17 de fevereiro de 2009

O México e a contaminação do milho nativo

O boletim eletrônico nº 426 da Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos traz notícia grave a respeito da contaminação em variedades crioulas de milho em localidades no México, denúncia realizada em 2001, mas que sofreu forte resistência no momento da sua publicação em revistas científicas. Ou seja, quando isto acontece, mais temerosa deve ficar a população do mundo inteiro no que diz respeito ao consumo de alimentos transgênicos!

Confira a notícia:Pesquisadores confirmam a contaminação transgênica do milho no México

Número 426 - 16 de janeiro de 2009

Car@s Amig@s,

Uma equipe de pesquisadores liderados pela Dra. Elena Álvarez-Buylla, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), na cidade do México, detectou a presença de transgenes em variedades crioulas de milho em localidades no México, confirmando resultados similares publicados na revista Nature em 2001. “Nosso estudo fornece evidências inequívocas da presença de transgenes em Oaxaca em 2001”, afirmam os autores.

O México é considerado o Centro de Origem do milho e o mais importante centro de diversidade genética da espécie. Além disso, o milho é o alimento básico mais importante do país, tendo também grande importância cultural e até mesmo religiosa para sua população, sobretudo os indígenas. Por todos estes motivos, o governo mexicano nunca permitiu o plantio de milho transgênico, proibindo-o oficialmente em 1998.

A revelação dos pesquisadores Ignacio Chapela e David Quist, da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), de que variedades crioulas em comunidades remotas do México estavam contaminadas por transgênicos, gerou uma inflamadíssima polêmica no meio científico. Logo em seguida à publicação do estudo na conceituada revista científica Nature, em 2001, diversos cientistas foram a público questioná-lo.

Em seu livro/documentário “O Mundo Segundo a Monsanto” (ver Boletim 422) a jornalista francesa Marie-Monique Robin revela que os primeiros ataques ao estudo que começaram a circular em fóruns eletrônicos de cientistas partiram, na verdade, da própria Monsanto, que assinava com o nome de pesquisadores inexistentes. As críticas se difundiram entre cientistas simpatizantes da biotecnologia e o estardalhaço alcançado foi tamanho que a própria Nature publicou, em seu número seguinte, uma espécie de retratação alegando que os métodos e resultados da pesquisa de Chapela não eram suficientes para embasar suas conclusões.

Chapela e Quist jamais aceitaram as críticas à sua pesquisa, mas passaram a enfrentar tremenda perseguição e descrédito no meio acadêmico.

Em 2005 uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio (EUA), publicou no PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) uma pesquisa que indicava a ausência de transgenes no milho das regiões amostradas no estudo de Chapela. Apesar deste estudo ter sido criticado como estatisticamente inconclusivo e carente de amostras representativas, ele foi largamente usado para denegrir o estudo original de 2001.

A equipe da Dra. Ávarez-Buylla se propôs a esclarecer a polêmica realizando milhares de testes em amostras de sementes e folhas de milho, e confirmou a presença de transgenes em 2001 e 2004 em baixas freqüências, inclusive em três das localidades analisadas por Quist e Chapela em 2001. Os resultados positivos foram repetidos três vezes e reafirmados por um segundo método.

No artigo publicado na edição de dezembro da revista Molecular Ecology os pesquisadores ainda apresentam uma discussão sobre as limitações de se estimar a probabilidade de detecção de transgênicos em amostras retiradas de variedades crioulas, ressaltando que os métodos utilizados podem levar a baixas probabilidades de detecção: “a não detecção de transgenes em estudos individuais não deve ser tida como evidência da ausência com base nos métodos amostrais e moleculares usados até hoje”, dizem.

Por incrível que pareça, a pesquisadora levou dois anos para conseguir publicar o novo estudo. “Ao longo de toda a minha carreira eu nunca encontrei tantas dificuldades! Houve esforços para barrar a publicação destes dados científicos!”, declarou ela.

José Sarukhan, pesquisador da UNAM e membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, recomendou a publicação do artigo no PNAS. A publicação foi rejeitada: em uma carta aos autores em março de 2008 o editor-chefe do periódico, Randy Scheman, um professor da Universidade da Califórnia, escreveu que os revisores da pesquisa apontaram que o artigo poderia “ganhar excessiva exposição na mídia devido a questões políticas ou ambientais”.

Allison Snow, uma das pesquisadoras da equipe que publicou o artigo de 2005 desmentindo a contaminação, publicou uma nota complementar no mesmo número da Molecular Ecology em que o estudo foi finalmente publicado dizendo que considera as análises moleculares conduzidas pela equipe da UNAM “muito boas” e que elas revelam “evidência positiva da presença de transgenes”.

“É bom ver isto”, declarou Ignacio Chapela, “mas levou sete anos!”.

Vale mencionar que o novo estudo não investigou uma importante conclusão da pesquisa original de Chapela: se os transgenes se integraram ao genoma das variedades crioulas de milho e estão sendo carregados de uma geração para outra. Álvarez-Buylla suspeita que seja este o caso, mas diz que não está interessada em enfrentar uma nova rodada de batalhas politicamente carregadas e deixará o trabalho para outros.

O que mais impressiona nesta história, entretanto, é o fato de que os transgenes conseguiram se espalhar e contaminar variedades crioulas de milho nas profundezas das montanhas de Oaxaca, assim como no estado de Sinaloa, no norte, o maior produtor de milho para consumo humano, e em Milpa Alta, na periferia do distrito federal. Como já se disse, o plantio de transgênicos nunca foi permitido no país. Além disso, 75% das sementes de milho plantadas no México são provenientes de produção própria, produzidas e selecionadas pelos próprios agricultores.

Tudo isto só comprova, mais uma vez, a tese de que a chamada “coexistência” entre lavouras transgênicas e convencionais é absolutamente impossível, uma vez que não existem meios eficazes para evitar a dispersão dos transgenes e a conseqüente contaminação das lavouras convencionais.

Com base nos resultados obtidos, os pesquisadores da UNAM concluem que os transgenes podem persistir em freqüências detectáveis nas populações de milho local e que é urgente o estabelecimento rigorosos critérios moleculares e de amostragem para o biomonitoramento de centros de origem e de diversificação de cultivos.

A situação é grave. A contaminação foi descoberta e confirmada num país em que o milho transgênico é oficialmente vetado. Ademais, após doze anos de seu plantio em larga escala pelo mundo chega-se à conclusão de que um bom método de detecção ainda deve ser desenvolvido.

Quanto tempo será necessário para que se reconheçam os danos ocasionados pela contaminação? E por quanto tempo a ciência corporativa usará de seus meios para negá-los? Até lá, o que restará fora do controle das multinacionais das sementes e da biotecnologia?

Com informações de:

- Native Corn Endangered
Latinamerican Press, Peru, 20/11/2008.
http://www.latinamericapress.org/articles.asp?art=5756

- GMO Contamination in Mexico's Cradle of Corn
Le Monde, 11/12/2008.
http://www.truthout.org/121208D

- Modified genes spread to local maize - Findings reignite debate over genetically modified crops.
Nature News, 12/11/2008.
http://www.nature.com/news/2008/121108/full/456149a.html

Corrupción transgénica al descubierto
Silvia Ribeiro
La Jornada, México, 03/01/2009.
http://www.jornada.unam.mx/2009/01/03/index.php?section=opinion&article=015a1eco


Imagem: Transgênicos por Eugênio Neves

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