6 de novembro de 2006

Recordar é viver I

Em tempo de grande preocupação com a liberdade de imprensa, defendida com unhas e dentes pelos 61% dos eleitores do Lula e não por aqueles representados pela Abert e ANJ, é bom reler artigo publicado pelo Marco Aurélio Weissheimer em 2003.
Ainda mais, para quem acredita que censura só existe em países ditatoriais. O texto abaixo faz referência... aos EUA!!! Este país, que está envolvido com o Saddam até o pescoço e que aplaude o enforcamento!
Enfim, vamos a ele:

http://agenciacartamaior.uol.com.br/agencia.asp?coluna=reportagens&id=1084
O QUE NÃO É NOTÍCIA
Marco Aurélio Weissheimer - 19/11/2003

Porto Alegre - A Universidade Estadual de Sonoma, na Califórnia, divulgou seu ranking anual dos 25 temas mais censurados no último ano pela grande imprensa norte-americana. Intitulado Projeto Censura 2004, o estudo de 400 páginas inclui análises acadêmicas sobre o comportamento e as tendências dos meios de comunicações nos EUA. Partindo da premissa de que as grandes corporações, que concentram a propriedade dos meios de comunicação no país, praticam a censura, a autocensura e a omissão, Carl Jensen, professor de estudos sobre mídia, lançou o projeto em 1976. Desde 1996, estudo é coordenado pelo sociólogo Peter Phillips, responsável agora pela elaboração do ranking dos 25 temas mais censurados, que constituem o que ele chama de "apagão informativo". O Projeto Censura começou a ser feito ainda nos anos do caso Watergate - há 27 anos, portanto , quando alguns acadêmicos e jornalistas pressentiram que a mídia estava ocultando informações sobre o escândalo da invasão da sede do Partido Democrata, que acabou derrubando o então presidente Richard Nixon.
A censura informativa imposta pelo governo Bush a partir dos atentados de 11 de setembro em Nova York e da invasão ao Iraque domina o cenário atual, aponta o estudo. Os grupos eventualmente dispostos a furar o bloqueio têm receio de fazê-lo, pois temem prejudicar seu acesso às fontes do Pentágono e da Casa Branca, onde possuem escritórios próprios e instalações para transmitir imagens de TV. Além disso, as grandes corporações que estão envolvidas na indústria da guerra e do petróleo têm seus negócios ramificados também no setor da mídia.


Os temas censurados
Cada versão anual do Projeto Censura é transformada em um livro. A editora Seven Stories, de Nova York, já publicou dez volumes anuais, traduzidos em diversos idiomas. O relatório mais recente teve uma tiragem de 25 mil exemplares. O Projeto Censura é completamente ignorado pela grande mídia. Segundo Phillips, em seus 27 anos de existência jamais mereceu uma linha no The New York Times. As análises e investigações sobre a nova ideologia conservadora de dominação global que impera hoje na Casa Branca foram o tema mais importante e mais censurado no período estudado, segundo a avaliação dos pesquisadores. Os outros temas destacados pelo Projeto Censura foram os seguintes:
Segurança nacional versus direitos humanos e civis nos EUA;

EUA suprime ilegalmente páginas de informe sobre o Iraque;
Os planos de Rumsfeld para provocar os terroristas;
Esforços para fazer os sindicatos desaparecerem;
Acesso cada vez mais restrito à tecnologia de informação;
EUA violam numerosos tratados internacionais;
Bush utilizou armas de destruição em massa contra seu próprio povo;
No Afeganistão, EUA priorizam financiamento de grupos paramilitares à "fundação da democracia"; O novo colonialismo na África;
EUA implicado no massacre de talibãs;
Governo Bush esteve por trás do fracassado golpe militar na Venezuela;
Desafios da personalidade oculta das corporações;
Os refugiados indesejados: um problema global;
O Exército dos EUA está em guerra contra o planeta;
O Plano Puebla-Panamá e a ALCA;
O monopólio de emissoras de rádio do Clear Channel atrai críticas;
A reforma florestal ameaça o acesso aos bosques públicos;
Dólar versus euro, outra razão para a invasão do Iraque;
Pentágono incrementa contratos militares com empresas privadas;
Políticas de austeridade para o Terceiro Mundo: logo chegam a uma cidade perto de você;
A reforma da assistência social não preservou rede de seguridade social;
A crise da Argentina alimenta o crescimento do cooperativismo;
Ajuda dos EUA a Israel alimenta ocupação repressiva na Palestina;
Corporações condenadas recebem favores ao invés de castigos.

