"Daniel Dantas, para resumir e simplificar, é um corruptor por excelência. Ele corrompe autoridades para que lhe facilitem o caminho para grandes negócios envolvendo, sobretudo, concessões públicas como a telefonia.
Daniel Dantas infiltrou-se nos últimos dois governos do país, o do PSDB e o do PT. Contudo, a corrupção com o beneplácito e a cumplicidade da autoridade maior do Estado só se pode dizer que ocorreu de verdade na época de Fernando Henrique Cardoso.
Primeiro, precisamos ter claro um fato inegável: quem bancou e continua bancando a investida da Polícia Federal contra Dantas et caterva é, no fim das contas, o presidente da República, senhor Luiz Inácio Lula da Silva e mais ninguém. Por decisão do presidente, a investigação pode ir morrendo ou prosseguir até o fim. Negar esse fato será pura má fé de quem o fizer.
Apesar de toda essa lama estar vindo à tona por obra do governo do PT, a mídia tenta jogar Dantas no colo desse mesmo PT. E não é sem razão que a mídia faz esse jogo. Ela tenta chantagear o PT, como se dissesse: “Se prosseguir a investida contra Dantas, nós o transformaremos em cúmplice do PT”.
Dantas, como diz o relatório do delegado Protógenes Queiróz, usou a mídia (Veja, Folha e IstoÉ, pelo menos) em benefício de seus objetivos. Só que o mesmo Dantas, como disse esses dias o jornalista das Organizações Globo Ricardo Noblat, é motivo de preocupação muito maior para o PSDB do que para o PT.
Não é por outra razão que a imprensa está atacando o delegado Protógenes Queiróz. Matéria de hoje (domingo) da Folha de São Paulo cita “erros de português” e “linguagem truncada” usada pelo delegado para, entre outras coisas, acusar a mídia “sem provas”.
É que no relatório em questão o delegado disse, com todas as letras, que as revistas Veja e Isto É e alguns profissionais dessas empresas veicularam matérias “encomendadas” por Dantas, e a Folha atrapalhou as investigações publicando matéria que teria servido de “aviso” para o banqueiro.
A mídia está tentando intimidar o governo cometendo o absurdo de vincular Dantas quase que exclusivamente ao PT e, de forma escandalosa, escondendo o fato de que essa é uma investigação bancada pelo governo Lula, e que, no fim das contas, remeterá as conclusões à privataria da era FHC.
Os poderes e interesses envolvidos são de tal monta que nada mais, nada menos do que o Supremo Tribunal Federal foi usado para impedir que o banqueiro Daniel Dantas abrisse o bico. Se ele não tivesse sido posto em liberdade, pode ser que, a esta hora, todos os que atacam os condutores da investigação, como fez a Folha de São Paulo, estivessem prestes a ter que ir “tocar piano” na PF.
O presidente do STF, Gilmar Mendes, usou o cargo para atuar como advogado de Dantas. Atropelou os ritos processuais. A matéria que ele apreciou (a soltura de Dantas e quadrilha) teria que ser julgada por instâncias inferiores da Justiça. Percorreria um largo caminho até chegar ao Supremo. Mas Mendes anulou esse rito processual e pôs o banqueiro e seus comparsas na rua antes que perdessem a cabeça e pusessem a boca no trombone.
Estou vendo nos blogues e sites falarem sobre “o impeachment” de Mendes. Nesse contexto, a mesma Folha publica hoje (domingo) que “(...) O confronto entre o ministro Gilmar Mendes e o juiz federal Fausto Martin De Sanctis no caso Daniel Dantas pode evoluir para um conflito institucional e é certo que haverá iniciativas na esfera do Ministério Público Federal, prevendo-se representação criminal por suposto crime de responsabilidade de Mendes (...)”.
Vejam que a maioria da comunidade jurídica do país está se unindo em torno do presidente Lula, do ministro da Justiça, Tarso Genro, do Juiz De Sanctis e do delegado Queiroz. E a própria Folha admite, ao fim da matéria sobre as conseqüências que deverá ter o atropelo do processo por Mendes, que “(...) O manifesto da magistratura federal da Terceira Região, formalizando "indignação" e "discordância" com a determinação de Mendes de encaminhar cópias de sua decisão no caso Dantas para o Conselho Nacional de Justiça, ao Conselho da Justiça Federal e à Corregedoria Geral da Justiça Federal da Terceira Região, vai além da solidariedade ao juiz e deverá reavivar o debate sobre as formas de escolha de membros do STF.”
Contudo, como se sabe, a partir de agora, com o ataque dos investigadores de Dantas também à mídia, esta tratará de agir para enterrar o processo ou desmoralizá-lo, e inverterá as provas ressaltando menções a petistas e diminuindo o cerne da questão, que são as relações incestuosas dos tucanos com a mídia durante a privataria do fim dos anos 1990.
A pressão política é o que o cidadão comum pode fazer para ajudar a que o processo de responsabilização de Mendes e de investigação das relações da mídia com Daniel Dantas ganhem vigor e celeridade. Neste momento, portanto, o que cabe a todos nós que não nos conformamos com esse estupro das instituições praticado pela mídia, pelo PSDB e pelo banqueiro corrupto e seus asseclas é mostrar quantos neste pais estão revoltados com a soltura precipitada de Dantas e quadrilha.
[...] exercendo nosso direito de cidadãos de protestar contra a bofetada que o sr. Gilmar Mendes desferiu nos rostos de cada um de nós, cidadãos perplexos com o privilégio injustificável da Justiça a suspeitos de crimes gravíssimos.
Às ruas, brasileiros!"
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