30 de outubro de 2006

Algumas considerações

Após o termino da contagem dos votos no RS, fui buscar informações sobre o desempenho do Olívio Dutra no Estado. Aprendi, que são 25 as regiões eleitorais, das quais ele venceu em apenas sete a saber:

Celeiro:
OLÍVIO PT 43.796 50,34% 0 0,00
YEDA PSDB 43.207 49,66% 589 1,34

Centro-Serra:
OLÍVIO PT 21.594 51,13% 0 0,00
YEDA PSDB 20.642 48,87% 952 4,41

Grande Porto Alegre:
OLÍVIO PT 807.910 50,73% 0 0,00
YEDA PSDB 784.506 49,27% 23.404 2,90

Missões:
OLÍVIO PT 82.527 53,61% 0 0,00
YEDA PSDB 71.405 46,39% 11.122 13,48

Produção:
OLÍVIO PT 140.187 50,46% 0 0,00
YEDA PSDB 137.654 49,54% 2.533 1,81

Sudoeste:
OLÍVIO PT 66.826 52,85% 0 0,00
YEDA PSDB 59.613 47,15% 7.213 10,79

Vale do Rio dos Sinos:
OLÍVIO PT 260.867 50,21% 0 0,00
YEDA PSDB 258.642 49,79% 2.225 0,85


Dados fornecidos pela Justiça eleitoral em 29/10/06 - Tabela: candidato/nº de votos/% votos/diferença/% diferença

Esta situação precisa ser levada em consideração daqui há quatro anos. Nas demais regiões, a diferença de votos pró-Yeda foi pequena, mas ela venceu por ter conseguido emplacar votos nas restantes 19. Está na hora de mobilizar os núcleos regionais daqui para frente.

Em Porto Alegre, segundo o Correio do Povo p.8, o Olívio venceu com 50,26% dos votos, mas Yeda teve 49,74%. O sinal de alerta já está dado: não pense o PT que será fácil vencer a eleição para a Prefeitura de Porto Alegre em 2008. Também é necessário pensar na estratégia de campanha desde já.

A turma da RBS, que adora divulgar pesquisa eleitoral manipulada, comportou-se às vésperas do segundo turno. Não quis sofrer outra campanha de desgaste e perder mais assinaturas. Divulgou pesquisa IBOPE verossímel.

Olívio Dutra e Jussara Cony, um enorme abraço. Graças a vocês, o Partido dos Trabalhadores ganhou fôlego no estado, mas está na hora de mobilização estratégica no campo da comunicação. Já é o terceiro pleito que o povo gaúcho vota em candidatos embalados pelo marketing das frases de efeito e sem conteúdo, associado ao anti-petismo. Precisamos encontrar o antídoto para atacar este veneno.


Foto de Rossana Lana - Lula Presidente



29 de outubro de 2006

Blindagem midiática

Eugênio Neves

Inicia, hoje, a blindagem midiática ao Governo Yeda.
O desenho acima foi adaptado às novas circunstâncias.
Quem viver, verá!

Os bravos jornalistas da Globo

Encaminhei o post abaixo, via endereço eletrônico, aos amigos e às amigas. Recebi uma resposta inspiradíssima que, melhor do que ficar no espaço de "comentários", merece destaque pelo seu teor.
Valeu, Ayrton!

Cláudia:

Mais uma vez o Brasil se curva e rende homenagem aos bravos jornalistas da Globo, todos estes impolutos guardiões da sacrossanta liberdade de imprensa e devotos do superior dever de bem informar. É mais uma destas cartas que saem da vida para entrar na história, todas elas emanadas das redações das Organizações Globo nos momentos mais críticos do Brasil e da missão jornalística. Quem não lembra de manifestos de igual bravura da lavra dos valorosos e intimoratos jornalistas globais quando as Organizações Globo desprezavam o jornalismo para atacarem o governo Vargas? Ou quando pediam a deposição de João Goulart? Ou, em seguida, quando a Globo aderiu de corpo e alma ao regime dos coturnos e das baionetas? E então -- e este é imperdível -- quando os ousados escribas globalizados e globalizantes das rádios, dos jornais e da TV Globo reagiram com indignação cívica e destemor quase suicida à cobertura torpe do comício das Diretas Já, hoje um clássico da manipulação da informação? E por falar em manipulação valeria a pena, quem sabe, relembrar a forte manifestação dos jornalistas globais frente à brutal distorção do debate Collor x Lula, em 1989, na edição dos telejornais da casa de Roberto (Citizen Kane) Marinho. Se não bastasse valeria ainda citar as várias missivas à nação assinadas pelos destemidos funcionários globais diante da linha subserviente e chapa branca das Organizações Globo durante a eleição e os oito anos do Governo FHC, ajudando na tarefa de sepultar pilhas de CPIs. E se mais ainda quiséssemos poderíamos mencionar o punhado de epístolas, éditos, manifestos e cartas abertas brotadas da pena indômita dos jornalistas submarinhos para contestar a contínua, histórica e implacável criminalização dos movimentos sociais, do campo e da cidade, por parte da cobertura da Rede Globo. Mas, raios, por que não lembramos, afinal, de nada disso? Alzheimer chama? Talvez não lembremos pela singela razão de que tais cartas, manifestos e quetais nunca existiram. Notável a coragem destes notáveis (e não tão notáveis) da Globo. Na Globo, tudo é tão vigiado e pasteurizado que até o protesto é patronal. É uma forma de felicidade: é bônus sem ônus. É um pouco parecido com o Arnaldo Jabor que, nos anos FHC, aparecia na tela da Globo com sua gesticulação feérica, com caras e bocas do imaginário das barricadas de 1968 mas cujas palavras eram pura adulação ao Governo FHC. Foi quando o Jaguar, ex-Pasquim, de forma inapelável, definiu a personalidade jaboriana com rara precisão e ironia: "É o rebelde a favor". É isto que é este pessoal da Globo: rebeldes a favor. Mas não se poderia, cá entre nós, se esperar muito mais de figuras que, no dia do passamento do patrão, queimaram os manuais de redação -- mais uma vez -- para, num campeonato de bajulação funerária, poderem chamar Roberto Marinho nos jornais da casa de "nosso pai"..


Um abraço

Ayrton

Globo na defensiva

Os funcionários da Rede Globo, abaixo-assinados, vêm a público, de forma emocional, denunciar jornalistas que fizeram críticas à atuação desta empresa no caso do atraso da notícia sobre a queda do avião da Gol. É público e notório que esta notícia foi relegada a um segundo plano, para que a edição do JN pudesse dar destaque à divulgação das fotos do dinheiro apreendido pela PF e que seria usado para comprar um dossiê contra José Serra.

É preciso ser muito ingênuo para aceitar, sem críticas, o tal abaixo-assinado. Como bem demonstrou Raimundo Pereira em reportagem publicada na revista Carta Capital, a divulgação das fotos foi um bem montado esquema para prejudicar diretamente a campanha de Lula. A repercussão desta reportagem, feita de acordo com os bons critérios do jornalismo investigativo, coisa rara na grande imprensa, desnuda o comportamento da Globo e da sua equipe de jornalistas neste episódio. Isto obrigou o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo Ali Kamel a escrever um longo artigo, onde tenta se
justificar.

Agora, a própria equipe de jornalismo também vem a público com este intuito. É preciso lembrar a estes profissionais, que o esquema das fotos foi denunciado de "dentro da casa" pelo jornalista
Luiz Carlos Azenha em 18/10/06 nos mínimos detalhes. Assim, fica muito difícil de acreditar que não houve segundas intenções da Globo no atraso da divulgação da queda do avião, como quer fazer crer este grupo de jornalistas. Tal notícia tiraria o impacto da divulgação das fotos pelo JN e minimizaria o efeito que a Globo desejava provocar na opinião pública com esta matéria.

