Já toquei nesse assunto e volto a fazê-lo. Por mais que se diga, por mais que se postem provas e documentos, por mais que se apele aos fatos históricos, nada disso importa a um grupo de indivíduos que disseminam seus comentários pela blogosfera de esquerda. Além do genocídio em Gaza, estamos presenciando, também, o genocídio da História. A direita hidrófoba não tem a menor preocupação em se ater aos fatos. O que existe é a história que eles inventam de acordo com a conveniência do momento.
Me reportarei a algumas postagens feitas nos blogues, para demonstrar o quanto o esforço de esclarecer e recuperar a História é como pregar no deserto. Por ex., a publicação do mapa da Palestina, inclusive como imagem do cabeçalho de um blog. Não tinha como não ver. Ali, está toda a evolução da ocupação da Palestina pelos israelenses, desde 1948. Ou artigo de Robert Fisk, onde essa passagem merece especial atenção: "Mas, ao assistir aos telejornais, seria de imaginar que a história começou ontem, que um bando de islâmicos anti-semitas, barbados e lunáticos subitamente irrompeu dos cortiços de Gaza e começou a disparar mísseis contra Israel, um Estado democrático e amante da paz, e por isso atraiu a justa vingança da Força Aérea israelense. O fato de que as cinco irmãs mortas no campo de Jabaliya tenham avós oriundos das mesmas terras cujos proprietários mais recentes as mataram em um bombardeio simplesmente não é mencionado."
Ou então: em artigo para a Carta Maior no último dia 06, La Vieja afirmou, depois de pesquisar o assunto, que "Já se sabe que Israel preparava há seis meses o genocídio em Gaza. Também já se sabe que os ataques palestinos contra o sul de Israel, na noite do último dia 23, ocorreram em resposta à morte, pelo exército judeu, de cinco militantes das Brigadas de Ezedin al-Qassam, braço armado do Hamas. E se sabe ainda que, em novembro último, foi Israel que atirou a primeira pedra após o cessar-fogo estabelecido em junho, em incursões por terra e ar em Gaza, que resultaram na morte de 6 palestinos. Portanto, ainda que isso fosse historicamente relevante, não foi o Hamas que pôs fim ao cessar-fogo."
Ou essa passagem: “…Porque haveriam os árabes de querer a paz? Se eu fosse um líder árabe nunca iria parlamentar com Israel. É óbvio: nós ocupamos a terra deles. É certo que Deus tinha-no-la prometido, mas que significa isso para eles? (...) Houve o anti-semitismo, os nazis, o Hitler, Auschwitz, mas que culpa tiveram eles? Os árabes apenas vêem uma coisa: que viemos para aqui, que roubamos as suas terras. Porque haveriam de aceitar tal coisa?....” Ex-Primeiro ministro David Ben Gurion - um dos fundadores do estado de Israel. Extraído do livro “The Jewish Paradox”, de Nathan Goldman (ex-presidente do World Jewish Congress).
No entanto, a direita simplesmente aboliu a História como referência para qualquer avaliação sobre a situação no Oriente Médio, e faz tábula rasa de tudo isso! Assim como aboliu o fato do Hamas ter sido criado em 1986 e não em 1948. Como também aboliu o fato, por exemplo, de que o Irã não foi sempre uma teocracia de "aiatolás tresloucados" e que, quando tentou ser um pais democrático no governo de Mossadeg, essa tentativa foi pisoteada, pelos EUA, com um golpe de estado.
A direita simplesmente abole tudo o que é relevante nessa discussão! O que vale mesmo é dizer que "essa história está repleta de malvadezas". Que todas os fatos tem o mesmo peso e a mesma medida.
No final das contas, o contraponto da direita a isso tudo se resume a um joguinho de frases de efeito, de mentiras e de cinismo. Isso sem falar, é claro, na enxurrada de ofensas e imbecilidades do tipo: ...."A patrulha ideológica da hipocrisia não perdoa. Os boizinhos têm que estar todos afinadinhos"..."Interessante o silêncio hipócrita do Marcon sobre a tirania do Hamas, financiado pelo estado medieval do Irã"... "resumiu muito bem a postura medíocre de certa esquerda ignorante no Caderno Mais da Folha do último domingo".
