19 de janeiro de 2010

EUA ocupam o Haiti

Casa Grande e Senzala do mesmo lado

Obama aproveita a tragédia ocorrida no Haiti para fazer ocupação militar naquele país. E como ficam as "forças de estabilização" do Brasil nessa situação toda? Ficarão sujeitas ao comando estadunidense?

Do blog da Redação NovaE:

Lá vão os canalhas de novo

16/01/2010

O país mais pobre do Ocidente já foi o mais rico da América.

Só uma visita a sua história conseguiria resgatar sua posição pioneira. Pouco após a Revolução Francesa, em 1804, o Haiti declarou-se independente dos colonizadores franceses. Em 1791, o líder negro Toussaint L’Ouverture havia chefiado uma revolução de escravos que iniciou a extinção da escravidão no país, chamado então de Pérola das Antilhas. Mas os demais países, e mesmo os chefes latino-americanos das revoluções de independência, deram as costas ao país, com medo do contágio de sua revolução de escravos. O ‘pai da pátria’ Thomas Jefferson, por exemplo, tinha um belo discurso sobre a questão, mas era, ele mesmo, proprietário de escravos.

Assaltado até 1947 pela França, o Haiti foi sujeito a uma ditadura das mais assassinas de que se tem notíca na história humana, a de Duvalier, o Papa Doc. Depois dele veio o filho, Baby Doc. Ficaram 30 anos, pilharam toda a assistência mundial fornecida ao país. Foram apoiados pelos Estados Unidos da América, como aliados contra o comunismo. Mataram algumas dezenas de milhares de cidadãos com sua polícia sinistra, os Tonton Macoute.

O terremoto praticamente concentrado sobre a capital de 3 milhões de habitantes, 80% na miséria, vai desdobrar-se em outras piores conseqüências. A carência de tudo já vem transformando um precário equilíbrio social em aberta lei de selva: luta-se por comida, bens vendáveis, qualquer coisa. Epidemias são realidade palpável.

Perante esse quadro, o cara da Casa Branca (a expressão é dele para nosso digno presidente, e por isso adoto-a para ele) organiza uma “ajuda humanitária” cujo carro-chefe, coordenado pelo Pentágono e pelo seu militar Comando Sul, e anunciado oficialmente, compõe-se de base de 9 mil tropas. Fazem parte, conforme o prof. e ensaísta Michel Chossudovsky (dispensa-se tradução):

The amphibious assault ship USS Bataan (LHD 5) and amphibious dock landing ships USS Fort McHenry (LSD 43) and USS Carter Hall (LSD 50).

A 2,000-member Marine Amphibious Unit from the 22nd Marine Expeditionary Unit and soldiers from the U.S. Army’s 82nd Airborne division. 900 soldiers are slated to arrive in Haiti by January 15th.

Aircraft carrier, USS Carl Vinson and its complement of supporting ships. (arrived in Port au Prince on January 15, 2010): USS Carl Vinson CVN 70

The hospital ship USNS Comfort

Several U.S. Coast Guard vessels and helicopters

USS Carl Vinson

The three amphibious ships will join aircraft carrier USS Carl Vinson, guided-missile cruiser USS Normandy and guided-missile frigate USS Underwood.


USS Normandy

O Itamaraty já ensaia protestos pela ocupação militar do cenário da tragédia, e exige que toda e qualquer ajuda seja administrada pela ONU, sob cuja tutela se encontra a presença militar brasileira no país. O chanceler Amorim reclama do fato de agentes dos EUA já terem assumido unilateralmente o controle do aeroporto da capital. Que passa agora a fazer parte dos paranóicos controles aplicados no país de origem (afinal, a fictícia Al Qaeda poderia aproveitar-se da situação…). O Estadão, edição internet de 17 de janeiro, informa (negrito meu):

“Não foi só o Brasil que reclamou. Dois aviões do Programa de Alimentação Mundial da ONU tentaram pousar no aeroporto e foram desviados. Os EUA estão priorizando o pouso de seus aviões com tropas e equipamentos e de aeronaves para retirar americanos e outros estrangeiros do país”.

