Laerte Braga*
O ex-governador Aécio Neves mandou um recado curto e grosso a Lula. Se entrar para valer na campanha de Hélio Costa para o governo do estado, Minas, ele Aécio entra de sola na campanha de Serra em Minas e no País inteiro.
Aécio sentiu-se “traído” pelo presidente, mesmo que entre os dois não existisse nada além de um acordo tácito sobre a candidatura Dilma Roussef.
A bem da verdade Minas vive uma perspectiva deplorável. Não há menos ruim entre os dois candidatos com maior número de intenções de votos. Há bons candidatos, mas isso é outra história.
Hélio Costa além de estar envolvido em várias denúncias de corrupção, é homem da GLOBO e foi homem da repressão na ditadura militar. Foi o intérprete de Dan Mitrione o sinistro arquiteto da Operação Condor.
Antônio Anastasia é um técnico que assessora tucanos de longa data e no Congresso Nacional Constituinte trabalhou full time contra conquistas sociais, principalmente de aposentados e pensionistas.
O PT de Minas, mesmo que negue, não está envolvido na campanha de Hélio Costa. Pimentel não conseguiu decolar, deve perder a segunda vaga no Senado para Itamar Franco e parte da direção do partido já mandou um recado também para Lula. “Quem pariu Mateus, que o embale”.
A candidatura do ex-ministro das Comunicações foi invenção de Lula, imposição de Lula.
Como conciliar todo esse conjunto de trapalhadas não sei, mas os últimos dados levantados por institutos de pesquisas mostram que, em Minas, Aécio conduz o eleitorado segundo sua vontade. O estado é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil e nessa arrancada final da campanha pode atrapalhar a disparada de Dilma.
Nem a Lula e nem a Aécio interessa bater de frente. Como nem a Lula e nem a Aécio interessa uma vitória de José Arruda Serra. Sair dessa é um desafio e o ex-governador foi claro no recado ao presidente. “Deixe Minas resolver as questões de Minas”.
As eleições devem ser decididas já no primeiro turno levando em consideração que os candidatos dos chamados partidos pequenos não somam mais que quatro por cento de intenções de votos. Nos últimos dias o candidato de Aécio começou uma ascensão e Hélio Costa viu seus números caírem.
Se Anastasia é um técnico comprometido com o neoliberalismo, Hélio Costa é uma tragédia absoluta em todos os sentidos.
O resultado disso é que o estado, nos próximos quatro anos, vai comer o pão que o diabo amassou.
A intransigência de Lula ao forçar o acordo com o PMDB em torno da candidatura de Hélio Costa, impedindo o PT de lançar candidato próprio e pior, jogando o ex-ministro Patrus Ananias numa fria sem tamanho – vença ou não vença –, pode custar caro a Dilma Roussef.
E dentro do próprio PMDB o candidato é um corpo estranho. Boa parte do partido lhe dá as costas e torce por sua derrota. Outros, simplesmente, se distanciam da campanha, alguns até pelo cheiro fétido de corrupção que ronda o candidato.
Anastasia não é diferente.
Quem se estrepa é Minas.
Minas e Dilma se Lula cismar de bater de frente com Aécio. O que parecia ser a combinação perfeita, PT/PMDB está se mostrando um desastre absoluto. Se no PT Lula impôs o ex-ministro, no PMDB o grupo de Hélio fez lambanças desde o primeiro momento, continua fazendo e se as coisas continuarem como estão os dois, ele e Anastasia, devem chegar colados no final de setembro.
A bola agora está com Lula.
Arruda Serra já farejou sinais de crise e já disse a Aécio que o recebe de braços abertos no leito original.
É um momento de importância no processo eleitoral. A responsabilidade do presidente da República é grande. Uma coisa é bater de frente com FHC em São Paulo, outra é bater de frente com Aécio em Minas.
Neste momento é gelada.
Aécio foi claro através de códigos e emissários. “Ou ficamos no faz de conta que eu ajudo Serra e você o Hélio, ou vamos para o pau”.
Sabe aquelas bombas que o sujeito fica na dúvida se corta o fio vermelho ou o fio azul? Pois é.
Pode explodir tudo dependendo do fio que Lula cortar.
*Jornalista
Um comentário:
Não estou entusiasmado com a disputa aqui em Minas. O leque de opções, quer na disputa pelo governo, quer na disputa pelo senado, é desanimador. Para o governo, o Anastasia - a continuidade do governo Aécio, que mais se destaca pela publicidade do inexistente e pela fantasia do que por realizações - e o Costa - ambíguo e inseguro. Paro o Senado, Aécio, Itamar e Pimentel estão na dianteira da disputa. Pimentel, um tucano filiado ao PT, é - no meu entendimento - o maior responsável pelo enfraquecimento da esquerda mineira, que, diga-se, nunca foi tão forte assim. Desde que, juntamente com o seu grupo no PT, se alinhou com o PSDB de Aécio para eleger o prefeito de Belo HOrizonte, Pimentel trincou uma aliança vitoriosa que vinha a frente da capital mineira há mais de uma década com uma administração exemplar.
Ideologicamente, Anastasia, Aécio, Itamar, Pimentel parecem estar do mesmo lado: neoliberais, que querem administrar o estado como se uma empresa fosse. Mas o estado não é uma empresa, é preciso que alguém diga isso a eles. O Choque de gestão de Aécio e Anastasia - propagandeado em prosa, verso e mímica - é arrocho salarial para servidores, é redução de investimentos em educação e saúde, é propaganda com atores globais, cujos cachês elevados são custeados pelo dinheiro público.
Diante do triste cenários que se me apresenta, pensei em anular o voto para governador e evitar os três primeiros colocados para o senado. Agora, ando refletindo se não é hora de romper com a dominação tucana em Minas. Ainda não decidi, mas o Hélio Costa tem errado feio na sua campanha. Em lugar de apresentar propostas concretas e marcar a diferença entre ele e seu adversário ou entre seu possível governo e o governo de seus adversários, ele segue elogiando o Aécio, repetindo um mantra que a imprensa mineira não cansa de repetir há oito anos. Necessário esclarecer para o eleitor o que é o tal Choque de gestão, mostrar que a única política expressiva na área de saúde do governo Aécio é o fornecimento de ambulâncias, que os profissionais de educação e saúde em Minas são mal remunerados, que os gastos com publicidade são exorbitantes, que a administração mineira foi privatizada e tratada como uma empresa pelo governante.
Como se pode depreender não morro de amores pelo governo Aécio. Mas não se trata de implicância gratuita. A discrepância entre o que o rapaz fala e o que faz é muito gritante. A publicidade governamental aliada a uma proximidade promíscua com a imprensa mineira criou o mito, a fábula Aécio, sobre o qual só se vêem elogios, louvação e aplausos. Não se encontra uma linha, uma sílaba, um ruído na imprensa que deponha contra o neto de Tancredo. Tudo que ele diz e faz aparece na imprensa mineira como produto de uma intangível genialidade, cálculos políticos de alta complexidade.
Desideologizado e politicamente medíocre, este é o mito criado e construído como a promessa de Minas para o futuro.
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