No marco do Congresso da Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS) que terminou nesta sexta-feira, especialistas em educação analisaram a subordinação do conhecimento e suas relações com a transformação social.
A reportagem é de Julián Bruschtein e está publicada no jornal argentino Página/12, 04-09-2009. A tradução é do Cepat.
Os processos de construção de conhecimento na América Latina são objeto de debate no continente. A questão aflorou no 27º Congresso da Associação Latino-americana de Sociologia (ALAS), que terminou nesta sexta-feira em Buenos Aires. Nesse marco, em uma mesa de debate, especialistas do país e do exterior analisaram a subordinação do conhecimento, a relação entre os avanços científico-tecnológicos e a transformação social, a tensão entre as pedagogias críticas e as pedagogias do desejo. E também advertiram: “O sistema de produção de conhecimentos está baseado na exclusão e na competitividade”.
Na aula magna da Faculdade de Odontologia, o primeiro a intervir foi o brasileiro Renato Dagnino, professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, que falou sobre a mudança da relação entre os avanços científico-tecnológicos e a transformação social. Dagnino desfiou a visão determinista do marxismo, a visão instrumentalista do capitalismo e advertiu que “não é correto acreditar que a tecnologia não pode ser adaptada ou mudada pelo homem. O que é preciso mudar são os interesses que estão na máquina onde se produz esse conhecimento e toda a visão da ciência”. A modo de conclusão, o professor brasileiro assinalou que “seria equivocado jogar pela janela o conhecimento que se produziu”, mas seria “necessário desconstruir a tecnologia convencional, produzida a partir dos valores do capital, para poder substituir esses interesses e valores e reconstruir uma tecnologia diferente, que leve em conta os setores marginalizados”.
O sociólogo Enrique Oteiza disse que “depois da Segunda Guerra Mundial mudaram as perspectivas Latino-americanas: estamos em situação de subordinação”, garantiu diante do público e se deteve sobre o surgimento de organismos internacionais “como a ONU, que impulsionaram a ideia do desenvolvimento a partir da experiência japonesa”, baseada na revolução produtiva vivida pelo país asiático no pós-guerra. Depois, no final de sua colocação, lembrou: “Não podemos ser apenas bons alunos dos programas de pós-graduação do Norte” sem contextualizar depois a aprendizagem.
O norte-americano Peter McLaren, da Universidade da Califórnia, por sua vez, destacou as diferenças entre a “pedagogia do desejo (moderna) e a pedagogia crítica”. Apresentou-se como um marxista humanista e a partir dali colocou que “a pedagogia do desejo se opõe ao neoliberalismo, mas, por sua vez, recupera as suas características. O ensino através desta metodologia serve para ajustar-se ao modo de vida em um sistema capitalista”. Sustentou que a pedagogia do desejo impulsiona a ideia de que “só podemos saber o que já sabemos”. Ao contrário, a pedagogia crítica “investiga ali onde está o silêncio, denota isso que se apresenta como algo natural”, por isso “não se situa nos espaços da libertação, mas nos da coletivização e da emancipação ao se descobrirem como seres históricos”.
Por último, o argentino Pablo Gentili, secretário-adjunto do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), fez uma intervenção crítica sobre o sistema de rankings universitários e de acesso a bolsas de estudo que predomina na região. “Neste momento existe uma tendência na América Latina que valoriza o intercâmbio e as ações conjuntas de solidariedade. Mas o sistema de produção de conhecimentos está baseado na exclusão e na competitividade. Se cumpres como os requisitos, podes receber a bolsa e isso quer dizer que outro não vai consegui-lo”. Depois comparou os sistemas de pós-graduação da Argentina e do Brasil: “A partir dos anos 1990, houve aqui [na Argentina] um crescimento impressionante. O problema é que são quase em sua totalidade cursos pagos e estão focados na docência e não na pesquisa. No Brasil, ao contrário, há menos participação, mas 90% dos mestrados e 98% dos doutorados são orientados à pesquisa. E são gratuitos”.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
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