Em se tratando da Rede Globo, tudo é possível. Não podemos nunca nos esquecer, que foi esta empresa que promoveu manipulações que se tornaram casos clássicos no meio jornalístico brasileiro, tais como o comício das Diretas Já em São Paulo e o debate entre Collor e Lula. Desta forma, não se está sendo injusto ao lançar suspeição sobre o comportamento dessa empresa. Os profissionais, que nela trabalham, precisam entender que pagam pelo ônus de ter seu nome vinculado à Rede Globo. O que espanta é que esses profissionais, conhecendo a linha editorial desta empresa e sem poder de incidir sobre ela, lançam-se voluntariosamente na defesa dos seus patrões.

É preciso levar em conta também um novo fenômeno que tomou impulso considerável nestas eleições: a enorme quantidade de informações disponíveis na Internet, principalmente de blogues e sítios independentes, que se transformaram em uma alternativa na busca de informações com qualidade, quebrando, de certa forma, o oligopólio midiático brasileiro. Apesar da inclusão digital não atingir toda a população brasileira, a rede veiculou informações críveis que, de uma forma ou de outra, terminaram por influenciar um determinado segmento da população que teve acesso a ela. Estas duas manifestações recentes, de Ali Kamel e da equipe de jornalismo da Globo, demonstram que esta empresa não consegue mais manter aquela soberba que sempre a caracterizou. Os funcionários da Rede Globo precisaram se defender e defender a empresa na qual trabalham. Isto ficou bem evidente.

A livre circulação das informações no espaço cibernético, onde realmente está acontecendo jornalismo de qualidade e democrático, pois permite a rápida interação com o público leitor, quebrou a lógica de que tudo que é veiculado na grande imprensa é a expressão da verdade.

Eugênio de Faria Neves e Claudia Cardoso.
29/10/06

27 de outubro de 2006

Aos indecisos na eleição do RS

Esta mensagem enviei aos meus contatos do Orkut.
Para alguma coisa, esta comunidade virtual serve.

Momentos decisivos para o povo gaúcho. Eu me dirijo apenas às pessoas indecisas quanto ao voto.
Sempre chamaram o Partido dos Trabalhadores de autoritário.
Mas é que tem gente que confunde a experiência de uma ditadura que ficou mais de 30 anos no poder pela força, de um partido que ficou 16 anos no poder pelo voto direto.
São duas situações completamente diferentes: a primeira, ditatorial, sem a opinião/participação do povo. A segunda, democrática, com o povo decidindo qual partido iria governar pelo voto secreto.
Outra idéia falsa é dizer que a esquerda divulga "idéias antigas". A História não nos deixa na mão.
O Liberalismo clássico já surge com Aristóteles na Grécia Antiga, 384 a. C.
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles), mas Adam Smith foi a primeira pessoa a assumir, publicamente, a liberdade de comércio em 1765 (( http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo_cl%C3%A1ssico). Vejam há quanto tempo o liberalismo existia!!!
O Marxismo (mais conhecido como sendo "esquerda) surge em torno de 1840 ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo#Origem). Estamos em 2006, é só fazer as contas - menos de 200 anos.
Os liberais sempre acusaram a esquerda de autoritária. Só "esqueceram", muito convenientemente, que eles sempre apoiaram e conviveram perfeitamente com as ditaduras no mundo, entre elas, a do Brasil. Aqui, nunca existiu comunismo como existiu na URSS. Mas teve ditadura!!!
Trazendo essa discussão para a nossa realidade: o BR inteiro está de olho no RS.
Aguarda esta eleição com enorme expectativa: ou elege a representante da direita, neoliberal,
que usou de artifícios para esconder o seu passado, ou elege o representante que o honra, com orgulho de sua trajetória como homem e como político de esquerda, com tradição democrática por ter sempre chegado ao poder pelo voto?
Deixo, aqui, um exemplo típico de como a direita, herdeira da ditadura, age, quando o assunto é eleição direta pelo voto popular:

http://birutadosul.blogspot.com/2006_10_27_birutadosul_archive.html

Pense nisso.



26 de outubro de 2006

Gente preconceituosa

Inspirada no S., cidadão que exerce cargo respeitável, que mandou tomar na região dos glúteos um sujeito "altamente politizado", em pleno aeroporto de Curitiba e em alto bom som, pois a criatura puxou assunto com ele e só manifestou críticas preconceituosas ao Presidente Lula e nesse tom S. recusava-se a conversar com o dito cujo, resolvi dar um basta ao W e B.
Percebi, que paciência tem limite. O meu chegou. Como educadora, sempre tive o maior respeito por pessoas analfabetas, mas àquelas que a sua condição social colaborou para tal flagelo. Quando se lê Weisshemer, Emir Sader, Boaventura de Sousa Santos, Flávio Aguiar, os professores Osvaldo Biz, Pedrinho Guareschi e muitos outros autores pela Internet, quem tem escolaridade e computador em casa tem condições de se informar mais e melhor.
Assim, dirigi-me mais uma vez aos dois. Não os mandei tomar lá, tal qual o S. fez, porque tenho certos pudores, não sou de dizer palavrão. Mas não poupei adjetivos. Após enviar a mensagem do post abaixo, pedindo que me esquecessem, W e B continuaram a me enviar seus lixos despolitizados.
Afrontada por ter sido desrespeitada no meu desejo de não ler mais seus nomes no meu serviço de correio eletrôncio, fiz mais duas tentativas de chamá-los à razão - coisa mais inútil, como ficou comprovado na resposta baixo.

Néscios.
Com gente preconceituosa não há argumento mesmo, então façamos assim: EU NÃO ENVIO MAIS MSGS A VCS (não adianta, pra burrice não há rémédio, já disse Requião).Por outro lado VCS NÃO MANDAM MAIS MAIL ALGUM PARA MIM, coisa que já deveriam ter feito, pois além de burros, são analfabetos - escrevi aos dois que me esquecessem.Se eu receber 1, mas 1 e-mail de vcs, inclusive resposta a esta, farei queixa dos dois na política anti-spam. Tenho todas as msgs de vcs registrada e posso provar que, depois da minha msg, aonde eu dizia para me esquecerem, vcs dois continuaram a me enviar msgs preconceituosas, descabidas, lixo despolitizado em desrespeito ao meu candidato escolhido - coisa que jamais fiz do Alckmim. TODAS as msgs encaminhadas por mim a vcs dois ignorantes, foram críticas de gente que expôs sua opinião na Internet, devidamente assinadas e localizadas, não este monte de merda anônima que vcs me enviaram.Combinado? Pois ficaremos iguais: se eu encaminhar outra msg além desta, vcs poderão reclamar de mim, mas se eu receber mais 1, resposta a esta inclusive, farei queixa de vcs, já que ambos desconsideraram o meu pedido de que me esquecessem - devidamente registrado, datado e de fácil comprovação. Claudia Cardoso.

Um desses dois, que NÃO ENTENDEU/ATENDEU o/ao meu pedido, instou-me a procurar um psiquiatra. Na mesma hora, fiz queixa da criatura ao seu provedor. É como disse o S.: com gente preconceituosa, não há diálogo possível.










O bode expiatório das eleições


Pelo visto, os marqueteiros têm outra função nesta eleição, além de transformar políticos em caixas de sabão em pó.
desvirtuando o sentido da política e do debate.
Na eminência da derrota da direita, eles cumprem a função de bodes expiatórios. Ontem, foi o Álvaro Dias (PSDB/PR) e, hoje, o ACM (PFL/BA), acusando os marqueteiros pelo fracasso da campanha do Alckmim.
O curioso é que, em nenhum momento, os dois mencionam aquilo o que é, no final das contas, determinante na política:
um projeto e propostas consistentes.
Reconheço que fórmulas marqueteiras vencem eleições, mas a sua eficácia está diretamente relacionada à despolitização do eleitorado - o RS que o diga.
O Lula está vencendo a eleição, apesar de toda a campanha midiática e marqueteira movida contra ele. Mas que não se iluda a esquerda. As fórmulas marqueteiras continuarão vencendo eleições. Não é pelo fato do eleitorado estar reconhecendo o trabalho de Lula neste momento, que isso seja garantia de que continuará votando no PT.
Basta aparecer algum marqueteiro com chamadas de campanha do tipo "manter o que está bom, mudar o que está ruim", "está na hora de mudar" e uma "cara nova", que o eleitorado estará sempre disposto a dar um voto de confiança, porque, afinal de contas, o PT "já teve a sua chance".


