23 de novembro de 2010

Quando cinco mulheres mudaram a história da Bolívia

Do blog Conexão Brasília-Maranhão:

Angélica de Flores, Aurora de Lora, Nelly de Paniagua, Luzmila Rojas e Domitila Barrios de Chungara.
Muito provavelmente você nunca ouviu falar sobre qualquer uma destas mulheres.

Nestes cinco dias de ativismo (20 a 25 de novembro, ou seja, seis dias, na realidade) pelo fim da violência contra a mulher, creio ser bem pertinente divulgar a história das cinco mulheres bolivianas que derrubaram uma ditadura militar.

Cinco mulheres

– O inimigo principal qual é? A ditadura militar? A burguesia boliviana? O Imperialismo? Não, companheiros. Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro.

Só isso disse Domitila na mina de estanho de Catavo e então veio para La Paz, a capital da Bolívia, com outras quatro mulheres e uma vintena de filhos. No Natal começaram a greve de fome. Ninguém acreditou nelas. Vários acharam que esta piada era boa:

– Quer dizer que cinco mulheres vão derrubar a ditadura?

O sacerdote Luis Espinal é o primeiro a se somar. Num minuto já são mil e quinhentos os que passam fome na Bolívia inteira, de propósito. As cinco mulheres, acostumadas à fome desde que nasceram, chamam a água de franco ou peru, de costeleta o sal, e o riso as alimenta.

Multiplicam-se enquanto isso os grevistas de fome, três mil, dez mil, até que são incontáveis os bolivianos que deixam de comer e deixam de trabalhar e vinte e três dias depois do começo da greve de fome o povo se rebela e invade as ruas e já não há como parar isso.

Em 1978, as cinco mulheres derrubam a ditadura militar.

Eduardo Galeano, Memória do Fogo III – O século do vento

*****

O episódio, embora quase completamente desconhecido, por ter ocorrido num país desprezado pelos holofotes da grande mídia e pelos livros de História, é uma das mais belas páginas da longa caminhada dos povos da América Latina em busca de soberania.

Domitila Barrios de Chungara é a mais conhecida das cinco mulheres que iniciaram a greve de fome que derrubou do poder o general Hugo Banzer (que voltaria ao comando do país duas décadas depois, desta vez pelo voto).

Em “Se me deixam falar”, belíssimo livro escrito pela brasileira Moema Vizzer, Domitila conta sua história. História que é, em boa medida, a mesma de todas as famílias mineiras não apenas da Bolívia, mas também do Chile e de qualquer país onde esta atividade tenha grande peso econômico.


Livro tão impactante quanto "As veias abertas da América Latina"

O livro é uma densa aula sobre formação, organização e ação política, permeada por inúmeros momentos de emoção. Impossível ler os relatos de Domitila e não ir às lágrimas em diversas passagens.

Um ótimo comentário está no interessante site “Caótico”, de Inácio França: http://www.caotico.com.br/se-me-deixam-falar

E a melhor resenha está aqui:

Comprei o meu exemplar (por quatro reais) num sebo em São Paulo, alguns anos atrás. Assim que terminei de lê-lo, dei de presente à querida amiga Ana Maria Straube.

Recomendo imensamente!

PS: Para contrinuir com os 5 dias pelo #FimDaViolenciaContraMulher (tag usada no Twitter) visite o site http://contramachismo.wordpress.com

No Facebook, acesse o grupo Feministas e Feminismo em ativismo digital.

PS2: Em 2007, as cinco mulheres  foram condecoradas pelo governo boliviano. O registro está aqui:


#FimdaViolenciaContraMulher

Um comentário:

Rogério Tomaz Jr. disse...

Legal e vamos lá! Ainda faltam dois dias de campanha!