O jornal francês Libération, no mesmo dia, informa que o secretário de Estado para a Cooperação, Alain Joyandet, protestou contra Washington após um avião francês que transportava um hospital de campanha ter sido impedido de pousar na capital haitiana.

O papa acaba de receber as credenciais do embaixador de Cuba perante a Santa Sé. Veja aqui: http://resistir.info/cuba/discurso_papa.html

Em sua saudação ao novo embaixador, declarou:

“Cuba, que continua a oferecer a numerosos países sua colaboração em áreas vitais como a alfabetização e a saúde, favorece assim a cooperação e solidariedade internacionais, sem que estas estejam subordinadas a mais interesses que a própria ajuda às populações necessitadas.”

Mas esta lição não encontra ouvidos entre os criminosos de guerra e assassinos profissionais de povos que se revezam no poder nos Estados Unidos da América. O governo euamericano enxerga apenas a chance de realizar uma gigantesca operação de relações públicas para mostrar ao mundo e à América Latina sua “nova” política de reaproximação.

Já a secretária Hillary Clinton posou ao lado do presidente e sugeriu a instituição do toque militar de recolher para ‘facilitar’ os trabalhos. Pena que não explicou para onde iriam se recolher as centenas de milhares de pessoas e famílias que estão vivendo na rua, em barracas e tocas improvisadas. Na mesma ocasião, ms. Clinton também sugeriu mais poderes ao presidente e aos Estados Unidos, ignorando e passando por cima do mandato da ONU e das tropas brasileiras no Haiti.

Para a tragédia, soluções militares. Que tal eliminar as pessoas e acabar de vez com o problema? Soldados armados não faltarão para as execuções. Os corpos seriam cremados; a gasolina ficaria na conta do governo haitiano.

(Chico Villela)

Adendo: http://www.informationclearinghouse.info/article24416.htm- O analista político e repórter investigativo Greg Palast relata a sua visão sobre a predominância para o Pentágono e o governo de BHObama da ênfase militar e de segurança ANTES e ACIMA da ajuda humanitária. E revela fatos como os da demora na ação (igual ao pós-furacão Katrina em New Orleans, em que o governo mandou a tropa de mercenários Blackwater para proteger as propriedades ANTES da ajuda humanitária) e do navio Carl Vinson, com 2.000 marines, mísseis, helicópteros e NENHUM equipamento ou mantimentos para os haitianos.

http://www.countercurrents.org/lantier180110.htm Aqui o leitor encontra outro texto que esclarece a posição militar do governo BHObama sobre o Haiti, com absoluto desprezo a respeito dos cidadãos.

Leia também [em espanhol]: A Natureza Agressiva do Imperialismo no Haiti

Imagem: Reuters
Atualizado em 19/01/2010 às 3h16min.

2 comentários:

Eduardo Simch disse...

Eu sou Dialógico e não tem pra ninguém, aqui é a síntese da blogosfera, sem falar no discernimento e inteligência da Claudinha e do Eugênio. Se esse blog chegasse a todo Brasil, o salto seria gigantesco!
É óbvio que a luta continua, mas o combate até aqui já é vitorioso!!
Simch

Anônimo disse...

Camaradas do Dialógico, o motivo principal de os EUA ocuparem o Haiti, militarmente, está no controle da reconstrução do país. Quanto consomem por dia, mês ou ano, cerca de 15 mil gringos, armados até os dentes? Quem irá pagar seus gastos? Quanto custarão as obras de reconstrução e os materiais necessários? A lógica do capital e suas grandes corporações é implacável: negócios lucrativos e ininterruptos na paz, na guerra e nas catástrofes naturais - nestas, melhor ainda, porque o manto sagrado da ação humanitária encobre a falcatrua. Dinheiro dos povos de quase todo o mundo, inclusive para compor os financiamentos dos agiotas da Rua do Muro, não faltará.