19 de julho de 2005

Ninguém é Inocente

NINGUÉM É INOCENTE

Os atuais episódios que envolvem a política brasileira, em especial o Partido dos Trabalhadores (PT), fazem-me pensar em duas coisas, a saber:

- o discurso de que o “PT é igual a todos os partidos”;

- a questão de que a prática de pagar propina é tão antiga no cenário político, que é impossível que algum político jamais tenha sabido de sua existência e, portanto, é conivente com esta, já que tal esquema nunca veio à tona.

O discurso perigoso.

Muito cuidado ao se afirmar que o “PT é igual a todos os partidos”. A pessoa que afirma tal coisa está também afirmando que TODOS OS PARTIDOS são corruptos e que ISSO É NATURAL. Acomodar-se a tal pensamento, na ânsia de criticar o PT, denota que tal pessoa não questiona o estatuto da corrupção política; aceita-a e colabora na manutenção dos partidos no poder que, sabidamente, sempre foram corruptos.

Essa tolerância por parte da população brasileira em relação à corrupção política, faz com que fique mais fácil aceitar a tese de que “todos os partidos são corruptos”, do que lutar pela idéia de “chega de corrupção”. Lembro dos meus antagonistas políticos, que costumavam chamar os petistas de arrogantes por se “acharem melhor do que os outros”. Naquele tempo, eu também acreditava que o PT era incorruptível e a minha tese era a de que jamais haviam pego corrupção nas administrações da Prefeitura e do Governo do Estado (por favor, a CPI da Corrupção no Governo Olívio foi arquivada por ter sido conduzida sem a menor sustentação, além de não apresentar nenhuma prova, atropelou as mais elementares normas jurídicas e cujo único objetivo era o de desgastar a pessoa do governador, portanto não me venham com essa conversinha). O que eles, meus antagonistas, queriam dizer com isso? Inconscientemente ou não, estavam esboçando a idéia da corrupção como um a priori político e que o PT não estaria imune.

Portanto não dá para aceitar mais este papo da igualdade dos partidos políticos pelo viés da corrupção. Está na hora de se deixar de ser tolerante com tal prática e partir para outras atitudes. Minha sugestão: nas próximas eleições, tanto a de 2006 como a de 2008, passemos a votar em candidatos que jamais exerceram cargo político em qualquer instância. Acabemos, pelo poder do voto, o estatuto da reeleição. Está na hora de iniciarmos uma moralização política. Claro, que as conseqüências serão muitas, afinal tanta gente inexperiente junta pode dar confusão, mas acredito que demore mais para a corrupção se instalar, já que a iniciativa privada pressiona muito e toda a pessoa tem seu preço (sic). Como diz sempre minha mãe, Dona Elaine, e ela não está sendo original nisso, “a pior prova do ser humano é a prova do poder”. Quem sabe dando poder a uma nova geração de políticos, com uma população intolerante à corrupção, seja o princípio de uma nova era para a política brasileira.

Ninguém é inocente

Como expus mais acima, estou convencida de que qualquer pessoa que tenha exercido cargo político até os dias de hoje, sempre soube da existência de propina. Prefiro chamar propina a mensalão. A iniciativa privada, via mídia hegemônica, quer que se bata apenas na tese do mensalão até por uma questão de sobrevivência do esquema. Imputando ao PT tal prática, ninguém discute a existência das propinas pagas todos esses anos, para que inúmeros projetos tenham sido aprovados ou não.

Isso quer dizer, prezado leitor e prezada leitora, que eu acredito piamente no seguinte: todos os projetos que detonaram a vida da população brasileira e beneficiaram meia-dúzia de gatos pingados, foi à base de muita grana. Porque nesse cenário, empresas privadas que queriam ver seus negócios atendidos, ou os políticos - que já recebem uma boa soma a título de salário para dizer sim ou não - inventaram o estatuto da propina: dependendo do preço, o projeto vira lei ou não. Que beleza, hein? Privatizações na era FHC, eleição do Severino para presidência da Câmara, reforma da previdência, CPI do Banestado em pizza, Conselho Federal de Jornalismo morre, etc. Mas não é bom falar em propina, é bom falar em mensalão e o esquema, assim, permanece inalterado. Vem outro presidente e tudo fica igual na casa da mãe joana (desculpem-me as mamães que se chamam Joanas...)

E os políticos que nunca se associaram a tal prática, acredito que não a denunciaram pela total falta de provas, ou pela total falta de picardia em armar uma ação, com o Ministério Público, e pegar alguém em flagrante. Ou então, chegarem ao Presidente Lula e lembrá-lo do número de eleitores que o elegeram, que, ao serem alertados de como funcionaria o Congresso Nacional na base de propinas, iria apoiá-lo a dar cabo à corrupção endêmica.

Como diz o Eugênio, a direita não iria aceitar que o PT, tendo chegado ao poder, para a surprea de todos, conduzindo a política econômica dentro de uma linha ortodoxa, tenha sido mais competente do que ela. O crescimento econômico está aí para demonstrá-lo. Não estava aí se encaminhando uma reeleição do Lula? E, ainda por cima, fazendo o nosso jogo? Não, não, não, não, não. Vamos montar um esquema de arapongagem, bem ao jeito fhciano e o resto da história todos conhecem. Muita coisa está por acontecer e espero que a lição de que “corrupção jamais” venha a substituir essa velha tolerância que parte da população tem pela sua existência, considerando-a “natural”. Seja pelo discurso, seja pela inoperância, ninguém é inocente.

Claudia Cardoso.
Porto Alegre, 19 de julho de 2005.

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