santa Catarina
As chuvas que caem a três meses seguidos em Santa Catarina acabaram se transformando em tragédia. E, no meio da dor de milhares de famílias que perderam pessoas e coisas me vêm a mente o célebre debate entre Voltaire e Rousseau, feito através de escritos, pouco depois do terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755. Naquela tragédia européia, morreram mais de 100 mil pessoas, a cidade ficou destruída e os grandes pensadores da época – que eram os que formavam opinião, tal qual hoje a mídia - erguiam os braços aos céus dizendo que era uma fatalidade, obra da providência divina. Voltaire ironizava esta idéia de que o terremoto fosse um castigo de deus e colocava a culpa na natureza. Já Rousseau, mostrava as causas sociais do desastre e apontava: “20 mil casas de seis ou sete andares foram construídas. O homem deveria tê-las feito menores e mais dispersas”. Para ele, era a civilização humana a culpada pelos males que se abatiam sobre ela. Rousseau inocentava assim, a deus e a natureza e lembrava que havia sido a idéia insana de muitos lisboetas de protegerem seus pertences que os levara – muitos – à morte. [...] Pois em Santa Catarina estamos nesse embate. [...] Como na Lisboa do século 18 não há aqui nada de providência divina. [...] A grande mídia exibe os argumentos de Voltaire. A chuva é a grande vilã. Não fosse ela nada teria acontecido. Ninguém fala que a chuva é coisa natural e que desde que o mundo é mundo ela cai, ora mais, ora menos. [...] Eu tendo a fazer uma leitura roussoniana. [...] Afinal de contas, porque os rios transbordam? [...] Que fizeram com eles os homens que habitam suas margens? E os morros que desabam, não teriam sido revirados para a plantação de tubos da gigantesca obra do gasoduto, tão denunciada por ambientalistas e estudiosos no início dos anos 90. Pois naqueles dias eram chamados de loucos, os eco-chatos, os anti-progresso, os que impediam o desenvolvimento. [...] A tragédia que se abate sobre o vale do Itajaí e outras tantas regiões do estado já estava anunciada. [...] Vinha sendo prevista por aqueles a quem as pessoas denominam “os arautos da desgraça”. Os que vêem defeito em tudo, que questionam cada obra faraônica, cada plano diretor mal planejado, cada ação irracional do sistema capitalista. Basta que se dê uma espiada nos relatórios elaborados por estudiosos e ambientalistas, estes que nunca são ouvidos pelos governantes. As obras de prevenção sempre são caras demais e nunca saem do papel. [...]
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