Em nome do que temos que aturar isso??? Da democracia? Tenho uma opinião muito precisa a esse respeito: não são os nossos blogs que tem de ser democráticos. É a democracia e o acesso universal a Internet que precisam ser garantidos! Ali, todos, inclusive os fascistas que nos brindam com suas asquerosas presenças, podem construir os seus blogs e defender as barbaridades que bem entendem.
Sim, porque eles estão reivindicando, raivosamente, o direito de expressar a sua "opinião", quando essa "opinião" significa, nada mais, nada menos, que defender a "idéia" de que um povo tem o direito de massacrar outro povo!!! Iremos debater ou pactuar com isso? A que ponto chegamos!!!
Nós, que reconhecemos o genocídio na Palestina, temos deixado clara a nossa posição. Mas também precisamos repensar o acesso de determinados indivíduos aos espaços que mantemos na Internet, a custa do nosso esforço pessoal. Ainda mais, se considerarmos que alguns deles são profissionais remunerados para cobrir a rede de blogs de esquerda com suas interferências, a fim de tumultuar os debates relevantes. Quem duvida disso, é só verificar a quantidade de comentários que alguns deles colocam na rede de blogs.
Esse momento é muito sério, pois além da guerra genocida, também se trava uma batalha de informação. Não podemos ficar tergiversando e aguentando essa verdadeira campanha fascista dentro de nossos espaços, só para parecer que somos tolerantes.
Alguém poderá dizer: mas precisamos saber o que essa gente pensa! E eu pergunto: mas ainda não sabemos??? E se precisarmos saber, é só ir nas suas fontes, sem precisar da intermediação desses garotos de recados.
Precisamos concentrar nossos esforços em questões mais objetivas, como foi o caso da denúncia lida no RS Urgente e desencadeada pelo blog La Vieja Bruja* em relação ao vergonhoso comportamento do deputado Adão Villaverde. Esse é o nosso papel: usar os nossos espaços para informar e cobrar coerência de quem elegemos. E não ficarmos batendo boca com fascistas de aluguel. Tenho certeza, que nesse caso, a blogosfera cumpriu o seu papel, ao tornar pública a pusilanimidade do deputado. Tenho certeza que deve estar pensando se valeu a pena trocar os votos da sua base pelas graças de um poder paralelo que não tem nenhum compromisso com ele.
Há uma coisa muito perigosa acontecendo em alguns blogs, onde se estabeleceu uma convivência promíscua entre opiniões sérias e sofismas fascistas, entre trolls e antitrolls, numa espécie de antesala do inferno, um vale tudo. Uma pena, por que essa lambança, mais cedo ou mais tarde, cobrará seu preço.
Temos que banir, dos nossos blogs, esse flagelo da pós-modernidade, onde tudo parece ser, não sendo, onde parece não fazer diferença ter essa ou aquela opinião. Temos que estabelecer uma referência, deixar claro que o nosso espaço é comprometido com idéias específicas, onde não há lugar para dubiedades, onde a história tem seu papel como norteador de nossas reflexões e onde um massacre não seja aceito como "medida legítima de autodefesa".
Para finalizar, reproduzo esse parágrafo publicado no RS Urgente, sobre a decisão de Evo Morales de romper relações com Israel: "Há quem ache que esse tipo de decisão não tem nenhum efeito prático, por se tratar da Bolívia, um país da periferia do sistema político mundial, e pelo fato de Israel não reconhecer o Tribunal Penal Internacional. Mas a decisão de Evo Morales tem uma dimensão simbólica que aponta para algo que está fazendo falta no mundo: a força do exemplo. Como diz um velho adágio, a palavra convence, o exemplo arrasta."
