18 de março de 2007

Mensagem enviada, por correio eletrônico, a Olívio Dutra, em 6 de dezembro de 2005, a respeito de foto publicada em Zero Hora e que nunca foi respondida.
Senhor Presidente do PT/RS Olívio Dutra
Saudações.

Chegou, às minhas mãos, o pedido de uma pessoa ligada ao PT, cujo nome reservo-me o direito de não revelar, para que eu divulgasse um texto à minha lista de contatos da Internet, sobre uma foto (em anexo) publicada no jornal Zero Hora do dia 26/11/05, sábado. Esta foto registrava uma manifestação de policiais contra o Governo Rigotto onde aparecia, em primeiro plano, uma crítica ao Governo Olívio. A RBS, seguindo a sua já costumeira e inequívoca prática de hostilização ao PT, não perde a oportunidade de denegrir a sua administração, mesmo quando o fato não tenha relação alguma com o Partido e a sua pessoa.
Observando a foto, algumas perguntas se impõem:
a) por que a menção ao seu governo aparece em primeiro plano e, ao de Rigotto, em segundo?
b) a ZH não dispunha de outra foto para ilustrar a matéria?
c) a utilização desta foto foi obra do acaso ou intencional?
Antes que o senhor perca o seu precioso tempo pensando nisso, eu lhe adianto as respostas. É óbvio que tudo ali foi intencional e a RBS, projetando o futuro (porque a direita sabe planejar), já inicia a campanha de desgaste do seu nome, considerando sua possível candidatura ao Governo do Estado, antes mesmo de ela ser anunciada (se anunciar, claro).
A mim, nada disso surpreende, já que são práticas corriqueiras dessa mídia espúria. O que me surpreende, é o PT, sofrendo, na carne, toda essa campanha difamatória orquestrada pela grande mídia contra o Partido, com todo o tipo de calúnia, acusações sem provas e outras leviandades, ainda não consegue entender a mídia como um inimigo estratégico a ser enfrentado com uma política consistente.
O que mais a mídia deverá fazer para tirar o PT da sua letargia? O fato de simpatizantes e filiados terem que fazer campanhas de esclarecimento à população, por conta própria e usando os seus próprios e singelos recursos (Internet, panfletos, camisetas, adesivos, etc.), sobre como a RBS atua como partido político, bem demonstra a incompetência do PT nesta área. Como simpatizante, não me custaria nada atender ao pedido desta pessoa. No entanto as coisas chegaram a um ponto, que seria o cúmulo eu e outros fazermos uma coisa que é da responsabilidade da direção do Partido.
Essa canalhice da ZH exige, da sua parte, como interessado direto nessa questão, uma busca de explicações, não junto ao editor ou qualquer subalterno desse pasquim, mas, diretamente, à direção da empresa. Quando observo estes fatos, pergunto-me o que mais o PT estará disposto a tolerar da mídia hegemônica? Pergunto-me, também, se faz sentido eu ficar defendendo o PT no varejo, enquanto a RBS, no atacado, monta uma campanha de esculhambação contra o Partido. Pergunto-me mais ainda: se vale a pena eu contribuir graciosamente com o meu trabalho, coisa que muito já fiz para a campanha petista, participando diretamente de algumas publicações. Não que esteja cobrando, mas me causa um mal-estar, quando percebo que o Partido deixa, sem resposta, episódios que exigiriam, pela sua gravidade, um posicionamento contundente.
Não é a primeira vez, que coisas deste tipo acontecem, como não é a primeira vez que procuro o PT em busca de respostas. Já fiz isso em 2002, depois da campanha para o Governo do Estado, quando cobrei, do então presidente estadual do Partido, Davi Stival, uma posição sobre a divulgação de pesquisa eleitoral manipulada pelo IBOPE por parte da RBS. Naquela ocasião, a resposta da sociedade foi imediata com o cancelamento maciço de assinaturas da ZH, enquanto se ouvia a lamentação chorosa do candidato derrotado Tarso Genro. E depois, em 2004, fazendo contato com o Dep. Flavio Koutzii, a pedido deste e por conta de uma mensagem, comentando um texto de sua autoria sobre a última eleição municipal. Fora outros contatos com pessoas ligadas ao PT. Em todos os casos, o resultado foi nulo.
Para mim, é uma incógnita o que é a política de comunicação do PT. Tudo indica que ela, simplesmente, não exista. Ou, se existe, é tão misteriosa e intrincada, que não é dada a mortais, como eu, perceber sua sutileza. E se ela não existe mesmo, pergunta-se o porquê disso e qual o medo do Partido em partir para o enfrentamento com a mídia patronal? O que mais o PT tem a perder, que já não esteja perdendo? Ao que parece, é preciso acontecer com o Partido mais uma derrota para que perceba, como José Dirceu depois de cassado, que a "mídia tem dono" e que "não é democrática". Nunca é demais lembrar que Dirceu, enquanto Ministro do Governo Lula, ajudou a detonar o Conselho Federal de Jornalismo.
Em função disto, estou considerando minha futura participação em qualquer campanha de apoio ao Partido, bem como instarei os meus colegas artistas gráficos a não fazê-lo, a não ser que o PT nos apresente um projeto de comunicação consistente para o enfrentamento da mídia hegemônica. Talvez, a direção do PT imagine que tal projeto seja dispendioso, mas posso lhe garantir, sem medo de errar, que o Partido conta com simpatizantes e filiados com notório saber, especialistas na área da comunicação e que são capazes de formular um projeto conseqüente. Basta, para isso, o Partido manifestar a intenção de enfrentar esse problema com seriedade e vontade. É claro que tal projeto terá um custo, mas será uma fração daquilo que é cobrado por picaretas como Duda Mendonça e sua duvidosa estratégia marqueteira de "vender" política tal qual se vende sabão em pó.
Claro que o que digo só tem sentido, se o senhor acreditar no poder da mídia. Eu acredito.

Atenciosamente,

Eugênio Neves.
Artista Gráfico
Porto Alegre - RS

Em tempo:
1) Há que se reconhecer, que a incapacidade de identificar a mídia hegemônica como inimigo estratégico não é só do PT. Em contato com a Dep. Luciana Genro (PSOL/RS) sobre o mesmo tema, quando a instei a realizar um grande fórum sobre mídia, ela fugiu do assunto como o diabo foge da cruz. Nem resposta me deu.
2) Tomo a liberdade de lhe sugerir a leitura dos seguintes livros sobre o poder da mídia: O escândalo político (John Thompson, Vozes, 2002); Mídia e Democracia (Osvaldo Biz & Pedrinho Guareschi, Evangraf, 2005); Mídia e Educação (Osvaldo Biz & Pedrinho Guareschi, Vozes, 2005); A esquerda em processo (Tarso Genro, Vozes, 2004, que parece que escreveu, mas não leu o próprio livro).

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