NA DÉCADA DE 60
Era aí, nessa banca que, na juventude, comprávamos os jornais dominicais. Nós, que já tínhamos este hábito de leitura. A preferência era pelo velho “Correião” (Correio do Povo) e por um jornal do Rio. Em alguns momentos o “Correio da Manhã”, único jornal do país a publicar em sumplemento o diário de Che na Bolívia, ou o “Jornal do Brasil”. Esta edição com o suplemento esgotou. O JB era a grande escola de jornalismo. Depois viria o “Jornal da Tarde”, de Mino Carta. O “Estadão”, conservador e de direita, mas brigando menos com a notícia ainda mantém alguma coisa dos velhos jornais. Caderno de cultura é, ainda, caderno de cultura, no sentido tradicional. Aproveitávamos para dar uma passada na Livraria Coletânea, onde alguns de nós adquiria o último exemplar da Revista Civilização Brasileira. Discutíamos “A Perpectiva do Homem”, de Roger Garaudy; “O Conceito Marxista do Homem”, de Erich Fromm; e, “A Revolução Brasileira”, de Caio Prado Júnior. Encostados nos carros, estacionados na Praça da Alfândega, olhávamos a movimentação nos cinemas da Rua da Praia. Uma geração de estudantes do “Julinho” (Colégio Júlio de Castilgos), alguns iniciando a militância no “Partidão” (PCB) tinha como ponto de encontro dominical este local. Esta banca vendia os principais jornais do país, da Argentina, do Uruguai e publicações da Europa. Era única em Porto Alegre. Marcos Faerman (o Marcão/1944-1999), certamente, escreveria uma grande matéria sobre o fim da banca da Alfândega e a formação dos intelectuais da década de 60. Com referências e histórias de muitos que foram para a cadeia ou de alguns que morreram na luta contra a ditadura.
Sobrevivi. Sou o mesmo e sou um outro. Tenho os mesmos sonhos. Ainda vivo de utopias. Sou do tempo que caráter era tudo. Do tempo da rua da Praia do Café Rian e do morador de rua Marimba, personagem do centro. Na atualidade, os jornais do Rio já não são os preferidos. Na verdade são todos iguais, coloridos e isentos. Todos, isentos de um lado só. Tenho a assinatura de um local e de outro de São Paulo. Mas não perdi o hábito de ir buscar um edição dominical em uma banca do centro. Já não encontro militantes e intelectuais.
Acabo dando atenção a moradores de rua, prostitutas e marginais. Aos que estão à margem. A miséria está muito mais à vista e por todos os lados. E o sentimento, de um modo geral, é de absoluta indiferença. Um jornalismo de variedades e de perfumarias produz bens simbólicos, cujas subjetividades, reacionárias, hegemonizam e consagram esta indiferença. Com ou sem diploma, o que aí está é uma merda. Não faz qualquer diferença. O MST que o diga. É urgente resgatarmos um jornalismo panfletário. Que pertube o ordenamento estabelecido.
Jornalismo é subversão.[WU]
3 comentários:
Só uma correção o marimba que é o apelido do marimbondo, não era morador de rua, morava na vila teodora no bairro navegantes, estava sempre no circuito da rua da praia, ladeira e andrade neves.
Como sou um pouco mais jovem, a Banca da Alfândega, como era carinhosamente chamada, me acolheu nos tempos do Suplemento Cultural da Folha de São Paulo e dos jornais alternativos como o nosso Coojornal e os do centro do país.
Ótimos tempos, onde haviam os cinemas da praça, o café da Bruxa, o Rian, a Livraria do Globo e Porto Alegre, ainda, tinha certos ares de Montevidéu.
Tudo mudou, para pior. A miséria estampou sua face de forma escandalosamente real...
Sem saudosismo piegas, era um tempo melhor...
Ricardo Mainieri
Repassamos os comentários de vocês ao WU.
Obrigada!
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