Ainda não havíamos publicado sobre o terremoto no Haiti. Através do blog História em Projetos, conhecemos o blog Lacitadelle de pesquisadores da Unicamp, que estavam nesse país desde novembro de 2009.
Sempre tivemos uma enorme desconfiança do papel do Brasil nessa tal de Minustah. E os nossos temores foram confirmados pelas palavras do Coronel Bernardes, integrante da força militar brasileira, que declarou, sem rodeios, que esta força serve de laboratório para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas [ler mais abaixo]. Ou seja, mais uma vez, os nossos militares se prestam ao papel de gendarmeria das classes dominantes contra as "ameaças" dos mais pobres. Parece que não aprenderam nada com o golpe de 64 e de como aqueles que os açularam contra o estado de direito, depois, desprezaram-nos como se fossem um estorvo. É chocante ver como um exército abdica do seu papel de força de defesa nacional para servir como uma milícia dos interesses do capital, leia-se interesses estadunidenses no Haiti.
Quantos haitianos já foram assassinados pela chamada força de "estabilização" do Haiti? Esta é uma história que está por ser contada. Será que, no futuro, teremos que reparar danos causados à essa população, como acontece agora com as vítimas da ditadura brasileira?
E, tal como no Haiti, estariam os EUA vendo, nas nossas populações pobres, uma ameaça em potencial e foco de resistência de seus interesses econômicos no Brasil? Estariam, mais uma vez, instrumentalizando os militares brasileiros para conter essa "ameaça"?
Sempre tivemos uma enorme desconfiança do papel do Brasil nessa tal de Minustah. E os nossos temores foram confirmados pelas palavras do Coronel Bernardes, integrante da força militar brasileira, que declarou, sem rodeios, que esta força serve de laboratório para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas [ler mais abaixo]. Ou seja, mais uma vez, os nossos militares se prestam ao papel de gendarmeria das classes dominantes contra as "ameaças" dos mais pobres. Parece que não aprenderam nada com o golpe de 64 e de como aqueles que os açularam contra o estado de direito, depois, desprezaram-nos como se fossem um estorvo. É chocante ver como um exército abdica do seu papel de força de defesa nacional para servir como uma milícia dos interesses do capital, leia-se interesses estadunidenses no Haiti.
Quantos haitianos já foram assassinados pela chamada força de "estabilização" do Haiti? Esta é uma história que está por ser contada. Será que, no futuro, teremos que reparar danos causados à essa população, como acontece agora com as vítimas da ditadura brasileira?
E, tal como no Haiti, estariam os EUA vendo, nas nossas populações pobres, uma ameaça em potencial e foco de resistência de seus interesses econômicos no Brasil? Estariam, mais uma vez, instrumentalizando os militares brasileiros para conter essa "ameaça"?
Rocheman nos visitou duas vezes em Port-au-Prince e em entrevista nos explicou como a fabrica de cimento do Haiti tinha sido privatizada e destruída sistematicamente pelos EUA durante a ocupação estado-unidense. Por este motivo os haitianos pobres que não podiam importar cimento dos EUA construíam suas casas com tijolos de areia.
Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia
Ele também nos falou sobre o processo de desinvestimento no campo por parte do Estado haitiano, que tornava o Haiti dependente dos EUA em diversos produtos alimentícios, e ocasionava um grande êxodo do campo para a cidade, em construçoes precárias, como vimos em Cite Soleil, que também foi em grande parte destruída durante o terremoto.
Este brilhante jovem haitiano também disse que a Minustah não é uma força de estabilização do Haiti, porque, afinal de contas, como falar em estabilização num país faminto? Como falar em estabilização sem fortalecimento das instituições haitianas? Portanto fica evidente que a Minustah estava no Haiti como força de ocupação, e que não tinha um plano para sair dali, ferindo a soberania do povo haitiano. [17/01/2010]
Mesmo com a ocupação de anos da ONU aqui, ainda não se investiu em áreas essenciais e não imediatistas, como educação e soberania alimentar dessa população, o que os ajudaria a se reerguer de sua pobreza cotidiana e com suas próprias forças.