Eugênio Neves

22 de outubro de 2006

Resposta à direita

Farta de receber mensagens de uma conhecida contra o Lula pelo viés da corrupção, que só lembrou de mim nessas eleições, e de um outro que fez a mesma coisa, respondi nos termos abaixo.
É claro que seus nomes serão preservados. Relendo a mesma, deveria ter feito a correção ortográfica, mas a indignação foi tamanha, que optei por deixar a carta tal qual foi enviada. Além do mais, fui extremamente, mas extremamente simplista (ou simplória) em distinguir comunismo de liberalismo, porém a ocasião exigia: não se pode perder tempo com conceituação com parte da classe média, é preciso usar a sua linguagem idiotizada.
Então, aí vai!

W e B

Talvez, vcs não consigam ler este texto, já que ambos são a encarnação de uma classe média idiota, burra e, até, canalha. Pelo que vcs notaram, não tenho mais paciência com este tipo de gente como vcs, cuja miopia fode com o futuro do meu filho.
Mas seria interessante vcs perceberem em como são massa de manobra de VEJA, RBS, GLOBO e afins. Não sou melhor do que ninguém, mas nunca foi segredo que sou uma mulher de esquerda. E, sendo de esquerda, consigo fazer a relação dialética das coisas. Não me pauto pelo pensamento único liberal, onde o mundo é cor de rosa, onde todos têm as mesmas chances e outras empulhações do gênero. Se vcs criticam o comunismo como querendo nivelar as pessoas por baixo, eu critico o liberalismo por manter sempre as mesmas pessoas para baixo. Com a diferença, de que eu percebo que não podemos igualar as pessoas num mesmo patamar, mas vcs não enxergam a injustiça de ralar com os outros, enquanto estão numa boa.
Além disso, o desprezo pelo trabalho de alguns é algo: como o Lula nunca trabalhou, dona B? Ou ser operário não foi trabalho? Ou ser líder sindical não é trabalho? Ou ser político não é trabalho? A tua ignorância do que significa cada coisa até me dá nojo. E como tu não sabias que o Lula foi preso político? Como assim ele nunca foi preso?
Enfim, assumam, os dois, de uma vez por todas: são de direita, são conservadores e são, acima de tudo, anti-petistas. Esse papo que o voto contra o PT diz respeito à corrupção, para quem vota no PSDB, ou é ignorância ou é má fé. No caso de vcs dois, é má fé. Ou vão tentar me engrupir que não sabiam da corrpução no governo FHC? Que não sabem da corrupção no governo Alckmim? Ou a Yeda não é candidata pelo PSDB e PFL, cujo partido tem figuras como ACM? Que papo é esse de não votar em partido que tem corrupto????
Assumam a sua posição ideológia. É mais bonito! É mais honroso! E não me venham com esse papo de que são de centro, porque é mentira. As pessoas que se dizem de centro sempre caem para a direita na hora do pega para capar, então, só existem duas opções: ou se é de esquerda ou se é de direita. E ponto.
Portanto, façam um exercício de honestidade uma vez na vida. Leiam esse artigo logo abaixo. Quanto mais não seja, por se tratar de uma pesquisadora do MIT, essa instituição que direitas adoram, porque têm status!!!E me esqueçam. Só enviem msgs, quando estiver escrito "sou de direita" e meu voto não tem nada a ver com corrupção! Daí, poderei até ter um pouco mais de respeito por vcs.
Claudia Cardoso.


Notas:
1. Na penúltima frase, eu havia escrito "Portanto, seus bostas, façam um exercício..." Mas retirei a expressão, já que tenho um quê de esperança de que o W leia o artigo. Já a B, tenho absoluta certeza que não.
2. Não conseguindo encontrar o link do artigo enviado aos dois - EU JÁ VI ESTE FILME: ELEIÇOES PARA PRESIDENTE NO BRASIL (2006) - disponibilizei-o abaixo.

EU JÁ VI ESTE FILME: ELEIÇOES PARA PRESIDENTE NO BRASIL (2006)

EU JÁ VI ESTE FILME: ELEIÇOES PARA PRESIDENTE NO BRASIL (2006)

Maria Helena Moreira Alves, PhD, Ciências Políticas

A autora é escritora e conferencista internacional. Com mestrado e doutorado em Ciência Política, do MIT, seu mais importante livro State and Opposition in Military Brazil (Texas University Press, 1984), publicado no Brasil em 1985 pela Editora Vozes, e re-editado em 2004 pela EDUSC, de São Paulo, com o título de Estado e Oposição no Brasil (1964-1984), é considerado um clássico da história do Brasil neste período. Maria Helena Moreira Alves é também autora de mais de 30 artigos sobre a América Latina publicados em revistas especializadas dos Estados Unidos e Europa.

Quem viveu no Chile na época da eleição do Allende, ou conhece bem a história do Chile, deve estar sentindo, como eu, uma sensação de "dejá vu". Pois é. Eu já vi este filme. Durante a campanha para Presidente no Chile, em 1970, praticamente todos os meios de comunicação falavam que Salvador Allende, o candidato da Unidad Popular - coligação de partidos de esquerda - iria dividir o país entre ricos e pobres, iria exilar os mais ricos, expropriar toda a propriedade privada da classe média, inclusive suas casas e apartamentos em Santiago, e levaria o país ao caos comunista. Também disseram, sem cessar, que Allende era alcoólico, e profundamente corrupto.

Os jornais, rádios e a televisão mostravam pilhas de dinheiro que supostamente roubado pelo Allende e seus assessores. Pelas escolas do Chile foram mostrados filmes com crianças sendo levadas à força para a União Soviética. Assustaram a classe média, mas com isso tudo, não adiantou nada. Allende venceu a eleição no dia 4 de Setembro de 1970. Mas, como ganhou com muito pouca diferença, de acordo com a legislação chilena na época, o Congresso Nacional deveria votar para decidir qual dos dois candidatos mais votados seria o Presidente. Foi então que aconteceu o impensável. René Schneider, Comandante em Chefe das Forças Armadas, e defensor da Constituição do Chile, foi emboscado por um grupo de homens armados no dia 24 de outubro de 1970. Levou mais de 15 tiros. Morreu dois dias depois no Hospital Militar de Santiago. A imprensa inteira colocou a culpa no Allende e seus aliados. A crise quase levou o Congresso a não referendar sua posse como Presidente da República. Mas, afinal, foi descoberto que tudo tinha sido armado pela CIA dos Estados Unidos que financiou um grupo de extrema direita, da Patria y Libertad, para realizar o atentado. E o Congresso aprovou a posse de Allende.

Muitos anos mais tarde, com a desclassificação de documentos secretos da CIA, ficou amplamente comprovado que também a campanha da imprensa tinha sido orquestrada e financiada pela CIA. Inclusive com notas e artigos diretamente preparados por seus agentes e "implantados" na imprensa, em jornais prestigiosos e, supostamente, "independentes e neutros" como o El Mercurio. E os "fatos", tão explorados na época, como o seqüestro de crianças para serem enviadas à União Soviética, e as pilhas de dinheiro roubadas pelos aliados de Allende, tinham sido montagens elaboradas nos gabinetes da CIA.

