Eleições 2008 - segundo turno
Comentários preliminares
No Rio Grande do Sul, dos três municípios onde o PT disputava o segundo turno, a eleição de Jairo Jorge em Canoas pavimenta o caminho da BR-116 e representa a consolidação do avanço partidário nesta importante Região Metropolitana, que em certa medida contra-arresta a derrota sofrida em Porto Alegre pelo PT.
Qual qualidade
Ao interior do bloco de apoio do governo, identifica-se claramente a vitória do lulismo, o que não significa necessariamente uma vitória da esquerda e, menos ainda, a primazia apriorística do PT no tabuleiro político do Presidente Lula. Cabem na “contabilidade lulista”, por exemplo, as eleições como de Eduardo Paes/Rio, do invento petista-tucano Márcio Lacerda/BH, de João Henrique/Salvador e de outros tantos personagens “pouco ortodoxos” da vida partidária nacional.
Mesmo as vitórias do PT têm de ser decifradas. Os quadros de gelatinosidade ideológica, promiscuidade nas alianças e rebaixamento programático verificados em grande parte das campanhas petistas – abrangendo a esquerda partidária e o campo majoritário - impõe maior parcimônia na caracterização das vitórias petistas. Uma pergunta [im]pertinente que se impõe é “qual o PT emergiu das urnas em 2008?”. Uma impressão que fica dessas eleições municipais é de que avançou muito o processo de desconstrução identitária do PT.
A derrota em Porto Alegre
No início da corrida eleitoral, todas as setas indicavam o caminho da vitória petista em Porto Alegre, e a retomada desta cidade que já foi ícone da esquerda mundial por obra das realizações civilizatórias e modernizadoras do próprio PT. Por razões que certamente serão analisadas e expostas ao conjunto dos petistas pela direção do PT e pela coordenação de campanha, o fato é que o PT perdeu, e perdeu de maneira preocupante.
No quadro adiante estão resumidos os desempenhos do PT em Porto Alegre desde quando o partido disputou a própria sucessão em 1992 e as votações obtidas pelos candidatos do PT ao governo do Rio Grande do Sul. Em 1996 não houve dois turnos, porque Raul Pont venceu a eleição no primeiro turno.
Pode-se observar, dessa forma, que no primeiro turno desta eleição, com os 179.587 votos, Maria do Rosário obteve a mais baixa votação nominal de todo o período, assim como a pior votação relativa [22,73%]. Também elegendo sete vereadores no primeiro turno, o PT obteve a menor bancada partidária desde 1998 na Câmara de Vereadores da capital.
Em segundos turnos eleitorais, foi o menor desempenho aferido em todo o período analisado, tanto em termos nominais como relativos e tanto em eleições para a Prefeitura ou nas participações em eleições ao Governo do Estado. A diferença em favor do adversário, ao redor de 18%, igualmente chama muito a atenção.
“Sociedade acanalhada”
A eleição de 2006 ao governo estadual, quando Olívio fez a maioria dos votos sobre todos os adversários em Porto Alegre nos dois turnos [ver tabela], indicava que a purgação do PT em Porto Alegre teria chegado ao fim. É até possível que, em certa medida, isso seja verdadeiro. Da mesma maneira que pode ser verdadeiro que o odioso sentimento anti-petista tenha aí começado a esmaecer.
O resultado da votação a favor de Fogaça nas regiões abastadas da cidade [2ª zonal], porém, indicam que o “fenômeno” oculto, invisível e profundamente corrosivo ainda existe e é subliminar e eficientemente explorado. Como bem me caracterizou Cláudia Cardoso [do blógue Dialógico] hoje ao telefone, “quê ‘sociedade acanalhada’ esta classe rica da cidade”.
Identificar este fenômeno é como decifrar um enigma. A eficiência da orquestração autoritária e fascista midiática e subjetiva feita ao longo dos últimos anos contra o PT produz representações simbólicas deturpadas e um imaginário delirante e de intolerância contra o PT. Este fenômeno é real, sim, e tem significação relevante nos processos de massa, mas não pode substituir a realização de um balanço rigoroso sobre nossos dilemas políticos e eleitorais.
O dever do balanço
O PT vem colecionando ausências e silêncios quanto aos processos eleitorais e políticos de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul. Em verdade, completa-se uma década sem o exercício crítico e auto-crítico desarmado a respeito dos processos vivenciados. Desde 1998, passando pelas sucessivas prévias traumáticas que resultavam em escolhas e opções ditadas por maiorias eventuais, o PT não elabora de conjunto um balanço.
Já é hora de se retomar a boa tradição de uma boa esquerda e abrir-se o processo de avaliação sobre o desempenho do PT em Porto Alegre. Com a palavra e a responsabilidade primaz, a direção do PT de Porto Alegre e a coordenação de campanha da Maria do Rosário. Para o bom e construtivo debate.
