O pai do Guasca
Se você não acordou com aquela bruta ressaca tradicional, de sábado, já deve ter percebido que a Gazeta do Sul tem um novo “funcionário” (nesse caso, “peão” é o termo que melhor se adequaria). A tirinha de humor Tapejara, o Último Guasca, vai estar em sua companhia aos sábados, na página 2 do Magazine, e de segunda a sexta-feira, na 6, do Gazeta Mix, com o patrocínio das lojas Eny.
Seu criador, o cartunista Paulo Louzada, de Santa Maria, consegue lograr a façanha de ser engraçado o tempo inteiro. Para provar isso, reproduzimos aqui, sem subtrair uma vírgula, a conversinha que tivemos com ele, esta semana, quando dos acertos finais da contratação desse nosso novo craque.
Magazine – Como e quando surgiu a idéia de criar uma personagem como o Tapejara?
Paulo Louzada – Faço parte da primeira geração da minha família a nascer na “cidade grande”. E apesar de ser crioulo de Porto Alegre, de ter nascido no “asfalto” em meio a vários signos da vida moderna, passei, nos meus tempos de piá, grande parte das férias escolares troteando a cavalo, tomando banho de sanga e roseteando a planta dos pés nas fazendas dos tios e da parentada lá pelas bandas de Canguçu, Camaquã e campanha. Essa convivência direta e empírica com os costumes, as lidas, a dialética e a animalada campeira, me forneceram, de uma maneira muito natural, os subsídios necessários para, em meados dos anos 90, já um tanto farto de rabiscar tipos com estereótipos norte-americanóides, criar uma personagem que se identificasse de forma direta com o culto e o imaginário popular.
Magazine – Mas qual foi a definitiva inspiração?
Louzada – A altiva figura de O Laçador, esculpida por Caringi e debruçado no infinito material didático sobre a alma do gaúcho. Aliás, só pra constar em bem da verdade, o nome da personagem foi palpite de um tio que ligou para a minha casa “duro” de vinho. Valeu, tio Toquinho!
Magazine – Em quais veículos o Tapejara circula atualmente?
Louzada – O veículo que ele mais circula atualmente é na égua tordilha Guria (brincadeirinha!)... O Tapejara é publicado diariamente nos jornais Diário Gaúcho e Diário de Santa Maria, desde a gênese desses dois periódicos, 2000 e 2003, respectivamente. Também é editado, e circula em Santa Maria e região central, o Chasque do Tapejara, uma publicação trimestral, colorida, de oito páginas, impressa em papel-jornal, com as mais estapafúrdias tirinhas do guasca e algumas estórias inéditas.
Magazine – E como tem sido o assédio dos fãs?
Louzada – Ainda não tive as pilchas rasgadas na rua, mas percebo com muito gosto que a personagem, com o seu tipo simplório, ingênuo e totalmente xucro, tem seu público cativo em todas as faixas sociais e etárias. Outro dia estava “gauderiando” pelo computador e descobri que existe no Orkut uma comunidade do Tapejara, com cerca de 200 internautas. Só não me meto pra não estragar o site.
Magazine – Além de ser a personagem principal da tirinha, por quais outras trilhas caminha o nosso herói?
Louzada – Em breve vai ser lançado o primeiro livro de tirinhas do Tapejara, um projeto que deixei maturando, a propósito, por cinco anos, para fomentar a necessidade do produto no mercado e sentir a vontade das pessoas em ler o livro. Também tenho as camisetas do guasca – que vendem mais que pastel em cancha –, mala de garupa pra levar as coisaradas do colégio, e quero colocar no comércio um mimo totalmente novo, principalmente para quem mora longe do pago e sente falta da sua querência: a legítima bosta de vaca in natura, desidratada e auto-clavada, acondicionada em um belíssimo pote de vidro com o selo de origem e a marca do Tapejara. Imagina a emoção do gaúcho que mora lá no Tocantins ao abrir a tampa/rolha e sentir o suave aroma da sua terra. Bah! É de encher os olhos d’água! Depois podem vir coisinhas mais supérfluas, como caderno, lápis, merendeira, etc...
Magazine – E que outros trabalhos você, o criador, desenvolve?
Louzada – O “trabalho” de cartunista me toma tempo integral no dia-a-dia. Mesmo durante aquela sestinha, depois do almoço, ou durante um chopinho no final da tarde, ali está um operário malhando arduamente na tarefa de criar uma tirinha, que se não for divertida, não pode de maneira nenhuma ser chata ou inteligível. Tenho muita vontade de desenvolver oficinas com crianças carentes, mas preciso estudar a melhor forma de pôr em prática esse projeto para que ele retorne em recursos reais para elas. Ah, sim! Também sei assar uma carne de ovelha de engraxar os bigode!
Magazine – Como se deu essa tua identificação com a cultura guasca?