Henry Kissinger, então Secretário de Estado dos Estados Unidos, declarou abertamente que os Estados Unidos não poderiam deixar um país como o Chile se transformar em território comunista só porque "o povo irresponsável tinha votado majoritariamente em um Presidente socialista." E, declarou Kissinger, "uma revolução de pele escura" não podia florescer pelo perigo que representava o caminho para o socialismo pelo voto. Não pelo Chile, pequeno e pouco importante país dentro dos esquemas de controle imperial, mas sim, como falou abertamente Kissinger, durante uma conferência em MIT, à qual assisti pessoalmente, "pelo exemplo que seria para outros países, entre os quais a França e a Itália."

Espero que ninguém seja assassinado no Brasil para que joguem a culpa no Lula. E acho que não chegariam ao ponto de mostrar filmes de criancinhas sendo mandadas quem sabe para onde hoje em dia. Aliás, fica difícil para eles, já que a União Soviética deixou de existir. Mas nem por isso os Estados Unidos deixam de se meter nas eleições em outros países. O George Bush declarou que o "Eixo do Mal" na América Latina está entre Cuba, Venezuela, Argentina e o Brasil. Agora adicionaram a Bolívia a este "Eixo do Mal". A reeleição do Lula para Presidente da República tem um significado importante na luta pelo controle regional da América Latina. A destruição do caminho de integração regional latino-americana, em contraposição ao ALCA, ou aos tratados bi-laterais (TLC), nos quais os Estados Unidos têm clara vantagem comercial, é importante item na agenda da política externa norte-americana. Que não se enganem os que pensam que Bush está por demais ocupado no Iraque para pensar na América Latina. Hugo Chavez o tem desafiado. E, o Lula também. Afinal, o Brasil, durante o governo do Lula, foi chave na formação de um grupo internacional de países aliados contra os interesses dos Estados Unidos na ONU e, principalmente, na Organização Mundial do Comércio. E este grupo, o chamado "Grupo dos 20", chateou a tal ponto que afinal as negociações na OMC foram deixadas de lado, sine die. Poderíamos dizer, sine die não, apenas até que pudessem derrotar politicamente os que ousavam enfrentar os países dominantes com propostas de comércio que favoreciam os países mais pobres.

Então, que quero dizer com a idéia de que os Estados Unidos estão se metendo nas eleições do Brasil? Não é a toa que estudei tanto no MIT ciências políticas. Justamente nos anos da intervenção norte-americana no Chile, na República Dominicana, na Guatemala, em Granada, depois na Nicarágua e El Salvador. Nestes tempos, como estava "entre amigos" no MIT, tive acesso a muitos documentos importantes e de estratégia política eleitoral. Uma das propostas estratégicas, hoje amplamente empregada em vários países da América Latina, tem o nome de "Guerra de Baixa Intensidade", doutrina de controle político-militar que inclui a chamada "Guerra Psicológica". Foi usada primeiro no Chile, não somente em 1970, mas principalmente depois que Allende tomou posse como Presidente, para tentar barrar o crescimento dos partidos da Unidad Popular no Congresso, em 1973. A estratégia política consiste em quatro partes:

1. A desconstrução da imagem do político que pretendem derrotar. Isso quer dizer, na prática, a destruição pública de tudo que a pessoa representa. Deve ser apresentado como corrupto, rodeado de assessores que desviam dinheiro público e se apropriam de propriedades do Estado. Também, ensina a doutrina, deve ser enfatizado que o político a ser "desconstruído" representa enorme perigo politicamente para seu país e até para o mundo. Deve ser destruído pessoalmente com campanhas que o mostrem como fraco, como bêbado e até como traidor de mulheres. No caso do Allende chegaram a forjar uma foto falsa, estampada em jornais, do Presidente "transando" com sua secretaria no chão do Palácio da Moneda. Novamente, espero que nossa Primeira Dama Marisa não venha a sofrer tanta humilhação como a pobre esposa de Salvador Allende, Hortensia Bussi de Allende, sofreu. Pedimos aos leitores, se não acreditam no que estou falando, que dêem uma olhada na internet na extensa bibliografia sobre esta época do governo de Salvador Allende no Chile e também nos documentos secretos agora desclassificados da CIA. Leitura informativa que também mostrará casos muito semelhantes na República Dominicana, e na Nicarágua, quando da eleição que pôs fim na Revolução Sandinista com a vitória de Violeta Chamorro nas eleições de Presidente de 1990. Podem ver também eventos mais recentes na mesma Nicarágua, novamente "ameaçada " com a possível vitória eleitoral de Daniel Ortega, ou na Venezuela com tudo que fizeram, e fazem ainda, para derrubar o incômodo Hugo Chavez. Casos claros de "desconstrução" de políticos que são considerados "não-desejáveis" por Washington.

2. Na estratégia política chamada de "Guerra Psicológica" se usa a imprensa e outros meios de comunicação. Todos sabemos que na verdade não existe a tão laureada e aclamada "imprensa livre e independente" no mundo atual. Se é que algum dia existiu. Todos os meios de comunicação são empresas particulares, algumas delas são gigantescos monopólios pertencentes a uma só família. O caso do El Mercurio do Chile, da família de Agustín Edwards, do jornal La Prensa, da família Chamorro na Nicarágua, e da nossa tupiniquim Organizações Globo (radio, TV e jornais), da família Marinho. Controle familiar também é a regra no O Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo. E muitos outros veículos da imprensa escrita. No caso das rádios e televisões locais quase todas são fruto de concessões entregadas pelo Estado. No Brasil a maioria pertencem a poderosas famílias políticas que as usam abertamente para defender seus interesses. Na chamada "grande imprensa internacional" as influentes NBC, CBS e CNN norte-americanas são multinacionais e quatro outras grandes multinacionais de comunicações dominam o conhecimento do mundo. Sendo particulares, naturalmente atendem aos interesses individuais de seus donos, ou , no caso das empresas multinacionais, das classes dominantes dos seus países. Não podemos esperar que sejam "independentes e neutras", que realmente mostrem os "dois lados da história" e que apóiem posições políticas que podem ser prejudiciais aos seus interesses econômicos.

Portanto, a estratégia de "desconstrução" é altamente eficaz. "Guerra Psicológica" é o termo usado em ciências políticas e nos documentos politico-militares dos Estados Unidos que se referem à Guerra de Baixa Intensidade.

3. A Guerra Psicológica também envolve a criação de "fatos novos". Cria-se um fato novo, como o caso do assassinato do General René Schneider no Chile, ou até, para lembrar aos leitores, o caso do seqüestro do empresário Abílio Diniz no Brasil. E a culpa é colocada, novamente utilizando todos os meios de divulgação das notícias, no político ou nos partidos aliados inimigos. No caso do Abílio Diniz, em 1989, a culpa foi colocada no PT. Até bandeiras vermelhas e panfletos da campanha de Lula para Presidente estavam espalhadas pelo esconderijo do empresário e foram "encontradas" e expostas em todos os meios de comunicação dias antes da eleição presidencial. Não importa que depois se tenha descoberto que o seqüestro foi planejado e levado a cabo por um grupo de chilenos do MIR que pensavam angariar fundos. As eleições já tinham passado e Lula foi derrotado, com muita influencia do escândalo feito na imprensa com o seqüestro do empresário. Os verdadeiros responsáveis pelo seqüestro foram presos, mas o fato foi muito pouco divulgado.

