6 de abril de 2010

GEOMA - O CÂNCER DA TERRA

Por Dr. Althen Teixeira Filho


Câncer é uma doença, resultante de divisão celular intensa, descontrolada, de caráter maligno, destrutiva, com uma proliferação extremamente invasiva, desrespeitando limites teciduais e não respondendo ao controle do organismo. Existem diversos tipos de cânceres, como os melanomas (o nome tem origem nos melanócitos - células que dão cor à pele; mais o sufixo grego "-oma", que significa "tumor"), e todos provêm de células anteriormente sadias, mas que sofreram alterações gênicas e passam, então, a atuar patologicamente.

As lavouras de árvores (eucalípto, acácia e pinus) repetem tais processos tumorais, através de atividades invasivas de "plantações cancerosas exóticas", que crescem e se multiplicam, lesando gravemente a organização biológica e geológica. Suas metástases (transferência para outro locais) incrustam-se no solo, ultrapassam cercanias, indo enfermar e debilitar alhures, muito além dos interesses cidadãos dos Estados e municípios.

Assim, por inegável similitude, deve-se nominar esta patologia lavoural de GEOMA - tumor maligno da terra, como também o são todos os monocultivos.

Pinus, acácia e eucalipto não são árvores "boas" ou "más"; são simplesmente árvores. Entretanto, por não terem origem na nossa região (oriundas de outros continentes), são espécies/células exóticas introduzidas e cultivadas em larga escala, ocupando solo de vegetação nativa e de produção alimentar, invadindo o Pampa e gerando enormes distenções ambientais e sociais. Ainda, e à semelhança já citada acima, elas têm sua organização celular transformada, aqui para a produção de lucro e acúmulo financeiro de uns poucos.

Nesta patologia também identificamos as empresas geoncogênicas - aquelas que causam câncer da terra, as quais, em muitos casos, atuam à margem da lei, desrespeitando desde os regramentos legais mais simples, até imposições constitucionais. Elas são financiadas/estimuladas por governos, que lhes repassam o vigor financeiro de impostos surrupiados da população, gerando, por um lado, um processo de hiperatividade nos GEOMAS, enquanto que, por outro, matam e desestruturam por inanição (falta de nutrição) os "tecidos sadios" - como a agricultura familiar, geração de empregos, desenvolvimento econômico, segurança alimentar, cidadania... Ainda, e à semelhança do homem, os chamados "genes supressores tumorais", que deveriam combater metástases para outros órgãos, também são ineficazes nos cânceres terrestres - GEOMAS, aqui representados na apatia e letargia de algumas instituições públicas, órgãos informativos e até de "organizações ambientalistas empresariais", que aceitam financiamentos e atuam em parceria com empresas geoncogênicas. Este agrupamento, um verdadeiro "sistema imunológico" inoperante, não mais consegue trabalhar visando o benefício comum e saúde a coletiva do "organismo Estado".

são utilizados Para facilitar a sua difusão, as empresas geoncogênicas ludibriam os sistemas de defesa orgânicos, mas principalmente a população, com falsas atuações/sintomatologias. Restauram prédios, vão nas escolas dar presentes para criancinhas, inauguram reservas biológicas, promovem eventos e até congressos, sempre afirmando o seu interesse no bem coletivo, cuidado com o ambiente e pungente nacinalismo. Entretando, concomitantemente, suas toxinas mortais atuam como carcinógenos humano (como o fumo), e os carcinógenos terrestres insana e criminalmente em larga escala, identificados como agrotóxicos, herbicidas totais, aragem "morro abaixo", ressecamento e salinização do solo, venenos potentes, pulverizações, tudo ocasionando desaparecimento de rios, alteração do Pampa, intoxicação de camponeses, morte intensa de animais silvestres, entre outros.

A preocupação é que os GEOMAS já estão causando profunda debilidade e desequilíbrio tanto no organismo terrestre quanto social e, quando forem devidamente tratados, já será dificil recuperar a exigida saúde do nosso planeta. Por ora, as feridas tumorais laceram o corpo geológico pampeano em mais de 520 mil hectares e a população, embora já sinta seus efeitos, ainda não consegue identificar suas origens. Visto do ar, este solo doente apresentam-se como melanomas, os escuros e terriveis cânceres que acometem a pele humana.

Assim como a cura dos cânceres, a cura dos GEOMAS não apresenta horizontes definidos. Possivelmente uma conscientização social, associada à uma "vacinação eleitoral" resolvesse, mas, por ora, empresas geoncogênicas continuarão com propagandas enganosas e atuando conjuntamente com más formações políticas, gerando pústulas eleitorais, ambientais e sociais. Pior, a medicação adequada para combater tais tumores não tem gerado resultados adequados, pois os agentes etiológicos (causadores) dos GEOMAS têm uma resistência exacerbada contra doses medicamentosas maciças de ética, moral, decência, cidadania e respeito humano.

Assim, vivemos na presença de uma doença que, em muitos casos, nos oferece um prognóstico muito claro quanto ao tempo de vida. Pode-se afirmar que as regiões laceradas por estes GEOMAS não resistirão mais do que três ou quatro safras de árvores. Depois disto, as empresas geoncogênicas farão o que já fizeram em outras vezes; irão embora dizendo que não vale a pena investir na nossa região.

E nós, da dita "metade sul", mais uma vez, ficaremos com os restos insepultos da ganância e irresponsabilidade de poucos, e da apatia de muitos.

*Dr. Althen Teixeira Filho
Professor Titular
Universidade Federal de Pelotas
Instituto de Biologia
Disciplina de Anatomia dos Animais Domésticos

Imagem: RSurgente

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