29 de outubro de 2006

Os bravos jornalistas da Globo

Encaminhei o post abaixo, via endereço eletrônico, aos amigos e às amigas. Recebi uma resposta inspiradíssima que, melhor do que ficar no espaço de "comentários", merece destaque pelo seu teor.
Valeu, Ayrton!

Cláudia:

Mais uma vez o Brasil se curva e rende homenagem aos bravos jornalistas da Globo, todos estes impolutos guardiões da sacrossanta liberdade de imprensa e devotos do superior dever de bem informar. É mais uma destas cartas que saem da vida para entrar na história, todas elas emanadas das redações das Organizações Globo nos momentos mais críticos do Brasil e da missão jornalística. Quem não lembra de manifestos de igual bravura da lavra dos valorosos e intimoratos jornalistas globais quando as Organizações Globo desprezavam o jornalismo para atacarem o governo Vargas? Ou quando pediam a deposição de João Goulart? Ou, em seguida, quando a Globo aderiu de corpo e alma ao regime dos coturnos e das baionetas? E então -- e este é imperdível -- quando os ousados escribas globalizados e globalizantes das rádios, dos jornais e da TV Globo reagiram com indignação cívica e destemor quase suicida à cobertura torpe do comício das Diretas Já, hoje um clássico da manipulação da informação? E por falar em manipulação valeria a pena, quem sabe, relembrar a forte manifestação dos jornalistas globais frente à brutal distorção do debate Collor x Lula, em 1989, na edição dos telejornais da casa de Roberto (Citizen Kane) Marinho. Se não bastasse valeria ainda citar as várias missivas à nação assinadas pelos destemidos funcionários globais diante da linha subserviente e chapa branca das Organizações Globo durante a eleição e os oito anos do Governo FHC, ajudando na tarefa de sepultar pilhas de CPIs. E se mais ainda quiséssemos poderíamos mencionar o punhado de epístolas, éditos, manifestos e cartas abertas brotadas da pena indômita dos jornalistas submarinhos para contestar a contínua, histórica e implacável criminalização dos movimentos sociais, do campo e da cidade, por parte da cobertura da Rede Globo. Mas, raios, por que não lembramos, afinal, de nada disso? Alzheimer chama? Talvez não lembremos pela singela razão de que tais cartas, manifestos e quetais nunca existiram. Notável a coragem destes notáveis (e não tão notáveis) da Globo. Na Globo, tudo é tão vigiado e pasteurizado que até o protesto é patronal. É uma forma de felicidade: é bônus sem ônus. É um pouco parecido com o Arnaldo Jabor que, nos anos FHC, aparecia na tela da Globo com sua gesticulação feérica, com caras e bocas do imaginário das barricadas de 1968 mas cujas palavras eram pura adulação ao Governo FHC. Foi quando o Jaguar, ex-Pasquim, de forma inapelável, definiu a personalidade jaboriana com rara precisão e ironia: "É o rebelde a favor". É isto que é este pessoal da Globo: rebeldes a favor. Mas não se poderia, cá entre nós, se esperar muito mais de figuras que, no dia do passamento do patrão, queimaram os manuais de redação -- mais uma vez -- para, num campeonato de bajulação funerária, poderem chamar Roberto Marinho nos jornais da casa de "nosso pai"..


Um abraço

Ayrton

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