Nos dias atuais, o famoso "dossiê" contra candidatos do PSDB parece em realidade um fato construído propositadamente. Na minha opinião, foi brilhante da parte dos opositores do Lula. Afinal, se tudo foi preparado, contaram com ou a conivência ou, no mínimo, a estupidez dos próprios apoiadores do Lula. Golpe de Mestre. Tiro no pé, no mínimo. Mas, se mais tarde, for revelado ao público que nem tudo era como parecia, não importa. Afinal, será depois das eleições que se descobrirá a verdade. Se for antes então falham, como no caso do assassinato do René Schneider. No nosso caso, hoje, ainda antes do segundo turno, já está transparecendo que essa história do "dossiê" está mais complicada do que parecia. Hoje já está claro que o Gedimar Passos, que foi preso com o dinheiro da suposta compra do dossiê, não é nada filiado ao PT. Ainda mais, de acordo com seu testemunho na Policia Federal e sua defesa apresentada ao Superior Tribunal Eleitoral. Nem conhecia o Freud Godoy, assessor do Lula que a imprensa queimou tanto. E Gedimar Passos ainda afirma em depoimento ao Supremo Tribunal Eleitoral, na representação entregue dia 10 de outubro de 2006 no TSE, que o Freud Godoy, que foi chave, por ser assessor direto do Lula, não tinha nenhuma vinculação com a suposta compra do dossiê. Não importam os fatos. Como diria Tancredo Neves, o que importa é a interpretação dos fatos que foi dada por toda a imprensa escrita e eletrônica. E, no caso, o efeito desejado foi alcançado. O Lula não ganhou no primeiro turno e o quadro está armado para a verdadeira "desconstrução" visando a vitória no segundo turno.

Levei um susto quando vi as fotos do dinheiro espalhadas na televisão. Voltei para trás. Será que estou em 2006 ou em 1970? Chile ou Brasil? Muito importante para a análise dos fatos e do período eleitoral que vivemos no Brasil é conhecer em que consiste o que podemos chamar da "quarta pata" do processo de Guerra Psicológica, dentro da Doutrina da Guerra de Baixa Intensidade. Esta consiste na utilização política de pesquisas de opinião e também de pesquisas eleitorais. Não estou falando da minha cabeça não. Documentos sobre a Doutrina da Guerra de Baixa Intensidade, na qual está incluída a chamada "Guerra Psicológica" como parte do processo de intervenção em eleições, no nosso caso na América Latina, estão abertos ao público e se encontram em bibliotecas de grandes universidades norte-americanas. Gostaria de encorajar todos os leitores a pesquisar estes documentos assim como as eleições passadas em outros países, que já mencionei, em momentos históricos em que estava em jogo dois projetos políticos claros: Um de interesse dos Estados Unidos e outro popular, visto pelos Estados Unidos como altamente perigoso para seus interesses. Principalmente na América Latina a história está cheia destes exemplos. Na época atual a intervenção é mais sutil, através do controle dos meios de comunicação e de formação de opinião pública. Mas, certamente me podem dizer com dúvidas, trata-se de pesquisas com alto nível científico. Claro que elas têm um alto nível científico. Por isso mesmo são eficazes, responderia eu a esta dúvida. Se não fossem vistas pelo público em geral como altamente cientificas e isentas , não teriam suficiente grau de credibilidade. Credibilidade pública, é essencial para que sejam instrumentos úteis na luta política para transformar a realidade e mudar um quadro político desfavorável.

Neste ponto gostaria de lembrar duas famosas frases. A primeira foi pronunciada pelo político, grande raposa mineira, Tancredo Neves: "Na política não importam os fatos. O que importa é a interpretação dos fatos". Este é, na realidade, o lema dos cientistas políticos e assessores de campanhas eleitorais pelo mundo a fora. A segunda frase que cabe lembrar, foi pronunciada por um professor de estatística que tive no MIT, considerado um dos mais importantes professores e estatísticos do mundo. Ele abriu seu curso de "Estatística para as Ciências Sociais" com um comentário que jamais esqueci e que me formou enquanto cientista política, ciente do que representa a "ciência exata" das estatísticas em ciências sociais: "Lembrem-se sempre, vocês, que vão aprender os segredos da estatística. A estatística não é uma ciência exata, como a matemática ou física, apesar do que dizemos todos. O importante é saber que a estatística é o que o estatístico INCLUI OU EXCLUI de suas análises e perguntas". Por outra, depende da interpretação dos fatos, como Tancredo Neves tão bem falou apesar de não ser um famoso professor de estatística do MIT. Portanto, a "ciência exata" das pesquisas de opinião e das pesquisas eleitorais são também fruto de interpretação e do que se incluiu ou excluiu de consideração. O que quer dizer que são úteis para a manipulação política. Muito úteis. Tanto mais porque são altamente consideradas e gozam de um alto grau de credibilidade pública. Aliás, no meio de ciências políticas, naturalmente "off the record", se fala abertamente que as pesquisas eleitorais "fazem" os resultados eleitorais. Guerra Psicológica. O povo gosta de votar em cavalo que está ganhando a corrida. Em cavalo manco ninguém aposta.

Então, em conclusão, o quadro grave que se pode formar é a manipulação das pesquisas para que os dois candidatos fiquem primeiro muito longe, depois vão chegando mais pertinho, mais pertinho, mais pertinho.... até que se forma o famoso "empate técnico". Fundamental o "empate técnico". Por quê? Porque neste quadro de expectativa popular de "empate técnico" tudo pode acontecer. Não é necessário recorrer a exemplos de nossos pobres países latino-americanos para demonstrar isso. Basta pedir aos leitores que analisem o que aconteceu no próprio centro do império. Nos Estados Unidos com a primeira eleição de Bush , na Florida. Irregularidades tantas que causou um verdadeiro escândalo no país supostamente "mais democrático do mundo". Mas, devido ao "empate técnico" das pesquisas de opinião e das pesquisas eleitorais, que ninguém ousava desqualificar. O próprio Partido Democrata desistiu de questionar os resultados da eleição para Presidente, e Bush ganhou de maneira altamente suspeita e levou porque a opinião formada de que era tão pertinho a corrida que "poderia ser." O difícil é provar que tudo foi manipulado.

O exemplo mais recente que gostaria de ressaltar é o do México. O que aconteceu nas eleições do México, no dia 2 de julho de 2006? Os dois principais candidatos representavam projetos diametralmente opostos. Um, Felipe Calderón Hinojosa, do Partido de Acción Nacional (PAN), representava a continuidade da política conservadora do que era Presidente, Vicente Fox, e de seu aliado dos Estados Unidos, George Bush. O outro, López Obrador, do Partido de la Revolución Democrática (PRD), representava uma mudança drástica na política Mexicana, talvez histórica, de socialismo democrático e de governo popular apoiado em amplos movimentos sociais. As pesquisas de opinião e eleitorais oscilaram tremendamente, ora dando vitória a um candidato , ora dando vitória a outro. O candidato das forças populares, López Obrador, esteve na frente por pouquíssimos pontos, no final da campanha. Dentro da famosa "área de erro" , ou seja, os tão falados "dois pontos para mais ou para menos". Quando, ao final, o candidato conservador Felipe Calderón ganhou as eleições com uma diferença mínima de 0,58% dos votos válidos (Calderón teve 35,89% dos votos e López Obrador teve 35,31% dos votos). Como tudo estava já "dentro da margem de erro" foi muito difícil exigir que se contasse novamente os votos apesar das inúmeras amostras de irregularidades nas eleições. E López Obrador partiu para a luta pela recontagem dos votos, colocando o povo na rua. Hoje o México está imerso em uma das maiores crises político-institucionais de sua história recente. Um Presidente, que foi declarado eleito pelo Tribunal Superior Eleitoral, e outro "Presidente", considerado pelas massas populares, como o verdadeiro Presidente "de fato". E o que assumiu legalmente como Presidente está virtualmente impedido de governar, não tendo a mínima legitimidade exigida por um processo eleitoral limpo e claro.

