O senador José Sarney fez toda a sua carreira política e governou durante 40 anos o Estado do Maranhão, sempre sob o manto protetor da velha Arena, da ditadura militar e dos esquemas mais sórdidos do “coronelismo” político; depois ficou mais cinco anos na Presidência da República, após a morte de Tancredo Neves.
Nesses anos construiu um verdadeiro monopólio da imprensa no Maranhão, onde existem apenas duas redes de televisão com alcance estadual. Uma das redes é dele mesmo, retransmissora da TV Globo e acoplada ao maior jornal impresso. E a outra ele entregou para seu afilhado político e também senador Edson Lobão, que reproduz o sinal do SBT.
Ambas as redes cresceram alimentadas pelas polpudas verbas governamentais que eles mesmos decidiam, enquanto os dois eram donos do governo maranhense e com acesso aos esquemas publicitários federais.
Causou espanto que esse arauto da tradicional oligarquia rural, que transformou o Estado do Maranhão no mais pobre e mais injusto do País, fosse à tribuna do Senado, na segunda-feira, dia 28 de maio, para protestar contra o governo da Venezuela, que não renovou a licença de concessão pública de um canal privado naquele país.
Segundo o senador Sarney, a Venezuela caminha para a ditadura porque um canal privado de televisão deixou de funcionar, com sinal aberto, e foi imediatamente substituído por um canal público. Só mesmo alguém muito cínico e cara-de-pau poderia sentar sobre o próprio rabo e fazer tal crítica ao governo venezuelano.
O esperto senador esqueceu de dizer que na Venezuela existem mais quatro canais privados em pleno funcionamento, com total liberdade de expressão, um deles inclusive pertencente ao milionário Cisneiros, que é o maior proprietário de redes de TV em toda América Latina, entre elas a MTV. E quatro canais de rede pública de televisão, cada vez mais sintonizados com a realidade e os interesses da população venezuelana.
O que dizer então do Maranhão, que tem apenas duas redes de TV controladas pelo mesmo grupo econômico e político? Certamente os amigos de José Sarney, entre eles a Rede Globo e o jornal Estadão, pediram ao "democrático" senador esse discurso encomendado em prol das "liberdades” dos grupos monopolistas e oligárquicos privados.
Ele poderia pelo menos ter citado que a TV venezuelana estava sendo fechada porque havia participado diretamente do golpe de estado fracassado em abril de 2002. Na verdade, os donos do canal privado deveriam ser processados pelo uso de uma concessão pública (o canal de TV) para incitar à população ao golpe e deveriam estar na cadeia.
O que a Venezuela está fazendo é o que deveria ser feito também no Brasil, que é desmontar os monopólios privados de televisão e substituí-los por redes públicas, entregues para a gestão das organizações populares da sociedade, de maneira que a comunicação social seja efetivamente democratizada.
*Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor de jornalismo da PUC-SP.
Publicado no Jornal BRASIL DE FATO 30 de maio de 2007
Nesses anos construiu um verdadeiro monopólio da imprensa no Maranhão, onde existem apenas duas redes de televisão com alcance estadual. Uma das redes é dele mesmo, retransmissora da TV Globo e acoplada ao maior jornal impresso. E a outra ele entregou para seu afilhado político e também senador Edson Lobão, que reproduz o sinal do SBT.
Ambas as redes cresceram alimentadas pelas polpudas verbas governamentais que eles mesmos decidiam, enquanto os dois eram donos do governo maranhense e com acesso aos esquemas publicitários federais.
Causou espanto que esse arauto da tradicional oligarquia rural, que transformou o Estado do Maranhão no mais pobre e mais injusto do País, fosse à tribuna do Senado, na segunda-feira, dia 28 de maio, para protestar contra o governo da Venezuela, que não renovou a licença de concessão pública de um canal privado naquele país.
Segundo o senador Sarney, a Venezuela caminha para a ditadura porque um canal privado de televisão deixou de funcionar, com sinal aberto, e foi imediatamente substituído por um canal público. Só mesmo alguém muito cínico e cara-de-pau poderia sentar sobre o próprio rabo e fazer tal crítica ao governo venezuelano.
O esperto senador esqueceu de dizer que na Venezuela existem mais quatro canais privados em pleno funcionamento, com total liberdade de expressão, um deles inclusive pertencente ao milionário Cisneiros, que é o maior proprietário de redes de TV em toda América Latina, entre elas a MTV. E quatro canais de rede pública de televisão, cada vez mais sintonizados com a realidade e os interesses da população venezuelana.
O que dizer então do Maranhão, que tem apenas duas redes de TV controladas pelo mesmo grupo econômico e político? Certamente os amigos de José Sarney, entre eles a Rede Globo e o jornal Estadão, pediram ao "democrático" senador esse discurso encomendado em prol das "liberdades” dos grupos monopolistas e oligárquicos privados.
Ele poderia pelo menos ter citado que a TV venezuelana estava sendo fechada porque havia participado diretamente do golpe de estado fracassado em abril de 2002. Na verdade, os donos do canal privado deveriam ser processados pelo uso de uma concessão pública (o canal de TV) para incitar à população ao golpe e deveriam estar na cadeia.
O que a Venezuela está fazendo é o que deveria ser feito também no Brasil, que é desmontar os monopólios privados de televisão e substituí-los por redes públicas, entregues para a gestão das organizações populares da sociedade, de maneira que a comunicação social seja efetivamente democratizada.
*Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor de jornalismo da PUC-SP.
Publicado no Jornal BRASIL DE FATO 30 de maio de 2007
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