Louzada – “Canta a tua aldeia e serás universal, pois não existe universalidade maior”, já dizia o escritor Leon Tolstoi, em mil oitocentos e lá vai fumaça. Pra mim nada mais oportuno que essa frase para resumir os efeitos atuais do processo de globalização que ao planificar conceitos e atitudes levam a uma maior valorização das culturas locais como diferenciação de indivíduos e grupos que defendem seu espaço por meio de sua identidade. Ou seja, quem não conhece o seu passado e a sua história, não sabe para aonde – ou pior – por que vai.
Magazine – E já que, a partir deste fim de semana, o Tapejara vai estar convivendo diariamente com os santa-cruzenses, de que forma pode se dar esse “entrelaçamento” da cultura guasca com a germânica?
Louzada – De maneira mui tranquilita. Os alemães e seus descendentes não só se adaptaram perfeitamente aos hábitos rio-grandenses, como também deram uma enorme contribuição aos valores tipicamente gaúchos. Quem conhece as obras de Pedro Weingärtner, José Lutzenberger, Carlos Von Koseritz, Carlos Teschauer, Augusto Meyer, Jayme Caetano Braun, entre tantos outros, sabe do que estou falando. São escritores, pintores, poetas, jesuítas, pajadores... sem os quais, as nossas tradições não teriam atualmente as dimensões e a riqueza que têm. Além do mais, será que pode existir hoje algo mais bagual do que comer cuca com lingüiça chimarreando com a Gisele Bündchen?
Magazine – De onde vem inspiração para ser engraçado diariamente? O que move esse tipo de criação?
Louzada – Não quero parecer um comercial de margarina light, mas a vida é algo muito importante para ser levada a sério. A simples percepção da absurda magia da nossa existência em interação com as coisas surpreendentemente fantásticas desse universo já são motivos mais do que suficientes para um sujeito lúcido acordar pela manhã e dar uma sonora gargalhada. Já o que move a criação é justamente a aplicação dessa percepção ao contrário. Fácil, né?!
Magazine – O Tapejara é casado?
Louzada - O Tapejara, por enquanto, é um corpo avulso, não é acolherado com ninguém. Tem caderno espiral no chinaredo! (Mauro Ulrich - mauro@gazetadosul.com.br)
Se você não acordou com aquela bruta ressaca tradicional, de sábado, já deve ter percebido que a Gazeta do Sul tem um novo “funcionário” (nesse caso, “peão” é o termo que melhor se adequaria). A tirinha de humor Tapejara, o Último Guasca, vai estar em sua companhia aos sábados, na página 2 do Magazine, e de segunda a sexta-feira, na 6, do Gazeta Mix, com o patrocínio das lojas Eny.
Seu criador, o cartunista Paulo Louzada, de Santa Maria, consegue lograr a façanha de ser engraçado o tempo inteiro. Para provar isso, reproduzimos aqui, sem subtrair uma vírgula, a conversinha que tivemos com ele, esta semana, quando dos acertos finais da contratação desse nosso novo craque.
Magazine – Como e quando surgiu a idéia de criar uma personagem como o Tapejara?
Paulo Louzada – Faço parte da primeira geração da minha família a nascer na “cidade grande”. E apesar de ser crioulo de Porto Alegre, de ter nascido no “asfalto” em meio a vários signos da vida moderna, passei, nos meus tempos de piá, grande parte das férias escolares troteando a cavalo, tomando banho de sanga e roseteando a planta dos pés nas fazendas dos tios e da parentada lá pelas bandas de Canguçu, Camaquã e campanha. Essa convivência direta e empírica com os costumes, as lidas, a dialética e a animalada campeira, me forneceram, de uma maneira muito natural, os subsídios necessários para, em meados dos anos 90, já um tanto farto de rabiscar tipos com estereótipos norte-americanóides, criar uma personagem que se identificasse de forma direta com o culto e o imaginário popular.
Magazine – Mas qual foi a definitiva inspiração?
Louzada – A altiva figura de O Laçador, esculpida por Caringi e debruçado no infinito material didático sobre a alma do gaúcho. Aliás, só pra constar em bem da verdade, o nome da personagem foi palpite de um tio que ligou para a minha casa “duro” de vinho. Valeu, tio Toquinho!
Magazine – Em quais veículos o Tapejara circula atualmente?
Louzada – O veículo que ele mais circula atualmente é na égua tordilha Guria (brincadeirinha!)... O Tapejara é publicado diariamente nos jornais Diário Gaúcho e Diário de Santa Maria, desde a gênese desses dois periódicos, 2000 e 2003, respectivamente. Também é editado, e circula em Santa Maria e região central, o Chasque do Tapejara, uma publicação trimestral, colorida, de oito páginas, impressa em papel-jornal, com as mais estapafúrdias tirinhas do guasca e algumas estórias inéditas.