Porque enfatizo neste artigo o caso do México? Que tem a ver com a nossa situação política atual no Brasil? Tem a ver e muito. Se as pesquisas de opinião começarem a oscilar, cada vez com menos pontos entre os candidatos Lula e Alkmin, temos formado um quadro potencialmente perigoso com a opinião pública formada para um "empate técnico". E , neste caso de "empate técnico", a possibilidade de fraude eleitoral é enorme. Diria que a possibilidade de fraude eletrônica fica difícil de resistir.

Senão vejamos: O nosso sistema de urnas eletrônicas é altamente frágil, apesar do que podem nos assegurar os grandes especialistas em informática. Existem tantos pontos de fragilidade e tanta dificuldade para que os partidos possam fiscalizar os resultados que realmente é preocupante. Antes de escrever este artigo conversei com vários especialistas em informática e de segurança das urnas eletrônicas. Perguntei o que uma cientista política pergunta, não me importando com os detalhes da informática. Por exemplo: Como é feita a inserção do disquete de sistema, a principal segurança de cada urna, que grava tudo que acontece nela desde o momento que é ligada. É chamado de "carga da urna" , o "log do sistema da urna", o "Flash Card" em que o disquete com o sistema é inserido na urna e lacrado na presença de fiscais dos partidos políticos que assinam o lacre e a ata. Excelente. O problema é que isto é feito em centenas de locais centrais, e dificilmente todos os partidos têm fiscais capacitados em informática suficientes para averiguar se o disquete que está sendo inserido realmente corresponde ao do sistema de carga. Ainda assim existem outras fragilidades: A inserção do sistema e o lacre das urnas é feito em todo o Brasil na véspera do dia das eleições. As urnas passam a noite nos locais centrais aonde foi feito o lacre, guardadas por funcionários dos Tribunais Regionais Eleitorais, da Polícia Militar e até, em alguns casos, do Exército. No dia seguinte, depois de lacrada cada urna com seu "Flash Card", e assinado o lacre pelos fiscais e autoridades presentes, as urnas são distribuídas pelas diferentes seções eleitorais dos diferentes municípios do Brasil.

Vejamos os números. De acordo com dados do IBGE de 2004, o Brasil tem 5.560 municípios. O Brasil tem ao todo 125.913.479 eleitores, ou seja, quase 126 milhões de eleitores. No primeiro turno da eleição presidencial do dia primeiro de outubro de 2006, de acordo com dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral, foram apurados um total de 125.912.656 votos, representando um total de 95.996.733 votos válidos (91,5%), 2.866.205 (2,75%) de votos brancos e 5.957.207 (5,68%) de votos nulos. Todos estes votos foram digitados em 361.431 urnas eletrônicas, previamente lacradas (vejam site do TSE do Brasil).

De acordo com especialistas em fiscalização dos partidos, com quem conversei, aqui começam os problemas. Primeiro, como mencionei, existe o problema de falta de fiscais devidamente capacitados em informática para a verificação dos "Flash Cards" antes de sua colocação nas urnas eletrônicas. Além do mais, como enfatizaram, ninguém pode na verdade garantir que os lacres não podem ser rompidos, substituídos depois por outros iguais, dando margem a que os "Flash Cards" de controle sejam mudados. Toda a segurança neste caso depende da lealdade e honestidade dos funcionários do Tribunal Superior Eleitoral pelo Brasil a fora que ficam guardando as urnas eletrônicas na noite da véspera das eleições, isto é, depois de que são lacradas e antes de que sejam transportadas para as 361.431 seções eleitorais em todo o território brasileiro. Outra etapa é a transferência do disquete com os dados digitados em cada urna, isto é, os votos digitados, para os locais centrais dos TRE (Tribunal Regional Eleitoral) dos estados da federação. Perguntei então, como se asseguram de que estes disquetes contendo os dados não são trocados no caminho da central de informação aonde todos os dados de todas as seções serão computados em cada estado? Novamente o mais importante aí é a honestidade dos funcionários que manejam os disquetes e os transportam, com escolta militar ou da polícia militar.

Para poder fiscalizar e ter certeza de que realmente os votos de cada urna serão os mesmos que estarão sendo computados na central do Tribunal Regional Eleitoral, cada urna imprime um boletim com o total de votos de cada candidato naquela urna. Este é o único documento impresso que dispomos no Brasil. O chamado Boletim de Urna.

Para facilitar a fiscalização dos partidos políticos, depois de muito debate e consultas ao Tribunal Superior Eleitoral, uma resolução do TSE foi passada recentemente. A Resolução 22.332 do TSE, do dia 29 de junho de 2006, foi feita em resposta a uma consulta do PDT, consulta número 7.796 de 2006. Esta resolução do TSE determina a impressão de até 10 Boletins de Urna (BU) por seção eleitoral, que são destinados aos partidos políticos e coligações. Com a posse deste documento impresso de cada urna os partidos políticos podem comparar os dados impressos aos que foram digitados e constam dos Relatórios da Totalização, feitos nos TREs dos estados. Isso é muito bom. Na prática porém, existe uma enorme dificuldade dos partidos políticos, que dispõem de pouco pessoal especializado e devidamente capacitado, para realizar este trabalho de comprovação. Isto em um tempo absurdamente pequeno. Pela legislação em vigor no Brasil atualmente os partidos políticos dispõem de somente três dias para questionar dados antes do anúncio final dos resultados das eleições feito pelo Tribunal Superior Eleitoral. Portanto são enormes as dificuldades dos partidos políticos para fiscalizar mediante a comparação dos BU de cada seção eleitoral com os dados digitados no cômputo final dos TREs.

Não dispomos de nenhuma outra maneira de rastrear votos baseada em provas materiais. Não existem votos impressos, apenas digitais. No caso de uma disputa tão acirrada, e muito questionada, a questão de possibilidade de fraude eletrônica é profundamente preocupante.

Todos queremos uma democracia sólida, estável, baseada na legitimidade e veracidade dos votos dos eleitores. Devemos pensar melhor em como suplantar estas falhas e dificuldades, como aprimorar nosso sistema eleitoral eletrônico para que nunca tenhamos uma situação como a do México.

18 de outubro de 2006

Campanha Olívio


Estamos acompanhando a campanha do Olívio, tanto a do horário eleitoral, quanto a do comercial. Parece que o PT resolveu abandonar o discurso marqueteiro e colocar a questão política em pauta. A campanha, além de propositiva, ainda esclarece, de forma documental, a diferença gritante entre o que é a conversa fiada da direita e o que é um projeto político consistente.
No nosso modesto entendimento, a abordagem está perfeita. Os programas estão muito bons e isto parece ter colocado a Yeda na defensiva, inclusive, obrigando-a a mentir na TV, negando o que está documentado sobre a sua atuação política.

Percebemos, porém, chocados, novamente a direita valendo-se do conceito do "novo" para se apresentar à população, da mesma forma como fizeram Rigotto e Fogaça em suas campanhas. Agregue-se a isso, mais dois conceitos ao discurso despolitizado: a Yeda é "mulher" e que é preciso dar uma "chance" a ela, porque o "Olívio já teve a sua". É bom lembrar, que falta de caráter não escolhe gênero. E decidir politicamente sobre algo que incide na nossa vida a partir de "chances", o bom senso não recomenda.

Assim, o que fazer com um eleitorado como este? A questão da formação política do povo gaúcho precisa ser encarada sem mais delongas pela esquerda e, em particular, pelo Partido dos Trabalhadores, qualquer seja o resultado deste pleito.

É chegado o momento de reagir ao anti-petismo que a mídia e a direita construíram no Estado. Não podemos mais, a cada eleição, passar por este tipo de sufoco.