Se não for por tudo dito até aqui, se tudo o que pudermos fazer for dificultar o acesso dos fascistas aos espaços de opinião mantidos por nós, então que façamos esse pequeno gesto em nome da causa maior. Os que estão na frente de combate e sobreviverem, seja em Gaza, Iraque, Colômbia, México, Curdistão ou em qualquer lugar do mundo onde se trava a luta contra o fascismo, tenho certeza, nos agradecerão.
Eugênio
Fotos da marcha Pró-Palestina em Porto Alegre, 13 de janeiro de 2009: Dialógico*Atualizado em 15/01/09, 18h20min. Gracias, La Vieja!
9 comentários:
Excelente análise, Eugênio.
Abraços.
Sem comentários. O Marco, outro dia já tinha proposto "cortar as asas" da trupe facistóide. Concordo plenamente, eles que criem os seus blogs e coloquem todas as asneiras que quizerem.
Apoiado! No meu blog há muito adotei esta postura. Comentários fascistas (ou colorados em excesso ;-)) são deletados. Em outros blogs, que são mais frequentados do que o meu, o conteúdo das postagens seguidamente é dispersado por uma provocação barata de um Maia da vida e assim se perde um espaço de discussão e reflexão. O que, no fim das contas, é o que querem os provocadores. Abraços!
Ótimo texto, Eugênio!
Eu adoto a moderação de comentários no meu blog, em geral libero quase tudo, mas estou repensando tal "política de comentários". Penso em talvez fazer como o blog Porto Alegre Resiste: quando algum desconhecido deixar comentário no Cão, pedir confirmação do endereço de e-mail. Pois em geral os fascistóides escondem a cara atrás de pseudônimos e endereços falsos de e-mail.
E assim como o Kayser, penso em fazer o mesmo com os colorados em excesso, hehehe... Pois assim como os comentários fascistas, os colorados "pifados" causam exatamente o que o Kayser disse: se esquece de discutir o tema da postagem.
Que não reclamem de falta de democracia: eles que criem um blog para escreverem suas besteiras! Tanto os fascistas como os colorados "pifados".
Abraços
Concordo plenamente. A direita fascista e amnésicajá tem seus baluartes na mídia para destilar sua hipocrisia e mentiras. Acho que alguns sionistas aprenderam muito bem as lições do tio Goebbels que dizia que uma mentira, dita mil vezes, torna-se verdade. Os blogueiros do bem dedicam seu precioso tempo por uma causa nobre para se desgastar com esses fascistas de merda. Vão opinar na Zero Hora, ou então no site do Políbio.
Ah. Post muito esclarecedor.
Bem sacado Eugênio, os espertinhos largam duas ou três frases feitas e nos obrigam a fazer um dabate supérfluo atingindo seus objetivos que é desviar o foco da mensagem/denúncia.
Simch
Deturpar conceitos é o que mais adoram fazer: liberdade, democracia, radicalismo... - tudo toma nova forma semântica nas suas falas. Eu não tolero também. Se é colorado demais, ou facista, no meu blog, ou deixo sozinho, no silêncio, ou passo a "faca".
Abraços!
Eugênio, acredito que cada espaço deva ter uma política clara sobre a questão dos comentários. É bom também deixar claro os alinhamentos ideológicos do blog ou site em espaço destacado e permanente. Nesse caso da questão do massacre de Gaza, acho ainda mais apropriado filtrar os comentários. Além dos fascistóides pagos, existem os "voluntários organizados". Explico: depois do massacre do Líbano(2006) uma associação sionista criou um software para avisar os engajados na desinformação para que comentem em espaços virtuais, respondam enquetes e participem de fóruns com o objetivo de tumultuar e manipular a opinião pública. Para ver do que estou falando, basta acessar os links abaixo:
http://en.wikipedia.org/wiki/Megaphone_desktop_tool
http://www.giyus.org/index.html
Acredito que devemos realmente considerar a possibilidade de uma filtragem mais rígida dos comentários em nossos espaços para evitar a ação desses grupos.
Forte abraço.
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