1 de abril de 2010

Empresas de mídia não são partidos políticos


Finalmente, mesmo que através de um ato falho, alguém ligado às altas instâncias da mídia corporativa admite que ela age como partido político. A declaração foi de Maria Judith Brito [foto], presidenta da ANJ. Segunda Maria Judith:

"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo."

Tal declaração transpor o âmbito daquela associação, provavelmente, deva-se ao fato de que os jornalistas, que fizeram a cobertura do evento, não terem avaliado o quanto ela seria comprometedora para o discurso de imparcialidade que as corporações midiáticas insistem em alardear.

Vindo de quem vem, essa declaração expõe uma enorme contradição. Maria Judith defende a liberdade de imprensa como um bem que não pode se sujeitar a qualquer limitação. Mas, a mídia ao assumir o papel de partido político, acaba, ela própria, impondo os limites à tão desejada liberdade de imprensa, pois as pautas são ajustadas aos seus "interesses partidários". Assim, o distanciamento mínimo para operar a informação com credibilidade fica comprometido. O que, no final das contas, é o que estamos vendo.

Abrir o voto e identificar-se ideologicamente é tão necessário, quanto desejável, para que o público saiba quem defende o que. No caso da mídia, seja ela corporativa ou blogueira, ao agir como partido político, invade instâncias estranhas à sua função. Ela não pode representar a sociedade, simplesmente, porque seus integrantes não estão sujeitos aos periódicos processos eleitorais, que caracterizam a vida dos partidos. Isso, por si só, já define muito bem o limite da sua atuação. E temos ainda a considerar o agravante de que, no Brasil, as empresas de comunicação são, essencialmente, privadas; agem como qualquer outra empresa privada, defendendo seus interesses corporativos e estão sob controle de um grupo muito restrito.

Além do mais, as legislações que regem partidos políticos e empresas de comunicação são completamente diferentes. Se fosse possível levar até às últimas consequências as palavras da Presidenta da ANJ, poderíamos dizer que ela está incorrendo em ilegalidades diversas, tanto do ponto de vista do funcionamento das empresas de comunicação, como dos partidos políticos.
Leia também o Diário Gauche e o blog do Jorge Furtado.
Atualizado em 2 de abril de 2010 às 21h26min.
Foto Eliária Andrade/O Globo

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