Eugênio Neves e Claudia Cardoso

16 de outubro de 2006

Mensagem subliminar

O que dizer das imagens abaixo? No debate da TVcom (canal 36, Grupo RBS), as imagens transmitidas formavam um "Y" com as cores do PSDB. Uma bandeira do Brasil, colocada "patrioticamente" para compor o cenário... Quanta "inocência", hein?
Alertados por um amigo, não podendo sintonizar o canal, pedimos a outro amigo que tirasse as fotos postadas aí abaixo.
Soubemos, depois, que da metade do debate em diante, mudaram o enquadramento.
Provavelmente, a reclamação foi grande e, antes que e empresa pudesse ser responsabilizada por crime eleitoral, trataram de suspender o golpe.
Ou seja, agiram naquela de "se colar, colou". Enquanto pôde, a RBS deu o seu recado.

14 de outubro de 2006

Yeda X Olívio

Ir ao segundo turno com a Yeda Crusius não pode ser considerado exatamente como uma vitória.

Se alguém tinha dúvida de que a eleição do Rigotto, em 2002, foi engendrada pela mídia, agora, fica mais do que evidente o papel que ela exerceu na blindagem do seu governo. E antes que alguém diga que ele perdeu a eleição para a Yeda, eu digo que isso é irrelevante, na medida em que foi esta mesma blindagem que permitiu que a Yeda participasse da campanha sem que o fato de que ela fazer parte do governo Rigotto fosse apontado pela mídia como uma contradição.

O surgimento da Yeda com um discurso de “oposição” ao Governo Rigotto é uma piada que se assenta em dois pilares: esta blindagem produzida pela mídia e a profunda alienação de um eleitorado que é incapaz de perceber o óbvio, ou seja, Yeda e Rigotto são a mesma coisa.

Assim como cai por terra o argumento de que a mídia não é decisiva na formação das escolhas, também cai por terra aquilo que, na minha modesta opinião, é um mito: o gaúcho é o povo mais politizado do Brasil. Esta fantasia que infelizmente pautou muitas das ações políticas no Estado, particularmente do PT, que sempre confiou na capacidade do povo distinguir entre aquilo que é discurso demagógico e o que são realizações concretas, está na base da derrota do projeto de esquerda no Estado.

Esta incapacidade do eleitorado de fazer distinções entre projetos políticos e conversa fiada já vinha se configurando há um bom tempo. O sinal de alerta deveria ter sido disparado, no momento em que os gaúchos elegeram para Presidente o Lula e para Governador o Rigotto. Depois disso, a direita vence em Porto Alegre se apropriando das realizações do PT.

Agora, chegamos ao cúmulo da decadência, onde um projeto político sério e que trouxe realizações concretas ao Estado, é derrotado pela segunda vez por um vagabundo chamamento de campanha - “União pelo Rio-grande Afirmativo”. Esta frase, que sintetiza a falência da formação política, substituída pela picaretagem marqueteira, dá bem a dimensão do ponto a que chegamos. O Governo do Rigotto, da qual Yeda fez parte, só não foi uma hecatombe por conta dos projetos que o Olívio deixou engatilhados.

Para quem souber entender essa mensagem, isso significa que um projeto de esquerda dificilmente voltará ao poder no RS, a não ser que os partidos do campo popular, e particularmente o PT, encarem com seriedade a questão da mídia e da formação política. Isso significa abandonar definitivamente as fantasias de que iremos ganhar eleições com consultorias de marqueteiros, usando a mesma linguagem e a mesma simbologia da direita.

O campo popular precisa entender que estamos na era da Informação e da Desinformação e enquanto não se apropriar dos meios de manifestar seu pensamento e a sua opinião, fazendo um contraponto direto à mídia hegemônica, nosso futuro como força política está aniquilado.

O PT levou mais de 10 anos para chegar ao poder, exerceu administrações em Porto Alegre e no Estado reconhecidas mundialmente, mas que no plano local foram sistematicamente desgastadas por uma aliança político-midiática de direita. O campo popular foi derrotado no Estado, depois em Porto Alegre e, agora, recebe a pá de cal com esta última derrota. É preciso admitir que parte da responsabilidade caiba à incompetência crônica de alguns de seus quadros pela falta da compreensão do papel da mídia como espaço político.

O envolvimento do PT nos episódios de 2005 para cá não pode ser apontado como determinante desta derrota no RS, visto que o sentimento anti-petista já estava consolidado há muito tempo. Tais episódios só vieram a reforçar este sentimento.

Constatado isso, entendemos que a primeira providência a ser tomada após a derrota é a desconstrução deste sentimento e um intensivo trabalho de formação política que faça com que o eleitor entenda o processo político, identifique-se ideologicamente e vote por afinidade ao projeto do partido.

O resultado deste primeiro turno indica que o PT precisa recuperar parte do eleitorado que já era dele, ou seja, recomeçar praticamente do zero o que nos deixa muito longe da possibilidade de vencer o segundo turno. A derrota em Porto Alegre em 2004 evidencia isso.

Como se vê, o futuro não é muito animador.



Eugênio Neves

Artista Gráfico

01/10/06


11 de outubro de 2006

A carta do Sirotsky



Leia também o post mais abaixo:
Nelson Sirostky e a amnésia conveniente

Relembrar, para não se deixar enganar

Mais uma vez a mídia corporativa se une em torno de vantagens e objetivos eleitorais e divulga uma pesquisa para o segundo turno no Rio Grande do Sul, em que se verifica uma grosseira tentativa de manipulação da opinião dos eleitores. Grosseira, pois não resiste uma simples análise, já que os votos dados aos candidatos derrotados Germano Rigotto e Alceu Collares bem como os demais, simplesmente migraram quase que completamente para Yeda Cruzius.

Pesquisas de primeiro turno:

Pesquisa do Correio do Povo ( Centro de Pesquisa Correio do Povo - 28/09)
Rigotto ..... 31,9
Yeda ..... 29,0
Olívio ..... 25,1
Turra ..... 6,9
Collares ..... 5,5
Beto Grill ..... 0,6
Roberto Robaina .... 0,5
Edison Souza ..... 0,3
Guilherme Giordano ..... 0,2
Pedro Couto ..... 0,0


Pesquiza Zero Hora (IBOPE 27/09)
Rigotto ..... 34,0
Yeda ..... 25,0
Olívio ..... 25,0
Turra ..... 8,0
Collares ..... 6,0
Beto Grill ..... 1,0
Roberto Robaina .... 1,0
Edison Souza ..... 0
Guilherme Giordano ..... 0
Pedro Couto ..... 0


Acreditamos que a única resposta que a sociedade deva dar, é a que cause o maior prejuízo financeiro a essas empresas de comunicação. Cancelar a assinatura destes jornais é uma boa atitude do eleitor, que não admite ser induzido por pilantras da mídia corporativa a votar em um candidato que não o represente, mas sim representa às próprias empresas de comunicação.

No portal
RBS Mente retiramos do texto "Seguindo pistas sobre as eleições" o seguinte:

"No Rio Grande do Sul, algo de estranho paira sobre a escalada de Yeda Crusius. O
Diário Gauche relata uma reunião comandada por Nelson Sirotky, em que este teria orientado o apoio a Rigotto no início da corrida. "A RBS marcharia com Rigotto, mas entendia importante a candidatura de Crusius como 'alternativa robusta' para derrotar a esquerda do RS".
Há um forte cheiro de armação, pois o sr. Germano Rigotto em seu pronunciamento de reconhecimento de sua derrota eleitoral, às lágrimas citou uma "traição" muito pouco comentada pela mídia. A comprovação de que a armação (traição???) contou com a participação do Presidente do Grupo RBS (e presidente da ANJ), torna o rapaz um atochador de primeira, pois desfaz sua entrevista ao Jornal Já, onde ele ele diz:
"Asseguro que a RBS jamais tentou interferir em pesquisas. Mesmo assim, as críticas nos levam a um exercício de humildade."