Fonte: Biruta do Sul
Comentários preliminares
JEFERSON MIOLA
Os resultados do segundo turno no país reforçaram a situação de equilíbrio de forças entre o PSDB e o PT, assim como aumentaram bastante o ativo político do PMDB como principal coadjuvante no jogo político nacional. Com o diferencial de que, com a reeleição do prefeito do DEM em São Paulo, o governador José Serra e o tucanato foram duplamente beneficiados: [i] atiram-se na disputa presidencial de 2010 com enorme quinhão eleitoral e [ii] re-cimentam o antigo condomínio fasci-conservador.No Rio Grande do Sul, dos três municípios onde o PT disputava o segundo turno, a eleição de Jairo Jorge em Canoas pavimenta o caminho da BR-116 e representa a consolidação do avanço partidário nesta importante Região Metropolitana, que em certa medida contra-arresta a derrota sofrida em Porto Alegre pelo PT.
Qual qualidade
Ao interior do bloco de apoio do governo, identifica-se claramente a vitória do lulismo, o que não significa necessariamente uma vitória da esquerda e, menos ainda, a primazia apriorística do PT no tabuleiro político do Presidente Lula. Cabem na “contabilidade lulista”, por exemplo, as eleições como de Eduardo Paes/Rio, do invento petista-tucano Márcio Lacerda/BH, de João Henrique/Salvador e de outros tantos personagens “pouco ortodoxos” da vida partidária nacional.
Mesmo as vitórias do PT têm de ser decifradas. Os quadros de gelatinosidade ideológica, promiscuidade nas alianças e rebaixamento programático verificados em grande parte das campanhas petistas – abrangendo a esquerda partidária e o campo majoritário - impõe maior parcimônia na caracterização das vitórias petistas. Uma pergunta [im]pertinente que se impõe é “qual o PT emergiu das urnas em 2008?”. Uma impressão que fica dessas eleições municipais é de que avançou muito o processo de desconstrução identitária do PT.
A derrota em Porto Alegre
No início da corrida eleitoral, todas as setas indicavam o caminho da vitória petista em Porto Alegre, e a retomada desta cidade que já foi ícone da esquerda mundial por obra das realizações civilizatórias e modernizadoras do próprio PT. Por razões que certamente serão analisadas e expostas ao conjunto dos petistas pela direção do PT e pela coordenação de campanha, o fato é que o PT perdeu, e perdeu de maneira preocupante.
No quadro adiante estão resumidos os desempenhos do PT em Porto Alegre desde quando o partido disputou a própria sucessão em 1992 e as votações obtidas pelos candidatos do PT ao governo do Rio Grande do Sul. Em 1996 não houve dois turnos, porque Raul Pont venceu a eleição no primeiro turno.
Pode-se observar, dessa forma, que no primeiro turno desta eleição, com os 179.587 votos, Maria do Rosário obteve a mais baixa votação nominal de todo o período, assim como a pior votação relativa [22,73%]. Também elegendo sete vereadores no primeiro turno, o PT obteve a menor bancada partidária desde 1998 na Câmara de Vereadores da capital.
Em segundos turnos eleitorais, foi o menor desempenho aferido em todo o período analisado, tanto em termos nominais como relativos e tanto em eleições para a Prefeitura ou nas participações em eleições ao Governo do Estado. A diferença em favor do adversário, ao redor de 18%, igualmente chama muito a atenção.
“Sociedade acanalhada”
A eleição de 2006 ao governo estadual, quando Olívio fez a maioria dos votos sobre todos os adversários em Porto Alegre nos dois turnos [ver tabela], indicava que a purgação do PT em Porto Alegre teria chegado ao fim. É até possível que, em certa medida, isso seja verdadeiro. Da mesma maneira que pode ser verdadeiro que o odioso sentimento anti-petista tenha aí começado a esmaecer.
O resultado da votação a favor de Fogaça nas regiões abastadas da cidade [2ª zonal], porém, indicam que o “fenômeno” oculto, invisível e profundamente corrosivo ainda existe e é subliminar e eficientemente explorado. Como bem me caracterizou Cláudia Cardoso [do blógue Dialógico] hoje ao telefone, “quê ‘sociedade acanalhada’ esta classe rica da cidade”.
Identificar este fenômeno é como decifrar um enigma. A eficiência da orquestração autoritária e fascista midiática e subjetiva feita ao longo dos últimos anos contra o PT produz representações simbólicas deturpadas e um imaginário delirante e de intolerância contra o PT. Este fenômeno é real, sim, e tem significação relevante nos processos de massa, mas não pode substituir a realização de um balanço rigoroso sobre nossos dilemas políticos e eleitorais.
O dever do balanço
O PT vem colecionando ausências e silêncios quanto aos processos eleitorais e políticos de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul. Em verdade, completa-se uma década sem o exercício crítico e auto-crítico desarmado a respeito dos processos vivenciados. Desde 1998, passando pelas sucessivas prévias traumáticas que resultavam em escolhas e opções ditadas por maiorias eventuais, o PT não elabora de conjunto um balanço.
Já é hora de se retomar a boa tradição de uma boa esquerda e abrir-se o processo de avaliação sobre o desempenho do PT em Porto Alegre. Com a palavra e a responsabilidade primaz, a direção do PT de Porto Alegre e a coordenação de campanha da Maria do Rosário. Para o bom e construtivo debate.
Fonte: Biruta do Sul
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