8 de março de 2009

Hoje, 8 de março

Por Rachel Moreno* para o Observatório da Mulher:


Hoje é dia...

Entre resquícios da idade da pedra e desafios do Século XXI, caminham as mulheres.

Têm maridos e namorados que acreditam na violência física para se impor; o patrão ainda paga menos pelo mesmo trabalho que fazemos, e nada acompanha o seu cetro de rainha do lar, a não ser um trabalha infindável, desvalorizado e sem visibilidade. Por outro lado, questões novas exigem nossa urgente atuação, para preservar as condições necessárias à vida e à justiça social em nossa espécie, em nosso planeta.

Em que modelo de sociedade cabe a efetiva equidade entre os gêneros? Pagaremos nós, com mais trabalho, o preço pelos efeitos da crise econômica de que se fala? Continuaremos estimuladas a plantar e consumir transgênicos, agrotóxicos e gordura trans para preservar a crocância dos biscoitos, às custas da saúde de nossos filhos? Continuaremos alienadas do processo de decisão e representação política equitativa? Como agiremos para não nos limitar a cuidar das doenças resultantes dos desequilíbrios ambientais, provocados pela atitude voraz e devastadora de quem só pensa em concentrar renda?

Entre a Idade da Pedra e o Século XXI, já descobrimos que somos capazes de fazer tudo – e melhor. Falta-nos uma série de condições básicas para viabilizar as mudanças que se fazem necessárias e urgentes – mais sabemos improvisar, sabemos criar do nada.

Hoje, nos concedem um espaço na mídia, para dizer a que viemos –hoje é o dia da mulher. Concorremos com as floriculturas e a propaganda que espera transformar a data em mais um dia de consumo especial – mas não em nosso nome!

Da segurança do aquário com ondas se espalhando pela web, trazemos e discutimos essas questões – ora denunciando, ora alertando, ora mostrando e estimulando. Nosso programa de web-rádio. Assim como nós, milhares de rádios comunitárias navegam pela contramão das notícias oficiais. Poucas entre elas, muito poucas falam diretamente às mulheres. Mas fazem-no, do fundo da floresta amazônica, do alto do prédio do espigão da Av. Paulista, do cume das montanhas mineiras, com a voz e a coragem.

É importante saber. É urgente pensar. É fundamental se posicionar. E tomar o destino em nossas mãos.

Momentos históricos palmilham a História e nos mostram o caminho. A batalha pelo direito à educação. Pelo direito ao voto. Pelo controle do próprio corpo – que já se concedeu ao abolir a escravidão, mas que ainda se nega às mulheres. Olympes de Gouges morreu no cadafalso, em plena revolução francesa, por defender os direitos das mulheres. Operárias têxteis morreram reivindicando jornada e salário decentes. Outras contabilizaram vitórias. Revolucionárias e figuras históricas levantaram reivindicações, datas, marcos. Mulheres anônimas marcharam batendo em panelas vazias, empurrando e sustentando grevistas, iniciando ou engrossando a greve, a anistia, a manifestação, a democratização, a reivindicação. Textos, artigos, depoimentos, cursos, programas de rádio e TV, muita tinta, muitas idéias, muito papel, muitas formas.

Hoje, 8 de março, é dia internacional da mulher. É dia de balanço e de denúncia, é dia de ousadia. Hoje é o dia.

*Psicóloga, pesquisadora e também especialista em meio ambiente. Integrante da Executiva Nacional da Campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania. Preside o Observatório da Mulher, que integra a Articulação Mulher e Mídia (AMM).

Fotos: Melanie Cook

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