A pesquisa Ibope/RBS divulgada em 07/10, mostra Yeda com 68% dos votos válidos e Olívio com 32%.(
http://g1.globo.com/Noticias/Eleicoes/0,,AA1302613-6282,00.html )
Que motivo leva um dono de jornal, articular traições contra um candidato A, omitir de seus leitores que sua empresa apóia o candidato B, mas que na realidade toda essa articulação ocorreu por que o dito cujo é contra o candidato C? Talvez seja isto que Nelson Sirotsky quis dizer quando em uma entrevista comentou "o Grupo RBS fornece a informação adequada aos seus leitores." Só esqueceu de dizer, adequada a quem!

Portanto se você ainda é assinante de Zero Hora e pensa que este jornal vai mudar seu modo de ser, está redondamente enganado. Não compre e não assine Zero Hora, não compre o Diário Gaúcho; pois você estará alimentando o modo de ser desta empresa.

Mídi@ética


O Mídi@ética – movimento pela ética na mídia – surgiu da indignação de muitas pessoas com o tratamento dispensado pelo Grupo RBS durante Governo Olívio Dutra (1998 a 2002). Some-se a isso, a constante criminalização dos movimentos sociais. A culminância se deu, quando a RBS publicou pesquisa eleitoral manipulada pelo IBOPE no jornal Zero Hora e divulgou pesquisa de boca-de-urna, na qual o candidato Germano Rigotto apresentava uma grande vantagem sobre o candidato Tarso Genro da Frente Popular. Contados os votos, a diferença do candidato vencedor, Rigotto, foi de 5%, comprovando-se a manipulação. Tal situação obrigou o diretor do IBOPE Carlos Montenegro a pedir desculpas publicamente ainda no dia 28/10/02. Agora, o povo gaúcho anda às voltas com mais suspeitas de manipulação de pesquisas eleitorais:
1. A boca de urna do dia 3 de outubro apontou Germano Rigotto e Olívio Dutra no segundo turno.
2. A diferença dos votos entre Pedro Simon e Miguel Rosseto foi menor do que o apontado.
3. Apenas a dois dias da eleição no 1º turno, Yeda Crusius empata com Olívio Dutra.
4. A última pesquisa eleitoral aponta Yeda Crusius com 68% das intenções de voto.

Alertamos a população em geral que, mais uma vez, a mídia e os institutos de pesquisa, mancomunados com o poder econômico, estão em franca campanha de favorecimento da sua candidata ao governo do estado do Rio Grande do Sul.

8 de outubro de 2006

Política e Saúde: futuro sombrio na era PSDB/PFL

A minha previsão de que a saúde em Porto Alegre iria piorar foi confirmada. Explico: em 2004, logo após a vitória do Fogaça para a Prefeitura, participei de um encontro na área da saúde, dentro de uma séria denominado "Diálogos da Cidade". Em pé, frente a um grupo de 40 pessoas, olhando para o recém eleito, lasquei: "A saúde em Porto Alegre irá piorar, porque o projeto neoliberal venceu". O público presente reclamou, tive que pedir que me ouvissem, dizendo "ouvi um monte de barbaridades até agora e fiquei quieta. Agora, terão que me ouvir". O monte de barbaridades, no meu entendimento, foi a profusão de elogios aos "novos" que chegavam e uma interminável queixa aos "velhos" que deixavam o governo municipal.

Não me sinto contente por ter acertado na previsão. Primeiro, porque senti, dentro de casa, a falta de medicamentos básicos usados pela minha mãe, os quais tivemos que comprar. Segundo, li nota publicada pelo Sindicato dos Enfermeiros do RS na qual relatava a rejeição, pelo Conselho Municipal de Saúde, das contas da Prefeitura relativas à saúde. Entre as justificativas, o aumento da mortalidade infantil por falta de vacinas nos postos. A sensação que tive, ao ler tal coisa, era a de que parecia que eu vivia na África, este continente sofrido, não em Porto Alegre.

Para quem ainda não sabe, sou transplantada de fígado há dez anos e ostomizada há quase 8. Faço uso de medicamentos especiais para o transplante e bolsa de colostomia. Como ambos são distribuídas pelo SUS, algumas dificuldades se apresentaram desde que Rigotto venceu a eleição para o Governo do Estado. A falta de medicamentos para transplantados foi quase imediata - só tratarei desta realidade, pois a coisa foi muito, mas muito mais feia. Tomei uma espécie de medicamento para rejeição em substituição ao prescrito pela equipe médica por seis ocasiões diferentes, assim como dose maior de outro medicamento para o mesmo fim, já que a proporção da minha dose não foi comprada naquele mês. Sem falar nas imensas filas enfrentadas, nas 3 ou 4 horas de espera na farmácia especial, aguardando para receber os medicamentos.

Como poucas pessoas sabem, o Governo Rigotto não aplicou 2 bilhões - bilhões, repito - de reais na saúde. O Ministério Público chiou, mas não sei o que irá acontecer, ou se alguém será responsabilizado. E quando melhorou a questão dos medicamentos, ando às voltas com os meus drenos. Pela primeira vez, em 8 anos, está faltando placas e bolsas de colostomia. Fui retirá-las num dia, os funcionários pediram que eu voltasse dois dias depois . No dia marcado, soube que fui a terceira e última a receber os equipamentos, pois o governo enviou apenas 3 daquela marca, assim como bem poucas de outra marca. Ou seja, quem chegar depois do dia 9/10 é capaz de ficar sem o material neste mês.

Sendo assim, estou preocupadíssima. Falta remédio nas farmácias públicas, sejam básicos ou especiais, sem falar no material para ostomizados. Pessoas estão morrendo em Porto Alegre e no RS pela falta desses medicamentos. Ambos governos eleitos nos dois últimos pleitos - 2002 e 2004 - possuem a mesma ideologia conservadora, de direita, neoliberal. Agora, vejo que mais um terror se aproxima da minha realidade: a eleição de Yeda Crusius do PSDB. Alguém há de lembrar, que José Serra (sanguessuga???), ministro do governo FHC, foi responsável pela lei dos genéricos e pela ampliação do leque de medicamentos especiais. Sim, isto é verdade. Assim como é verdade, e pouca gente - que lê jornal e vê TV - sabe, que o Governo Lula repassou mensalmente o dinheiro destinado a esta rubrica e o Governador Rigotto a diluiu entre o leque "saúde". Resta saber, se o cidadão Germano Rigotto irá responder em juízo pela ilegalidade. Assim, não faltou verba federal para a saúde no nosso estado e na nossa cidade. Faltou aplicá-la devidamente - e ainda falta.

Prevejo um futuro incerto e sombrio para mim. Penso que, em breve, terei que comprar as minhas placas e bolsas de colostomia, uma fortuna, que eu, apertando daqui e dali, terei que dar um jeito. Talvez, eu precise ir ao hospital todos os dias para tomar o meu medicamento para rejeição daqui a algum tempo, já que medicamento para transplante tem venda proibida no Brasil, além de ser outra fortuna. Por enquanto, vivo a minha vida boa e normal, mas não sei se isto será igual em breve. O que mais me espanta nessa história toda é o silêncio da classe médica frente a esta realidade. Sei das discussões travadas em gabinete, mas isso não se reflete numa manifestação pública da categoria, clamando por melhores condições na saúde. Talvez, pelo constrangimento de pertencer a uma classe eleitora deste projeto de direita.

Por fim, lembro de um diálogo com um médico, sabedor de minhas preferências políticas, após a derrota de Raul Pont para a Prefeitura de Porto Alegre. Indagada, respondi ironicamente: "Doutor, a saúde do estado vai muito bem. Quando a saúde da Prefeitura estiver melhor ainda, nós conversamos". A saúde está cada vez pior e, pelo visto, ficará muito mais ainda, levada pela mão do povo gaúcho, caso Yeda Crusius e Paulo Feijó - PSDB/PFL - venham a ser eleitos dia 29 de outubro. Não errei em 2004 com o Fogaça.
Torço para que seja desmentida desta vez, caso se confirme, a meu ver, mais esta desgraça.