8 de outubro de 2006

Política e Saúde: futuro sombrio na era PSDB/PFL

A minha previsão de que a saúde em Porto Alegre iria piorar foi confirmada. Explico: em 2004, logo após a vitória do Fogaça para a Prefeitura, participei de um encontro na área da saúde, dentro de uma séria denominado "Diálogos da Cidade". Em pé, frente a um grupo de 40 pessoas, olhando para o recém eleito, lasquei: "A saúde em Porto Alegre irá piorar, porque o projeto neoliberal venceu". O público presente reclamou, tive que pedir que me ouvissem, dizendo "ouvi um monte de barbaridades até agora e fiquei quieta. Agora, terão que me ouvir". O monte de barbaridades, no meu entendimento, foi a profusão de elogios aos "novos" que chegavam e uma interminável queixa aos "velhos" que deixavam o governo municipal.

Não me sinto contente por ter acertado na previsão. Primeiro, porque senti, dentro de casa, a falta de medicamentos básicos usados pela minha mãe, os quais tivemos que comprar. Segundo, li nota publicada pelo Sindicato dos Enfermeiros do RS na qual relatava a rejeição, pelo Conselho Municipal de Saúde, das contas da Prefeitura relativas à saúde. Entre as justificativas, o aumento da mortalidade infantil por falta de vacinas nos postos. A sensação que tive, ao ler tal coisa, era a de que parecia que eu vivia na África, este continente sofrido, não em Porto Alegre.

Para quem ainda não sabe, sou transplantada de fígado há dez anos e ostomizada há quase 8. Faço uso de medicamentos especiais para o transplante e bolsa de colostomia. Como ambos são distribuídas pelo SUS, algumas dificuldades se apresentaram desde que Rigotto venceu a eleição para o Governo do Estado. A falta de medicamentos para transplantados foi quase imediata - só tratarei desta realidade, pois a coisa foi muito, mas muito mais feia. Tomei uma espécie de medicamento para rejeição em substituição ao prescrito pela equipe médica por seis ocasiões diferentes, assim como dose maior de outro medicamento para o mesmo fim, já que a proporção da minha dose não foi comprada naquele mês. Sem falar nas imensas filas enfrentadas, nas 3 ou 4 horas de espera na farmácia especial, aguardando para receber os medicamentos.

Como poucas pessoas sabem, o Governo Rigotto não aplicou 2 bilhões - bilhões, repito - de reais na saúde. O Ministério Público chiou, mas não sei o que irá acontecer, ou se alguém será responsabilizado. E quando melhorou a questão dos medicamentos, ando às voltas com os meus drenos. Pela primeira vez, em 8 anos, está faltando placas e bolsas de colostomia. Fui retirá-las num dia, os funcionários pediram que eu voltasse dois dias depois . No dia marcado, soube que fui a terceira e última a receber os equipamentos, pois o governo enviou apenas 3 daquela marca, assim como bem poucas de outra marca. Ou seja, quem chegar depois do dia 9/10 é capaz de ficar sem o material neste mês.

Sendo assim, estou preocupadíssima. Falta remédio nas farmácias públicas, sejam básicos ou especiais, sem falar no material para ostomizados. Pessoas estão morrendo em Porto Alegre e no RS pela falta desses medicamentos. Ambos governos eleitos nos dois últimos pleitos - 2002 e 2004 - possuem a mesma ideologia conservadora, de direita, neoliberal. Agora, vejo que mais um terror se aproxima da minha realidade: a eleição de Yeda Crusius do PSDB. Alguém há de lembrar, que José Serra (sanguessuga???), ministro do governo FHC, foi responsável pela lei dos genéricos e pela ampliação do leque de medicamentos especiais. Sim, isto é verdade. Assim como é verdade, e pouca gente - que lê jornal e vê TV - sabe, que o Governo Lula repassou mensalmente o dinheiro destinado a esta rubrica e o Governador Rigotto a diluiu entre o leque "saúde". Resta saber, se o cidadão Germano Rigotto irá responder em juízo pela ilegalidade. Assim, não faltou verba federal para a saúde no nosso estado e na nossa cidade. Faltou aplicá-la devidamente - e ainda falta.

Prevejo um futuro incerto e sombrio para mim. Penso que, em breve, terei que comprar as minhas placas e bolsas de colostomia, uma fortuna, que eu, apertando daqui e dali, terei que dar um jeito. Talvez, eu precise ir ao hospital todos os dias para tomar o meu medicamento para rejeição daqui a algum tempo, já que medicamento para transplante tem venda proibida no Brasil, além de ser outra fortuna. Por enquanto, vivo a minha vida boa e normal, mas não sei se isto será igual em breve. O que mais me espanta nessa história toda é o silêncio da classe médica frente a esta realidade. Sei das discussões travadas em gabinete, mas isso não se reflete numa manifestação pública da categoria, clamando por melhores condições na saúde. Talvez, pelo constrangimento de pertencer a uma classe eleitora deste projeto de direita.

Por fim, lembro de um diálogo com um médico, sabedor de minhas preferências políticas, após a derrota de Raul Pont para a Prefeitura de Porto Alegre. Indagada, respondi ironicamente: "Doutor, a saúde do estado vai muito bem. Quando a saúde da Prefeitura estiver melhor ainda, nós conversamos". A saúde está cada vez pior e, pelo visto, ficará muito mais ainda, levada pela mão do povo gaúcho, caso Yeda Crusius e Paulo Feijó - PSDB/PFL - venham a ser eleitos dia 29 de outubro. Não errei em 2004 com o Fogaça.
Torço para que seja desmentida desta vez, caso se confirme, a meu ver, mais esta desgraça.







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