Para refrescar a memória de candidatos e eleitores
Os últimos lances da campanha eleitoral em Porto Alegre são o corolário do discurso do candidato José Fogaça. As expressões "mudança sem ódio", "ataca", "desespero" fazem parte do seu vocabulário de campanha e são sistematicamente usadas em todos os espaços que ele ocupa na mídia.
Os últimos lances da campanha eleitoral em Porto Alegre são o corolário do discurso do candidato José Fogaça. As expressões "mudança sem ódio", "ataca", "desespero" fazem parte do seu vocabulário de campanha e são sistematicamente usadas em todos os espaços que ele ocupa na mídia.
Há que se notar, que esse discurso antecede a campanha do Fogaça e foi maquiavelicamente construído pela mídia hegemônica, onde é comum ver os chamados "comunicadores" valerem-se desses mesmos termos ao se referirem ao PT e à sua militância.
Tal discurso acaba, fatalmente, produzindo seus efeitos, ou seja, cria um clima de tensão e acirramento dos ânimos. Daí para descambar em violência é um passo e é o que realmente está acontecendo.
O ataque ao comitê de campanha do Raul Pont evidencia isso. Fogaça, quando insiste em atribuir a seu adversário um caráter agressivo e violento, acaba por criar, em seus próprios correligionários, um comportamento paranóico e faz com que eles tomem atitudes que Fogaça, em tese, condena. Pois não estariam estes correligionários, ao cometerem atos de violência, antecipando-se a um suposto ataque da militância petista? Nesse contexto, criado pelo discurso fogacista, tal situação é possível. Cria-se um "inimigo" e qualquer ato de violência contra ele está, automaticamente, legitimado, posto que foi praticado em nome da "melhor causa".
Temos um exemplo muito ilustrativo de um episódio semelhante a esse em nossa história. No memorável episódio do atentado contra Carlos Lacerda, perpetrado pelo guarda-costas Gregório, ninguém, em sã consciência, poderia responsabilizar Getúlio Vargas por ter ordenado, pessoalmente, tal ato insano. Gregório, um serviçal tosco, no afã de servir seu "dono e senhor", resolve, por conta própria, tomar as dores do "seu amo" e parte para as vias de fato. No entanto, isso não diminuiu a responsabilidade de Getúlio nesse episódio, e tão pouco a de Fogaça no ataque ao Comitê do Raul Pont.
É difícil acreditar que Fogaça tenha ordenado, pessoalmente, a ação contra o Comitê de campanha do Raul Pont, bem como todas as agressões a militantes petistas que vêm ocorrendo. Porém, quando ele se cerca de apoiadores que são a nata da direita raivosa e do fascismo porto-alegrense, o resultado não poderia ser outro. Gravitam, em torno do Fogaça, figuras carimbadas do autoritarismo vinculadas diretamente ao golpe de 1964, gente saudosa do poder, sem princípios, e useira e veseira da violência como instrumento de "ação política". Junte-se a isso, uma militância "cinco pila e um pastel" que, convenhamos, não se caracteriza pelo debate, pelas idéia, nem pela consciência política. Em tal caldo de cultura, a perda do controle é uma decorrência natural. Exemplo disso, é a admissão pública de uma mulher, que afirmou ter participado de um desses episódios de violência "para provocar".
Fogaça assula a sua militância e, depois, perde o controle sobre ela. Isso está evidente, na medida em que seus militantes agem mais como uma "quadrilha" do que como cabos eleitorais. O que Fogaça espera? Produzir algum mártir? Esse é um jogo muito perigoso e pode produzir um mártir sim, só que nas fileiras do seu adversário.
Eugênio Neves
25 de outubro de 2004.
25 de outubro de 2004.
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