O programa, mediado pelo jornalista Luiz Carlos Azedo, expõe as diferenças de visão entre os setores que apoiaram o golpe e as pessoas depostas e perseguidas pelo regime. Para Jarbas Passarinho, coronel reformado do Exército, ex-ministro do Trabalho do governo Castelo Branco e ex-ministro da Educação do governo Médici, o golpe foi “preventivo” e funcionou como uma “contra-revolução”, pois setores da esquerda gestavam seu próprio levante. Em sua opinião, a intervenção foi desejada por boa parte da sociedade brasileira. “Nós fomos tirados dos quartéis por pressão dos civis”, acredita.
A lógica de Passarinho é que o Ato Institucional nº 5 (AI-5), baixado pelos militares em 13 de dezembro de 1968 anulando direitos e garantias individuais, também foi de reação e precaução. Segundo o ex-ministro, “já havia guerrilha desde setembro de 1967” e era necessário uma decisão de força. “Nós não tínhamos condições de manter a ordem interna e a ordem externa com as ações da guerrilha”.
O AI-5 concentrou grande parte do debate que será exibido pela TV Brasil. Passarinho, um dos 16 ministros que juntamente com o ex-presidente Arthur Costa e Silva subscreveu o AI-5, confessa que hoje “nas mesmas circunstâncias, assinaria o ato”.
Após a reafirmação do ex-ministro, Marco Antônio Tavares Coelho, ex-deputado federal e ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), fez questão de frisar: “Eu fico satisfeito de ouvir Jarbas Passarinho dizer que não se arrepende”, disse, lembrando da frase atribuída ao ex-ministro na hora da edição do ato [“às favas com os escrúpulos”]. Para Coelho, “a consciência do senhor Jarbas Passarinho é um pouco complacente”.
Em meio às críticas que associaram o AI-5 às torturas e mortes de dissidentes do regime, Passarinho se defendeu: “Eu não quero, neste momento em que estamos falando supostamente para a história, bancar o bonzinho”. Ele disse que suas mãos estavam “livres do sangue de qualquer adversário”. O ex-ministro afirmou altivo: “Nunca pratiquei uma violência, mesmo como ministro do Trabalho enfrentando greves. E minhas mãos também são livres de dinheiro mal-havido. Essa honra eu tenho”.
A defesa do ex-ministro fez Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, se dirigir diretamente a Passarinho de forma contundente,: “O senhor me desculpe, mas as mãos do senhor não estão limpas. O senhor foi conivente com o regime que matou meu pai, então as suas mãos estão tão sujas quanto a pessoa que deu choque nele”, disse emocionado antes de repetir as acusações.
“Eu reitero, gravo e vai para os anais da história: as pessoas que eram coniventes com aquele regime, estava assinado em baixo. O senhor assinou junto com aquelas pessoas um modelo de Estado que permitiu que pessoas como o meu pai e Manoel Fiel Filho (metalúrgico morto por tortura em janeiro de 1976) fossem assassinadas. O senhor foi conivente com aquilo lá. Isso daí a gente não pode esquecer”.
Para Herzog, “as pessoas que fizeram parte da Arena (Aliança Renovadora Nacional, partido que apoiava o governo militar])como um todo eram coniventes com um sistema que aceitava a morte, a censura e a violência pra pregar o ideal deles. Se é ideal, ponha em um sistema democrático para o debate”, disse no último bloco do programa 3 a 1.
Serviço
Programa “3 a 1”, TV Brasil (canal 2, sinal aberto)
Nesta quarta-feira, 1º de abril, às 22 horas (horário de Brasília)
Por Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Cartum: Carlos Latuff
Fonte: Agência Brasil
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