11 de abril de 2010

SERRA foi claro: desigualdades sociais não têm responsáveis e nem deverão ser reduzidas


Por Sérgio Amadeu no Trezentos



O discurso do candidato a presidente José Serra chama a atenção pela falta de rigor histórico e pela rendição completa aos setores mais reacionários do país.


Absurdo 1:



Segundo a Folha de São Paulo , ao falar sobre o governo ditatorial de Cuba, Serra teria dito a seguinte aberração:“Não cultivemos ilusões: democracias não têm gente encarcerada ou condenada à forca por pensar diferente de quem está no governo. Democracias não têm operários morrendo por greve de fome.”


Parece que Serra esquece da história da democracia norte-americana que encarcera pessoas sem processos e sem acusação, e, usa prisões clandestinas (inclusive em Gantanamo) em vários países do mundo.Serra, talvez, para consolidar o apoio dos reacionários norte-americanos a sua candidatura, deixou de atacar o desvirtuamento da democracia que ocorre com atos de exceção criados por George W. Bush como o Patriot Act .Esquece que a tal democracia norte-americana tinha negros morrendo de fome até os anos 1960 e, agora tem imigrantes sendo humilhados sem direito algum na sociedade democrática americana.Como Serra estudou nos melhores colégios, ele conhece a história que estranhamente quer negar.


Absurdo 2:



Ainda segundo a Folha de S.Paulo, Serra teria atacado aqueles que denunciam as desigualdades criadas e mantidas em nosso país pelas elites:“É deplorável que haja gente que, em nome da política, tente dividir o nosso Brasil. Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma nação”.


Serra acha que é possível com um discursos esconder a miséria e a absurda concentração de renda que existe em nosso país. Ele acha mesmo que a ditadura militar não privilegiou as elites e a concentração de renda. Ele acredita que as desigualdades sociais são fruto da natureza? Obra divina?


Será que ele irá assumir o discurso de que os pobres são pobres por que nào trabalham? Que isso, Serra! Que vergonha para sua trajetória.


Serra rasga todos os consensos históricos sobre as desigualdades absurdas que se implantaram no Brasil. Serra acredita que a concentração fundiária, o coronelismo e os desequilibrios regionais são frutos do acaso?


Na realidade, Serra está dando um recado para a elite que perdeu privilégios nos últimos anos: me elejam e eu acabarei estas políticas de enfrentamento das desigualdades. Elas não devem continuar! Pelo menso, Serra é claro. Não esconde suas motivações.


Absurdo 3:Podemos ler na mesma matéria do jornal Folha de S. Paulo: “No discurso, intitulado “O Brasil pode mais”, Serra disse não investirá na disputa entre “Estados do Norte contra Estados do Sul”, “azuis contra vermelhos, amarelos contra verdes”.


Serra joga no lixo da história sua própria trajetória de combate aos absurdos interesses dos países ricos (que a literatura especializada chama de países do “Norte”), por exemplo, na luta contra as patentes de remédios contra a AIDS.


Serra estava em um dia ruim. Não se lembrou que os países ricos impuseram acordos completamente nefastos para as economias pobres. Serra esquece até que os representantes do agro-negócios pediram que o Brasil enfrentasse os subsídios que os Estados Unidos descaradamente concedem aos seus produtores agrícolas, enquanto exigem que ninguém subsidie nada. Serra esquece que os países ricos tentaram impedir a consolidação da Embraer e a venda de aviões brasileiros. Serra nem mencionou que vender produtos no exterior não é nada fácil, devido ao protecionismo dos ricos.


Lamentável, Serra diz que veio para criticar a política externa de Lula que retirou definitivamente o Brasil da condição de omisso no cenário internacional. Serra retomará a política anterior, aquela que faz-de-conta que os países ricos do Norte querem o nosso desenvolvimento.
Infelizmente, se Serra diz tudo isto logo no primeiro discurso, já posso imaginar o que fará se for eleito. Não sabia que as posições de Serra tinham se degradado tanto, que ele tornou-se uma figura tão conservadora. Isto não é bom. É lamentável, porque Serra, no passado, era visto como um político com preocupação social e que defendia um tipo de desenvolvimento nacional. Agora, não tenho nenhuma ilusão sobre a que veio o novo José Serra.

Imagem: Prof. Hariovaldo

Um comentário:

Anônimo disse...

O clima de devoção era tanto no auditório do Serra,que ele poderia ter gritado "Sieg heil",que a multidão levantaria o braço direito em resposta.