Eu leio estes manifestos pelo "sim" e me pergunto: quem, em sã consciência, não desejaria viver num país sem armas? Quem? Mas existe uma pergunta anterior a esta: como viver sem armas?
A História nos encaminhou para um mundo onde as apostas humanas foram deixadas de lado. Gandhi jamais imaginou que sua luta pacífica, de não-violência, com greves de fome pela libertação da Índia e o conseqüente surgimento do Paquistão, resultaria em países com bombas atômicas.(!!!)
Socialismo ou barbárie, vaticinou Rosa de Luxemburgo. A agressividade do capitalismo detonou com o meio-ambiente, com as economias mundiais, além de incrementar a sociedade de consumo e a militarização. Eu não vejo como desarmar as pessoas num contexto de barbárie como este. Até porque, no caso do referendo brasileiro, tal política de desarmamento será unilateral. É esta sociedade que eu quero, onde só um lado se desarma? É assim que se trata esta questão? Vivemos numa sociedade justa, onde as pessoas convivem em paz com seus semelhantes?
Um governo que se preze, vai estabelecer sua política de segurança pública: será proibido o comércio legal de armas no território nacional e será duramente coibido o seu comércio ilegal. Armas apenas para as Forças Armadas, garantia dada pela rigidez da lei na questão da ilegalidade. Essa seria a hipótese aceitável para determinar a segurança pública e o bem estar da população.
Mas, pensando bem, esse mundo que desejamos mais humano, mais igualitário nos direitos, ecologicamente sustentável, sem as armas que tanto repugnamos, para que Forças Armadas? Para que política de segurança pública?...
A maior parte da população brasileira se sente insegura, mas não tem armas de fogo. Se assim fosse, os nossos tão indesejados amigos do alheio já estariam em extinção, porque teríamos feito justiça com as próprias mãos. Não é para isso que os defensores do "sim" apelam, fazendo entender que todas as pessoas que possuem armas legais saem atirando a torto e a direito? "A ocasião faz o ladrão", o dito popular cabe neste caso, eu sei. Quem compra arma é porque tem a intenção de matar. Mas esta loucura não encerra um modelo de sociedade que prioriza o individual ao coletivo, a propriedade privada, o ter ao ser?
Já que a coisa está aí, num caminho que só terá volta quando uma hecatombe natural acontecer pelas escolhas que estamos fazendo enquanto humanidade, prefiro mil vezes o controle da venda de armas no Brasil, cuja lei é severa para se adquirir, a uma política de desarmamento unilateral que não dará certo e que trata de "proibição" - a lei seca americana fez história.
Claudia Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário