7 de dezembro de 2009

Tribuna Popular: Não aos Espigões na Auxiliadora e Cidade Baixa!


Dia 07 de dezembro - Segunda Feira - 14 horas
Plenário Otávio Rocha - Câmara Municipal de Porto Alegre

Comunidade da Auxiliadora, Entidades cô-irmãs, Amigos e Amigas!

DA MINHA ALDEIA vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caiero (Fernando Pessoa) - O Guardador de Rebanhos

A revisão do PDDUA de Porto Alegre serviu à aprovação de uma série de emendas que atendem aos interesses da construção civil e que serão absolutamente prejudiciais para a qualidade de vida das comunidades nos bairros da MacroZona 1: Centro até a 3º Perimentral.

Uma delas é o aumento da altura dos prédios, principalmente no interior dos bairros, pois compromete a insolação do entorno pelas alturas excessivas, além da densificação demográfica em áreas cuja infraestrutura de saneamento básico estão esgotadas, sem contar a inflação de carros e o caos de trânsito e mobilidade no interior dos bairros.

Mas há, ainda, o expediente do Solo Criado - que implica na compra de índices construtivos junto a Prefeitura por qualquer Incorporadora Imobiliária - a fim de garantir mais andares além dos limites estipulados pelo PDDUA.

Esses são os casos dos Espigões de 19 andares na Rua Germano Petersen Jr., no bairro Auxiliadora, e na Rua Lima e Silva, no bairro Cidade Baixa.

No caso da Auxiliadora, há o agravante da Rua Auxiliadora, paralela a Rua Germano Petersen Jr., constar como gravame de Área de Especial Interesse Cultural, o que limita a 25 metros (10 andares) a construção de prédios em terrenos lindeiros ao quarteirão.

Justamente para manter a características morfológicas de seus casarios (volumetrias - alturas) que constituem a identidade histórica da rua; o que na Europa, por exemplo, são consideradas um charme urbano e arquitetônico para ficar na memória da presente e futuras gerações.

A despeito dessa especificidade, que implica uma agressão voluntária ao aspecto urbanístico e histórico do bairro Auxiliadora, também poderíamos manter prédios de 6, 9 e 11 andares, que poderão chegar a 16, 19 e 22 andares no interior do bairro.

E isso não significa oposição gratuita ou agressiva a construção civil ou aos novos prédios no bairro, mas a defesa de uma visão sustentável e saudável de convivência urbana e humana.

Será que é tão difícil imaginar nossa paisagem com 10 andares (25 metros) a mais? Não. Basta andar nas ruas e ver a diferença que causará o dobro das atuais alturas no interior do bairro Auxiliadora, e o reflexo e impacto disso no seu perímetro total.

Por esse motivo, solicitamos à Câmara Municipal de Porto Alegre o uso da Tribuna Popular para manifestar respeitosamente nossa contrariedade aos vereadores.
Pois serão intervenções urbanas de impactos negativos e perversos demais!
Um ditado antigo já dizia: "Em casa que entra sol, médico não entra!"

Não queremos bairros doentes pela força de interesses da construção civil contra interesses da comunidade. É possível negociar com as construtoras e estabelecer um consenso, talvez. Há construtoras projetando e executando edificações baixas no interior do bairro Auxiliadora.

O que não é possivel, mais uma vez, é assistir insensível essa situação porque "não vale a pena". Ora, o que vale mais a pena, além da família, do que a defesa do nosso espaço de convívio e sociabilidade, justamente em nome da qualidade de vidas das nossas famílias?

Ou é porque "acontece em outra rua"? Mas, amanhã, pode acontecer das nossas ruas e assim sucessivamente! Ou será que é porque "mexe com interesses poderosos": mas qual interesse pode ser mais poderoso do que os interesses de uma comunidade inteira?

Esse é o futuro anunciado, como a famosa e premiada obra de Gabriel Garcia Marques. Qual será a nossa atitude no presente?

Ficar de braços cruzados a lamentar o infortúnio? Não adianta, nem compensa as perdas sofridas, hoje, para nós. E amanhã, para nossos filhos e netos.

E isso significa dizer que, sem o Clamor Popular, teremos, em 10 anos ou 15 anos, um bairro sombrio crivado de espigões por todos os lados, populacionalmente saturado, estruturalmente condenado e paisagisticamente desfigurado.

Quem precisa de mais motivos para se sensibilizar com esses argumentos?

Contamos com a presença da comunidade, das entidades cô-irmãs e movimentos comunitários, para prestigiar as manifestações da Associação dos Moradores e Amigos da Auxiliadora e Movimento Cidade Baixa Vive

Saudações comunitárias
João Volino Corrêa
Presidente

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