Graças ao blog Óleo do Diabo, lemos dois textos de Nicollás Casulo [A política em mãos da oposição midiática e Comecemos a discutir a direita] intelectual argentino que, segundo o Idelber, "Só mesmo a imbecilidade do muro de Tordesilhas justifica o desconhecimento da obra de Nicolás no Brasil", da qual fazemos coro, uma vez que é a primeira vez que lemos este autor, falecido em outubro de 2008.
Pensando na eleição da Yeda e na reeleição do Fogaça, após ler o artigo de Jessé Souza abaixo, impossível deixar de destacar o seguinte parágrafo de Comecemos a discutir a direita, tradução do Miguel do Rosário:
A história: será sempre, sobretudo, a descoberta individual. O caso. Os antípodas das massas como história. A pobreza: uma latente ameaça delitiva, uma paisagem de miséria inalterável como tipologia do “mau” na cidade. A cultura distancia o espectador. A fome: algo que já não teria ideologia nem biografia social, um ícone solto num frasco para qualquer retórica política. O policial: o que deveria incorporar-se idealmente, como ortopedia, ao núcleo familiar protegido. Um policial sempre a meu lado. O Estado regulador, interventor, cobrador: um espaço ineficiente (ilegitimado), que “gasta o meu dinheiro”, e corrupto (por ser político). A política: um descrédito em mãos de preguiçoso que podia tanto existir como não existir. A nota policial: o amedrontamento e o protesto por segurança passa a ser o verdadeiro estado social da velha política a cancelar. O que escapa da “Lei e Concórdia” do mercado. O comunitário: uma utopia solitária entre eu, o negócio e “meu bolso” (tenha 100 pesos ou mil hectares de terra). O nacional: um espaço a-histórico, sempre no limite do caos e que só cria vítimas. Com habitantes nunca representados por ninguém, somente pelo foco da câmera, e onde a única notícia é que a política já falhou, para sempre, antes de começar. A nova comunidade pós-solidária é agora uma sociedade com uma arquitetura de serviços que “devem me servir” com a eficiência modelo de um seleto agente privado. Já não sou parte de uma memória do público, dos hospitais sociais e universidades políticas hoje em crise, mas me transformei num cliente exigente do outro lado do balcão. A liberdade: uma simples passagem de “livre consumidor” para um “votante livre” sem identidade, elogiado por não ter partido, moldado diferentemente a cada eleição, a ponto de comprar algo “genuinamente”entrando nas vitrines do quarto escuro. A gente: um “eu” sublimado, absolvido enquanto construção narrativa. Uma unidade pessoal “autêntica”, que representa muitos, enquanto esses muitos não se constituam em outro tipo de “eu” (como sujeito político identificado), e permaneçam como infinita classe média de “empregados” do capitalismo, em uma competitiva e ansiada igualdade de explorados. O sindical, o popular, os desocupados: uma realidade indiscernível de homens-grupo. Algo do qual devo manter distância da minha vida, e que o Estado “não deve atender”. Seres organizados para algo que nunca se sabe. Imagem mítica nas telinhas, com paus e cajados. Não brancos, perigosos em grupo, dirigidos por vagos, destacados, chefes de barricadas ou líderes pagos. Um outro cultural e existencial que, como nunca, na Argentina da plenitude informativa e formativa, alcançou quase o apogeu de uma luta cultural de classes do gorila sobre o peronista, como um racismo não dissimulado sobre o popular, sindical e piquetero: universo da negatividade política, do voto subnormal, o voto “comprado”.
Leitura completa AQUI, ou se preferirem ler em espanhol, AQUI.
Pensando na eleição da Yeda e na reeleição do Fogaça, após ler o artigo de Jessé Souza abaixo, impossível deixar de destacar o seguinte parágrafo de Comecemos a discutir a direita, tradução do Miguel do Rosário:
A história: será sempre, sobretudo, a descoberta individual. O caso. Os antípodas das massas como história. A pobreza: uma latente ameaça delitiva, uma paisagem de miséria inalterável como tipologia do “mau” na cidade. A cultura distancia o espectador. A fome: algo que já não teria ideologia nem biografia social, um ícone solto num frasco para qualquer retórica política. O policial: o que deveria incorporar-se idealmente, como ortopedia, ao núcleo familiar protegido. Um policial sempre a meu lado. O Estado regulador, interventor, cobrador: um espaço ineficiente (ilegitimado), que “gasta o meu dinheiro”, e corrupto (por ser político). A política: um descrédito em mãos de preguiçoso que podia tanto existir como não existir. A nota policial: o amedrontamento e o protesto por segurança passa a ser o verdadeiro estado social da velha política a cancelar. O que escapa da “Lei e Concórdia” do mercado. O comunitário: uma utopia solitária entre eu, o negócio e “meu bolso” (tenha 100 pesos ou mil hectares de terra). O nacional: um espaço a-histórico, sempre no limite do caos e que só cria vítimas. Com habitantes nunca representados por ninguém, somente pelo foco da câmera, e onde a única notícia é que a política já falhou, para sempre, antes de começar. A nova comunidade pós-solidária é agora uma sociedade com uma arquitetura de serviços que “devem me servir” com a eficiência modelo de um seleto agente privado. Já não sou parte de uma memória do público, dos hospitais sociais e universidades políticas hoje em crise, mas me transformei num cliente exigente do outro lado do balcão. A liberdade: uma simples passagem de “livre consumidor” para um “votante livre” sem identidade, elogiado por não ter partido, moldado diferentemente a cada eleição, a ponto de comprar algo “genuinamente”entrando nas vitrines do quarto escuro. A gente: um “eu” sublimado, absolvido enquanto construção narrativa. Uma unidade pessoal “autêntica”, que representa muitos, enquanto esses muitos não se constituam em outro tipo de “eu” (como sujeito político identificado), e permaneçam como infinita classe média de “empregados” do capitalismo, em uma competitiva e ansiada igualdade de explorados. O sindical, o popular, os desocupados: uma realidade indiscernível de homens-grupo. Algo do qual devo manter distância da minha vida, e que o Estado “não deve atender”. Seres organizados para algo que nunca se sabe. Imagem mítica nas telinhas, com paus e cajados. Não brancos, perigosos em grupo, dirigidos por vagos, destacados, chefes de barricadas ou líderes pagos. Um outro cultural e existencial que, como nunca, na Argentina da plenitude informativa e formativa, alcançou quase o apogeu de uma luta cultural de classes do gorila sobre o peronista, como um racismo não dissimulado sobre o popular, sindical e piquetero: universo da negatividade política, do voto subnormal, o voto “comprado”.
Leitura completa AQUI, ou se preferirem ler em espanhol, AQUI.
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