3 de novembro de 2006

Resposta a Guilherme Fiuza

Numa das listas de Internet da qual faço parte, li o post de Guilherme Fiuza intitulado Imprensando a Imprensa no blog "No Mínimo".
Deixei o comentário abaixo, escrito com o Eugênio Neves. Foi o de nº 738. Não entrei na comparação entre os Presidentes Hugo Chávez e Lula, pois senão a coisa ficaria maior ainda.

Neste país, pode-se falar mal do Presidente da República, de políticos, da polícia, dos empresários, de gente pobre, de sem-terra e por aí a fora.Agora, quando se critica a mídia, ou melhor, quando a chama à sua responsabilidade social, aí se fabrica uma comoção pública!!! Desde quando que, no Brasil, temos uma mídia à altura de uma ordem republicana, democrática?Não sei em lugar vive o Guilherme Fiuza, mas não deve ser no BR. Pois se fosse, saberia qual a estrutura midiática que temos. No campo das concessões públicas de rádio e televisão, são 9 famílias que detêm o oligopólio das comunicações, além de possuírem ilegalmente propriedade cruzada: rádio, tv, jornal, telefonia, portal de internet. Some-se a isso, negócios na agricultura, no setor imobiliário, no setor bancário. Tudo isso podendo ser de apenas uma família!Então, onde está o contraditório típico de uma sociedade que se pretende democrática? Em que mídia encontro contraponto, quando leio na Veja, por exemplo, que o Lula tem dinheiro na Suíça e leio, na mesma matéria, a própria revista fazendo a resslava de que não tem como provar isso? Ou ainda afirmar que um partido político recebe dinheiro do narcotráfico e que também não tem provas? Em qualquer país onde vigore a lei e os donos da mídia estejam sob o seu império como qualquer cidadão, o “jornalista” responsável por tais acusações estaria na cadeia.É fundamental que se estabeleça a diferença entre o que é informação fidedigna e calúnia, diferença que o seu Civita e o Fiuza não conseguem estabelecer. Além do mais, as empresas de comunicação alinham-se descaradamente ao campo da direita, mas se mostram, cinicamente, à opinião pública, como se não tivessem lado ou partido, que são “isentas” e “imparciais”. Talvez o Fiuza acredite nisso. Na Europa, por exemplo, os jornais representam nitidamente correntes políticas e abrem o seu voto. O leitor jamais comprará gato por lebre.E por que ter uma opinião sobre a péssima qualidade da mídia que aí está será uma ameaça a ela, que mamou nas tetas da ditadura, mama nas tetas do Estado via verbas publicitárias e não tem a decência de estar a serviço da comunidade e da democracia? Quando fica escancarado o comportamento mafioso da mídia, e estas eleições demonstraram muito bem isso, e começam a surgir vozes exigindo seriedade e democratização das comunicações, tal coisa é denunciada como um atentado à liberdade de expressão, quando é justamente o oposto!Eu me apavoro, quando vejo jornalistas defendendo os seus patrões e os seus empreguinhos. Nas redações, estão todos amordaçados pela pressão dos editores-chefes que, por sua vez, desempenham muito bem o papel de capachos dos seus patrões. A Veja deitou e rolou em cima do Lula, e tentou forjar a mesma mentira com a Polícia Federal. Quebrou a cara e agora tenta convecer a opinião pública de que está sendo vítima de perseguição política. O caso é muito simples: acostumados a inventar calúnias, estão tendo que provar o que afirmaram. E se não provarem, deverão ser processados.Um jornalista que se preza conhece muito bem os princípios que norteiam a profissão. Opinião não é notícia. Especulação não é verdade factual. Quando não se tem como provar, não se pode publicar. Quando se critica a mídia brasileira, não estamos falando de qualquer mídia. Estamos falando de uma mídia que forneceu viaturas para transportar presos a serem torturados na operação OBAN (Folha de SP), que manipulou a notícia da Diretas Já em SP e o debate do Lula com o Collor (Rede GLobo), casos clássicos registrados nos anais do jornalismo mundial.O que temos a defender é gente séria como Mino Carta, José Arbex Jr., o pessoal da Carta Maior, da Nova-e, Brasil de Fato e tantos outros, que fazem das tripas o coração para levar ao público leitor de revista, jornal, portal de Internet notícia de qualidade, fundamentada, com fonte, não este monte de mistificação que é a Veja, a Globo, a RBS (aqui no RS), etc, via mentira deslavada, omissão sem-vergonha e manipulação escandalosa das informações.É importante que as pessoas tenham a percepção de que é preciso recuperar a credibilidade da imprensa brasileira e isso passa necessariamente por ater-se à verdade factual, pela transparência sobre seu alinhamento ideológico-editorial, pela auto-crítica e postura ética.
A manifestação do Fiuza é uma tentativa clara de intimidar e cercear uma discussão fundamental e necessária sobre a comunicação social no país a bem da democracia.

Claudia Cardoso

Coordenadora do Comitê RS -
FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação)

Eugênio Neves
Ilustrador e cartunista gaúcho

Comentário de Claudia Cardoso — 2/11/2006 @ 6:18 pm

4 comentários:

Flávia D. disse...

Ótimo texto, ótima explanação...adorei esse blog..sempre que puder irei visitá-lo.

Anônimo disse...

Incompreensão costumaz de quem, ao invés de fazer por si próprio, quer "democratizar" para si, por meio estatal, o que os outros criaram por iniciativa própria.

Dialógico disse...

João, cometes um erro crasso, ou ages de má fé. Vc está confundindo compromisso público com interesse privado, está confundindo liberdade de imprensa, com liberdade de empresa. Ainda mais, quando a inicitiva privada (só nos lucros) opera sob concessão pública de radiodifusão. Leia mais sobre isso no nosso próprio blog.

Claudinha disse...

Com relação aos próprios méritos, antes fosse! O que nós temos é uma iniciativa privada grudada nas tetas do estado, operando verdadeiros cartórios à base de incentivos fiscais, isenções de impostos e, no caso particular da mídia, gordas verbas publicitárias estatais.