Crescimento do monopólio
Trabalharam na elaboração do informe anual 90 professores e estudantes de sociologia, que identificaram 300 reportagens censuradas em uma lista de 700 propostas. O grupo avaliou o conteúdo das matérias e realizou um monitoramento dos temas abordados pelas mesmas nos grandes meios de comunicação. A partir desse método, chegou ao ranking dos 25 temas censurados. Muitas das reportagens censuradas só foram divulgadas fora dos EUA.
Segundo o estudo, a liberdade de expressão e de informação a que aspiram os cidadãos não é a mesma proclamada pelos grandes monopólios midiáticos. O relatório denuncia que a Comissão Federal de Comunicações está suprimindo as já escassas regulamentações federais que controlam timidamente o negócio da comunicação nos EUA desde os tempos de Franklin Delano Roosevelt. Hoje, as grandes empresas de mídia enfrentam cada vez menos obstáculos para acumular jornais, estações de rádio e de televisão, o que está provocando o fechamento dos pequenos veículos e o crescimento do monopólio.
Esse processo não é exclusivo dos EUA, ocorrendo também na maioria dos países da América Latina. O estudo cita o caso do Chile, onde a companhia Claxon (ex-Ibero American Media Holdings), de propriedade do venezuelano Gustavo Cisneros (que também possui a cadeia hispânica Univision, nos EUA), é proprietária do Canal ChileVisión e das rádios Corazón, Pudahuel, Rock&Pop, FM Dos, Futuro, Concierto, FM Hit e Imagina. Nos EUA, o monopólio mais notório é o da corporação Clear Channel, do Texas, que acumula cerca de 1.500 emissoras de rádio no país e tem presença em outros 65 países.

Internet em perigo
A principal fonte de pesquisa do Projeto Censura para identificar os temas mais censurados pela grande imprensa são os meios alternativos e independentes, pequenas publicações, rádios, estações de TV e sites espalhados por todo o país. A Internet desempenha aí um papel fundamental. A partir do crescimento da percepção, junto à opinião pública mais informada, da existência de um boicote sistemático promovido pela grande mídia sobre a guerra no Iraque, a Web tornou-se uma fonte imprescindível para saber o que não estava sendo dito pelos grandes jornais e redes de televisão. Em função dessa crescente importância, o Projeto Censura 2004 adverte que as grandes empresas que monopolizam o acesso à rede estão começando a fechar o acesso à tecnologia da informação.
A concentração de propriedade abriu espaço para o controle cada vez maior do acesso à rede, dos sistemas de cabo, de telefonia e de comunicação via satélite. As empresas proprietárias dos grandes provedores, informa o estudo, estão controlando a velocidade de acesso a seus sites, podendo bloquear conteúdos e mesmo negar serviços a domínios que considerem perigosos. As companhias telefônicas operam na mesma direção, estabelecendo controles principalmente nos serviços de banda larga. Por meio da alta de preços desses serviços, colocam em risco a sobrevivência de sites alternativos sem fins lucrativos e de pequenos negócios realizados pela Internet. Os distribuidores de banda larga, como a America Online-Time Warner, favorecem seus próprios servidores, absorvendo outros menores. Em um futuro próximo, adverte o estudo, os pequenos servidores ficarão reduzidos a um número ínfimo.
Mais informações sobre o relatório podem ser encontradas no site do projeto:
www.projectcensored.org. Com informações da Argenpress.info e do site do Project Censored.


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