Não sabemos onde estão, nesses dois primeiros dias logo após o desastre, enquanto ainda deve haver vítimas vivas e os corpos estão nas ruas, os mais de dez mil soldados da ONU que já estavam permanentemente no país. Apenas tivemos informações de pessoas que viram alguns deles em Pétion Ville, cidade de padrão mais alto, ao lado Porto Príncipe. [15/01/2010]
Hoje, [...] vimos um acampamento imenso. Pessoas organizadas, fazendo comida, tomando banho, lavando roupa. Nem sinal da ajuda internacional que enche a boca de tantas autoridades. Espera-se o espetáculo da destruição para depois chegar ao espetáculo da cooperação internacional. [...] Além disso, os haitianos encontraram meios de manter a cotidiana rede de comércio, e sem alteração de preços. No Champs de Mars, centro da cidade, as “dames sara”, como são conhecidas as mulheres que constroem as redes de abastecimento “informal” da cidade, continuam na ativa e as cozinhas improvisadas funcionam à todo o vapor, fazendo frango, banana frita e macarrão. Um prato de “chen jambe” continua, impressionantemente, custando 100 gourds (2,5 dólares, aproximadamente). [14/01/2010]
Não vi nenhum carro da MINUSTAH nem ajuda internacional. Pessoas tentam tirar os escombros de escolas, das universidades e de mercados, na esperança de que haja alguém vivo lá em baixo. Sem escavadeiras, sem trator. [14/01/2010]
A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país. [13/01/2009]
Fotos: Cris Bierrembach
Revisto e atualizado em 17/01/2010 às 20h49min.
Impossível esquecer isso no dia do terremoto, vendo aquelas casas desabando como areia
Ele também nos falou sobre o processo de desinvestimento no campo por parte do Estado haitiano, que tornava o Haiti dependente dos EUA em diversos produtos alimentícios, e ocasionava um grande êxodo do campo para a cidade, em construçoes precárias, como vimos em Cite Soleil, que também foi em grande parte destruída durante o terremoto.
Este brilhante jovem haitiano também disse que a Minustah não é uma força de estabilização do Haiti, porque, afinal de contas, como falar em estabilização num país faminto? Como falar em estabilização sem fortalecimento das instituições haitianas? Portanto fica evidente que a Minustah estava no Haiti como força de ocupação, e que não tinha um plano para sair dali, ferindo a soberania do povo haitiano. [17/01/2010]
Mesmo com a ocupação de anos da ONU aqui, ainda não se investiu em áreas essenciais e não imediatistas, como educação e soberania alimentar dessa população, o que os ajudaria a se reerguer de sua pobreza cotidiana e com suas próprias forças.
Não sabemos onde estão, nesses dois primeiros dias logo após o desastre, enquanto ainda deve haver vítimas vivas e os corpos estão nas ruas, os mais de dez mil soldados da ONU que já estavam permanentemente no país. Apenas tivemos informações de pessoas que viram alguns deles em Pétion Ville, cidade de padrão mais alto, ao lado Porto Príncipe. [15/01/2010]
Hoje, [...] vimos um acampamento imenso. Pessoas organizadas, fazendo comida, tomando banho, lavando roupa. Nem sinal da ajuda internacional que enche a boca de tantas autoridades. Espera-se o espetáculo da destruição para depois chegar ao espetáculo da cooperação internacional. [...] Além disso, os haitianos encontraram meios de manter a cotidiana rede de comércio, e sem alteração de preços. No Champs de Mars, centro da cidade, as “dames sara”, como são conhecidas as mulheres que constroem as redes de abastecimento “informal” da cidade, continuam na ativa e as cozinhas improvisadas funcionam à todo o vapor, fazendo frango, banana frita e macarrão. Um prato de “chen jambe” continua, impressionantemente, custando 100 gourds (2,5 dólares, aproximadamente). [14/01/2010]
Não vi nenhum carro da MINUSTAH nem ajuda internacional. Pessoas tentam tirar os escombros de escolas, das universidades e de mercados, na esperança de que haja alguém vivo lá em baixo. Sem escavadeiras, sem trator. [14/01/2010]
A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país. [13/01/2009]
Fotos: Cris Bierrembach
Revisto e atualizado em 17/01/2010 às 20h49min.
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