Desde sexta-feira, os blogues denunciam o silêncio da mídia guasca a respeito dos escãndalos do Banrisul e da arapongagem tucana. Talvez, isso se deva, porque escândalo rima com tucano e, principalmente, com a mídia que protege esses emplumados [com perdão à espécie].
Sobre esse contexto, escreve Ayrton Centeno no Brasília Confidencial:
O que falta é imprensa
O Brasil inteiro foi martelado, nas últimas semanas, por nomes como Atella, Adeilda, Ademir e outros menos citados, todos em meio aos seus 15 minutos de fama, engolfados pelo episódio da quebra de sigilo de notáveis do PSDB e da filha do candidato José Serra. Dia e noite alimentam o tropel dos jornalões e TVs. Mas o Brasil pouco sabe do sargento César Rodrigues de Carvalho. Ele não serve a uma campanha, mas deveria, ao menos, servir ao jornalismo. Até isso, porém, tem lhe sido ofertado com parcimônia. Carvalho promete uma história e tanto, mas a mídia nacional faz de conta que ele não existe.
A explicação é simples. O desconhecido Carvalho não escalou os píncaros porque não leva comida à boca da gorda ofensiva contra Dilma Roussef. Ao contrário, subtrai do PSDB a passageira retórica da moral e dos bons costumes políticos. Porque flagra os tucanos fazendo exatamente aquilo que os tucanos dizem que seus adversários fazem.
Aos fatos: o sargento César Rodrigues de Carvalho, lotado na sede do governo do Rio Grande do Sul, sob gestão da governadora Yeda Crusius há quatro anos, usou o privativo Sistema Consultas Integradas para espionar políticos, delegados, jornalistas, militares e advogados. De posse de uma senha, escarafunchava a trajetória da vítima e de seus parentes. O Ministério Público Estadual calcula que, desde 2009, o militar realizou 10.000 consultas, legais ou não.
Carvalho espionou o ex-ministro Tarso Genro (PT), titular de quatro pastas durante o Governo Lula, hoje líder de todas as pesquisas para o governo gaúcho e adversário da governadora e chefe de Carvalho na mesma disputa. Ele ainda devassou informações confidenciais do Partido dos Trabalhadores. O que falta para produzir um estardalhaço? Nada, porém há mais.
Carvalho também acessou dados do senador Sérgio Zambiasi (PTB), um aliado informal de Tarso; da deputada Stela Farias (PT), presidente da CPI da Corrupção que investigou o desvio de dinheiro público no governo do PSDB; do ex-deputado Flávio Koutzii (PT), um dos coordenadores da campanha estadual do PT; de dois deputados do PTB e do ex-vice-prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos, assassinado em fevereiro deste ano. Bisbilhotou até mesmo sua chefe, o que veio a calhar para o Jornal Nacional, da TV Globo – em cândida matéria, quatro dias depois do tema bombar na blogosfera – aninhar o PSDB na condição pitoresca de vítima da sua própria arapongagem!
O sargento não é o primeiro espião flagrado utilizando o sistema implantado no Palácio Piratini para fins diversos dos legais. Em 2009, o chefe de gabinete de Yeda, Ricardo Lied, foi acusado de esquadrinhar a vida pregressa de adversários. A denúncia partiu do próprio ouvidor da Segurança Pública do estado. Prestigiado por Yeda, Lied permaneceu no cargo, o ouvidor foi exonerado e tudo ficou como antes no quartel de abrantes. Com a complacência e o silêncio obsequioso da mídia.
Carvalho está preso. A polícia atirou no que viu e acertou no que não viu: chegou ao funcionário de Yeda Crusius através de uma denúncia feita por um dono de bingo a quem o sargento extorquia. Depois, percebeu-se que a encrenca era de outra grandeza. O promotor de Justiça Amílcar Macedo sabe que o sargento não bisbilhotou os dados dos políticos por conta própria. Carvalho já avisou que recebia ordens. Além do sargento, estão sob investigação dois militares e dois civis, todos ligados ao governo do PSDB. Assunto não falta. O que falta é imprensa.
Um comentário:
Acho que está na hora de um #YedaNoFactsByRBS. A cara de pau desse grupo de comunicação atingiu todos os limites.
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