11 de outubro de 2009

Honduras, 9 de outubro de 2009

Correria, adrenalina e cansaço

Como um computador e a internet fazem falta. Essa certamente é a única debilidade tecnólogica que tenho. Quer dizer, a maior. Porque estes teclados sem til e outros sem algumas outras partes constitutivas fundamentais de um texto às vezes me enlouquecem.

Porém, nada disso se compara um bilionésimo do que tenho visto por aqui.

É de fato impressionante.

Depois da repressao da quarta-feita, os militares e a polícia ontem, dia 8, engoliram em seco.

Haviam 800 manifestantes em frente ao Hotel Clarión onde ocorreu a segunda rodada do Diálogo Guaymuras.

Foi uma manifestacao intensa e provocativa. Chegavam na cara da polícia e os chamavam de perros, hijos de las putas, que se vergan e todo mais. Diziam para largar as armar e vir na mao. Pode parecer molecagem de colégio isso, mas como é covarde uma briga entre tamanha desigualdade. É covardia total. Palavras contra bombas de gás. Músicas contra cassetetes. Ontem, a imprensa fez a diferença. Nao tivessem lá uma centena, no mínimo, de jornalistas de todo o mundo, até a Al Jazeera está aqui, o pau teria cantado bonito.

Pois se ontem se guardaram, hoje foram a desforra. O ato foi menor. Cerca de 200 pessoas. Nao vi a primeira parte da dispersao, cheguei logo depois, porque estava na concentracao da marcha e o transito aqui eu vou dizer uma coisa, é INFERNAL. Entao me atrasei na primeira parte.

Mas os perros estavam enfurecidos. Entevistei o comandante e ele disse que o decreto do Estado de Sítio - que segundo o presidente golpista havia sido derrubada, ainda nao foi publicado no Diario Oficial, chamado aqui de A Gazeta - segue vigente. Com esse decreto eles podem dispersar agrupamentos de 20 pessoas. E fizeram com gosto. Era incrível ver o comandante tendo que pedir para irem mais devagar e para nao atirarem toda hora.

E chuva de pedras por parte dos manifestantes. Mas até agora eu nao fiquei sabendo de nenhum policial ferido. Entao de fato tem efeito mais para acertar a imprensa e para provocar a polícia.

Seguimos pela rua hotel, correndo entre a polícia e os manifestantes.

Adrenalina a milhao. Juntei um cartucho de um onde sai o gás. Nos projetéis das bombas de gás, produzidas nos EUA, tem uma orientacao de nao jogar sobre as pessoas porque pode ferir e matar. Creio que eles leram bem essa parte de ferir e matar.

A imprensa de sempre segue preocupada com os chanceleres, políticos, diplomatas. Enquanto as pessoas seguem apanhando com tudo nas ruas.

Hoje, creio que isso pode mudar um pouco. Sobrou água com pimenta até para imprensa, jogada de uma especie de caveirao com ducha.

Ontem e hoje também fui a Rádio Globo, um dos meios fechados pelo governo golpista. Fui uma entrevista sensacional com o Davi Romero, diretor geral da rádio.

Depois de correr da polícia, escapar das pedras, falar com as pessoas, ver gente machucada, fumaca, respirar gás, levar água com pimenta, se fica muito cansado.

To me arrastando agora. Vou me arrastar até o fim do dia. Tenho menos de 24 horas em Tegucigalpa, terra de um povo que apanha nas ruas, que sabe sua constituicao quase de cor, em que a maioria repudia o golpe, exige a volta de seu presidente deposto e sabe porque quer uma constituinte. O melhor de tudo: nao retrocedem. Hoje completam-se 104 dias de Resistência.

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