Magazine – E como tem sido o assédio dos fãs?
Louzada – Ainda não tive as pilchas rasgadas na rua, mas percebo com muito gosto que a personagem, com o seu tipo simplório, ingênuo e totalmente xucro, tem seu público cativo em todas as faixas sociais e etárias. Outro dia estava “gauderiando” pelo computador e descobri que existe no Orkut uma comunidade do Tapejara, com cerca de 200 internautas. Só não me meto pra não estragar o site.
Magazine – Além de ser a personagem principal da tirinha, por quais outras trilhas caminha o nosso herói?
Louzada – Em breve vai ser lançado o primeiro livro de tirinhas do Tapejara, um projeto que deixei maturando, a propósito, por cinco anos, para fomentar a necessidade do produto no mercado e sentir a vontade das pessoas em ler o livro. Também tenho as camisetas do guasca – que vendem mais que pastel em cancha –, mala de garupa pra levar as coisaradas do colégio, e quero colocar no comércio um mimo totalmente novo, principalmente para quem mora longe do pago e sente falta da sua querência: a legítima bosta de vaca in natura, desidratada e auto-clavada, acondicionada em um belíssimo pote de vidro com o selo de origem e a marca do Tapejara. Imagina a emoção do gaúcho que mora lá no Tocantins ao abrir a tampa/rolha e sentir o suave aroma da sua terra. Bah! É de encher os olhos d’água! Depois podem vir coisinhas mais supérfluas, como caderno, lápis, merendeira, etc...
Magazine – E que outros trabalhos você, o criador, desenvolve?
Louzada – O “trabalho” de cartunista me toma tempo integral no dia-a-dia. Mesmo durante aquela sestinha, depois do almoço, ou durante um chopinho no final da tarde, ali está um operário malhando arduamente na tarefa de criar uma tirinha, que se não for divertida, não pode de maneira nenhuma ser chata ou inteligível. Tenho muita vontade de desenvolver oficinas com crianças carentes, mas preciso estudar a melhor forma de pôr em prática esse projeto para que ele retorne em recursos reais para elas. Ah, sim! Também sei assar uma carne de ovelha de engraxar os bigode!
Magazine – Como se deu essa tua identificação com a cultura guasca?
Louzada – “Canta a tua aldeia e serás universal, pois não existe universalidade maior”, já dizia o escritor Leon Tolstoi, em mil oitocentos e lá vai fumaça. Pra mim nada mais oportuno que essa frase para resumir os efeitos atuais do processo de globalização que ao planificar conceitos e atitudes levam a uma maior valorização das culturas locais como diferenciação de indivíduos e grupos que defendem seu espaço por meio de sua identidade. Ou seja, quem não conhece o seu passado e a sua história, não sabe para aonde – ou pior – por que vai.
Magazine – E já que, a partir deste fim de semana, o Tapejara vai estar convivendo diariamente com os santa-cruzenses, de que forma pode se dar esse “entrelaçamento” da cultura guasca com a germânica?
Louzada – De maneira mui tranquilita. Os alemães e seus descendentes não só se adaptaram perfeitamente aos hábitos rio-grandenses, como também deram uma enorme contribuição aos valores tipicamente gaúchos. Quem conhece as obras de Pedro Weingärtner, José Lutzenberger, Carlos Von Koseritz, Carlos Teschauer, Augusto Meyer, Jayme Caetano Braun, entre tantos outros, sabe do que estou falando. São escritores, pintores, poetas, jesuítas, pajadores... sem os quais, as nossas tradições não teriam atualmente as dimensões e a riqueza que têm. Além do mais, será que pode existir hoje algo mais bagual do que comer cuca com lingüiça chimarreando com a Gisele Bündchen?
Magazine – De onde vem inspiração para ser engraçado diariamente? O que move esse tipo de criação?
Louzada – Não quero parecer um comercial de margarina light, mas a vida é algo muito importante para ser levada a sério. A simples percepção da absurda magia da nossa existência em interação com as coisas surpreendentemente fantásticas desse universo já são motivos mais do que suficientes para um sujeito lúcido acordar pela manhã e dar uma sonora gargalhada. Já o que move a criação é justamente a aplicação dessa percepção ao contrário. Fácil, né?!
Magazine – O Tapejara é casado?
Louzada - O Tapejara, por enquanto, é um corpo avulso, não é acolherado com ninguém. Tem caderno espiral no chinaredo! (Mauro Ulrich - mauro@gazetadosul.com.br)
Um comentário:
BAH LOUZADA SOU TEU FA EU MORO DE DA RISADA COM TAPEJARA O ULTIMO GUASCA LOUZADA, A PRIMERA COISAQ FAÇO E IR NO TAPEJARA DOU RISADA NAO TEM COMO NAO RIR VALEU UM FORTE ABRAÇO
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