29 de outubro de 2006

Globo na defensiva

Os funcionários da Rede Globo, abaixo-assinados, vêm a público, de forma emocional, denunciar jornalistas que fizeram críticas à atuação desta empresa no caso do atraso da notícia sobre a queda do avião da Gol. É público e notório que esta notícia foi relegada a um segundo plano, para que a edição do JN pudesse dar destaque à divulgação das fotos do dinheiro apreendido pela PF e que seria usado para comprar um dossiê contra José Serra.

É preciso ser muito ingênuo para aceitar, sem críticas, o tal abaixo-assinado. Como bem demonstrou Raimundo Pereira em reportagem publicada na revista Carta Capital, a divulgação das fotos foi um bem montado esquema para prejudicar diretamente a campanha de Lula. A repercussão desta reportagem, feita de acordo com os bons critérios do jornalismo investigativo, coisa rara na grande imprensa, desnuda o comportamento da Globo e da sua equipe de jornalistas neste episódio. Isto obrigou o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel a escrever um longo artigo, onde tenta se
justificar.

Agora, a própria equipe de jornalismo também vem a público com este intuito. É preciso lembrar a estes profissionais, que o esquema das fotos foi denunciado de "dentro da casa" pelo jornalista
Luiz Carlos Azenha em 18/10/06 nos mínimos detalhes. Assim, fica muito difícil de acreditar que não houve segundas intenções da Globo no atraso da divulgação da queda do avião, como quer fazer crer este grupo de jornalistas. Tal notícia tiraria o impacto da divulgação das fotos pelo JN e minimizaria o efeito que a Globo desejava provocar na opinião pública com esta matéria.

Em se tratando da Rede Globo, tudo é possível. Não podemos nunca nos esquecer, que foi esta empresa que promoveu manipulações que se tornaram casos clássicos no meio jornalístico brasileiro, tais como o comício das Diretas Já em São Paulo e o debate entre Collor e Lula. Desta forma, não se está sendo injusto ao lançar suspeição sobre o comportamento dessa empresa. Os profissionais, que nela trabalham, precisam entender que pagam pelo ônus de ter seu nome vinculado à Rede Globo. O que espanta é que esses profissionais, conhecendo a linha editorial desta empresa e sem poder de incidir sobre ela, lançam-se voluntariosamente na defesa dos seus patrões.

É preciso levar em conta também um novo fenômeno que tomou impulso considerável nestas eleições: a enorme quantidade de informações disponíveis na Internet, principalmente de blogues e sítios independentes, que se transformaram em uma alternativa na busca de informações com qualidade, quebrando, de certa forma, o oligopólio midiático brasileiro. Apesar da inclusão digital não atingir toda a população brasileira, a rede veiculou informações críveis que, de uma forma ou de outra, terminaram por influenciar um determinado segmento da população que teve acesso a ela. Estas duas manifestações recentes, de Ali Kamel e da equipe de jornalismo da Globo, demonstram que esta empresa não consegue mais manter aquela soberba que sempre a caracterizou. Os funcionários da Rede Globo precisaram se defender e defender a empresa na qual trabalham. Isto ficou bem evidente.

A livre circulação das informações no espaço cibernético, onde realmente está acontecendo jornalismo de qualidade e democrático, pois permite a rápida interação com o público leitor, quebrou a lógica de que tudo que é veiculado na grande imprensa é a expressão da verdade.

Eugênio de Faria Neves e Claudia Cardoso.
29/10/06

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